Professores do Colégio Rio Branco refletiram sobre seus papéis como educadores negros no Brasil
A sociedade brasileira foi historicamente construída por meio da escravidão, a qual foi vigente no país por mais de 300 anos. Desde a Abolição da Escravatura, em 1888, a população negra enfrenta desafios para a garantia de seus direitos – fator que se torna evidente ao notar que o próprio racismo só foi criminalizado em 1951.
Ainda hoje, o racismo é evidente no Brasil, seja pelas agressões físicas e verbais, pelo preconceito ou pela falta de oportunidades destinadas aos negros. Apesar de representarem mais da metade da população nacional, os negros são minoria em cargos executivos e legislativos, por exemplo.
O Dia Da Consciência Negra, marcado em 20 de novembro, é uma das formas de destacar essa luta incessante e diária. No entanto, é imprescindível que todos os cidadãos estejam cientes das desigualdades e violências no Brasil, não apenas em novembro, mas em todos os meses do ano.
O Dia da Consciência Negra (20/11)
O Dia Nacional da Consciência Negra foi instituído oficialmente pela lei nº 12.519, em novembro de 2011. A data 20 de novembro foi escolhida por marcar a morte de Zumbi dos Palmares (até então líder do maior quilombo do país, situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco) por um grupo de Bandeirantes, em 1695.
A figura de Zumbi foi eleita um símbolo da luta e da resistência dos negros no Brasil em 1978, pelo Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial. Na época, os debates apontaram que o dia 13 de maio, data em que a Lei Áurea foi assinada, em 1888, representava uma falsa noção de liberdade, já que os ex-escravos não receberam verdadeiros mecanismos de assistência.
Até o momento, o Dia da Consciência Negra (20/11) não foi estabelecido como um feriado nacional. Logo, cabe ao governo de cada município defini-lo como feriado ou não. De qualquer forma, os debates devem circular em todo o Brasil e buscar uma permanência nos outros 364 dias do ano.
Ações na escola
No Colégio Rio Branco, a temática é abordada no cotidiano de forma multidisciplinar, indo além das aulas de História, as quais obrigatoriamente (pela Lei 10.639 de 2003) devem ensinar a cultura e a trajetória afro-brasileira. Por meio de diversos projetos, como o Ciclo 4 que trabalha a agenda 2030 da ONU e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, o Cotidiano em Questão (CoQuest), o Coletivo Humana Mente, entre outros, os estudantes debatem temas da atualidade, como o racismo, e são preparados para exercer uma cidadania ativa e consciente.
Nesse contexto, os educadores atuam como mediadores, estimulando as crianças e os adolescentes a desenvolverem o próprio senso crítico a respeito dos principais acontecimentos do mundo.
Relato de professores do Colégio Rio Branco
Para abordar a questão da Consciência Negra, conversamos com alguns professores negros do Colégio Rio Branco, que compartilharam suas experiências na educação e refletiram sobre a importância de debater essa pauta no cotidiano. Confira esses relatos:
Maryana Gonçalves Eiras - professora de Biologia e Ciências e gestora do Grupo REAJA, da Unidade Granja Viana
Missão na educação
Para a professora Maryana Eiras, a educação é um espaço para fazer a diferença, exercendo uma representatividade indispensável para os estudantes.
"Minha missão como educadora é promover o conhecimento específico e permitir que essas crianças e adolescentes se tornem adultos ainda melhores. Minha missão como educadora preta é ilimitada! Como afrodescendente preciso ser a diferença que não tive durante minha jornada escolar, tive pouquíssimos professores negros e isso me incentiva ser inspiração quando a temática é representatividade”, declara.
Pauta diária
“Na minha vivência e realidade o reconhecimento pela cultura, formas inadequadas e até mesmo vocabulário não são motivos para uma pauta anual, é pauta diária com carinho, respeito, reflexão, senso crítico e identidade. Desafios são diários, mas o posicionamento e a coragem nos tornam melhores!”, relata Maryana.
Impacto no futuro
Segundo a profissional, reconhecer a cultura afrodescendente e eliminar formas inadequadas de se referir ao assunto geram um impacto inegável, fazendo jus ao passado, presente e futuro da história.
“O reconhecimento não é só por mim, não é só para meus alunos negros ou não, é para meu passado, minha história e família. O reconhecimento é para o presente e consequentemente para o futuro, o nosso futuro!", finaliza.
Caio Mendes dos Santos - professor de História, coordenador de projetos do Colégio Rio Branco e coordenador do Coletivo Humana Mente
Luta e celebração constante
Conforme também comentado pela professora Maryana Eiras, o professor Caio Mendes reforça a noção de que a pauta da afro-ascendência configura uma luta diária, não exclusiva do mês de novembro.
“O mês de novembro é tempo de luta, mas a real ‘consciência’ sobre nossa afro-ascendência deve estar presente nos 365 dias do ano. No meu caso pessoal, enquanto cidadão e profissional, não há como desassociar este percurso da história”, afirma.
Consciência histórica
Para o professor, também é essencial notar o papel dos negros na construção do Brasil – fato que passa a ser nítido à medida que se estuda a História nacional.
“Quem se dedica a estudar e compreender a formação do Brasil, não pode ignorar a contribuição dos diversos povos africanos que desembarcaram forçosamente neste território e, desde então, vêm construindo este país de geração em geração. A ‘consciência negra’ é, antes de tudo, consciência histórica!”, finaliza.