Projeto do Coletivo Humana Mente está na Bienal Internacional de Arquitetura de SP

Produzido na pandemia por estudantes e professores do Colégio Rio Branco, o vídeo reflete sobre a convivência humana nos espaços coletivos

Fundado em 2013, o Coletivo Humana Mente realiza reuniões semanais, com o propósito de debater sobre temas complexos. Formado por estudantes surdos e ouvintes do 9º ano do Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio, além de professores e intérpretes de Libras, a iniciativa é uma parceria entre o Colégio Rio Branco e o Centro de Educação para Surdos Rio Branco.

Em sua atuação, o grupo busca traduzir as discussões para um produto cultural, transformando-as em arte. Recentemente, o alcance desse trabalho superou as expectativas. O projeto audiovisual “Sociedade: Lugar de Conviver” foi selecionado para a 13ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que acontecerá na capital paulista de 27 de maio a 17 de julho de 2022.

Como o coletivo chegou na Bienal?

A participação na Bienal não foi um convite ou fruto de um planejamento específico. Quando abriram a chamada pública para Produções Insurgentes na 13ª Bienal de Arquitetura, com o tema “Travessias”, o grupo, despretensiosamente, resolveu se inscrever. O resultado foi uma surpresa positiva: dentre mais de 400 inscritos, o vídeo do coletivo está entre os 23 selecionados.

“A gente nunca tem essa intencionalidade de ‘ah, vamos fazer um trabalho para chegar na Bienal’, não é isso. É ‘vamos transformar esse assunto em uma produção que toque as pessoas’. E está sendo muito bom ter esse reconhecimento. A gente nem consegue dimensionar ainda, porque a Bienal é um dos eventos mais importantes quando se fala de arquitetura”, comenta Caio Mendes dos Santos, professor de História e coordenador de projetos do Rio Branco.

Sobre a aprovação, Caio, que coordena o Humana Mente com a professora de inglês Camila Vilar Canhete, aponta que o evento valoriza o diálogo entre grupos e pessoas diversas. Nos encontros, a dupla contou com o apoio da TILS (tradutora e intérprete de Língua de Sinais) Livia Vilas Boas. Com certeza, essa preocupação com a acessibilidade e a inclusão da surdez foram destaques.

O projeto “Sociedade: Lugar de Conviver”

No primeiro ano de pandemia, estavam todos em suas casas. Quando o coletivo retomou as atividades semanais, por videoconferências, discutiram o tema “lugar”. Assim, no processo de Brainstorming, chegaram a seis subtemas: mente, corpo, casa, sociedade, instituição e geografia.

Usando esses tópicos como base, os membros do Humana Mente produziram uma sequência de seis vídeos, intitulada “Sociedade: Lugar de Conviver”. Os itens compõem um projeto, mas podem ser vistos de maneira individual. A principal temática é a convivência das pessoas na cidade, com cenas refletindo sobre o transporte público, a pandemia e o encontro entre gerações.

O formato do vídeo também é um reflexo do isolamento social. “Ele foi feito com cada um na sua casa, munido do seu celular”, explica o professor. Sobre a edição, conta: “foi quase uma colagem. A gente vai captando as cenas, e depois há uma discussão sobre o material, construindo uma linha de narração.”

O Coletivo Humana Mente e seus 4 pilares

Por ser formado por adultos (professores) e jovens (estudantes), o coletivo ganha destaque quando o assunto é colaboração. Todos estão ali para contribuir, de igual para igual. Seu segundo pilar, a autenticidade, consiste na ideia de que se aprende quando algo faz sentido para o conjunto, estabelecendo conexões com outras disciplinas, por exemplo.

 O trabalho desenvolvido foca no quesito sensibilidade, buscando trazer para os olhos do público pautas profundas, captando a atenção pela estética, forma ou conteúdo. Por fim, quanto à acessibilidade, o professor aponta que é fundamental não a enxergar como uma tarefa posterior à obra, e, sim, inserir esse objetivo em todo o processo criativo, com pessoas surdas participando do projeto, por exemplo.

Por que o trabalho do Humana Mente é tão importante?

Participar do coletivo Humana Mente carrega, nitidamente, uma importância grande para todos os seus membros. No auge da pandemia, foi um jeito de permanecer conectado e, agora, é um momento especial, de pausa em meio à rotina agitada, para falar e ouvir sobre temas relevantes.

Para aqueles que escolhem parar nas tardes de sexta-feira para conversar, podem nascer frutos maravilhosos, como o vídeo que alcançou uma conferência internacional. “Fazer parte de um evento desse porte, de uma Bienal Internacional, e ter um trabalho exposto, reconhecido, é uma marca que é muito importante - e vem celebrar os nossos 10 anos como coletivo”, finaliza Caio Mendes.

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