Diálogo em casa: por que os pais precisam construir essa ponte diariamente?

Marcia Chammas, orientadora educacional do Colégio Rio Branco, reflete sobre as interações do cotidiano, e a chamada “comunicação não violenta”

No dia a dia, é normal que, ao chegar em casa depois de um dia frustrante, os pais não filtrem totalmente o que falam na frente dos filhos. Entretanto, ao se expressar de uma forma ruim ou imediatista com a família, chateações indesejadas podem acontecer, afastando os membros daquele núcleo.

Por isso, é essencial prestar atenção em relação a como nos comunicamos, não importa qual seja a situação. Felizmente, há especialistas que se dedicam a esse assunto e podem oferecer orientações mais precisas.

A comunicação e a autopercepção

“A palavra ‘comunicação’ tem a sua origem no Latim communicatio, e sua tradução literal seria algo como ‘tornar comum’, porém foi atribuído o significado de ‘ato de repartir, dividir, distribuir’. Este termo é derivado de communis, que significa ‘algo compartilhado por vários, público, geral’”, explica Marcia Chammas, orientadora educacional do Colégio Rio Branco, que é psicopedagoga especializada em Neuroaprendizagem e Cognição.

Assim, entende-se que o ato de se comunicar não se resume apenas à fala. Essa esfera inclui as diferentes maneiras utilizadas para transmitir uma mensagem: silêncio; olhar; tom de voz; paciência (ou a ausência dela) e a postura corporal. Logo, é importante perceber o emprego de todos esses elementos, e não somente o das palavras.

Ao refletir sobre o tema, o indivíduo, instintivamente, volta o olhar para si. “O que precisaríamos falar? Quando deveríamos falar? Como deveríamos falar? Uma série de perguntas que, na verdade, nos remete a nós mesmos! Quando falamos em comunicação e em conexão com o outro, em primeiro lugar, necessariamente, falamos em autoconexão. Preciso me perceber: o que eu sinto? Do que preciso?”, aponta Marcia.

A Comunicação Não-Violenta

Existem algumas técnicas que prezam por interações mais saudáveis e eficientes, como a Comunicação Não-Violenta (CNV). O termo, que se popularizou recentemente nas redes sociais, foi criado na década de 1960 pelo psicólogo norte-americano Marshall B. Rosenberg, o qual se interessou pela natureza dos conflitos interpessoais.

A orientadora Rio Branco esclarece: “A proposta da CNV é fugir de respostas automáticas e repetitivas para os mesmos estímulos comunicacionais e passar a respostas mais conscientes, baseadas em percepções do momento, por meio da observação de comportamentos e fatores influenciadores”.

Componentes da Comunicação Não-Violenta

Facilitando a compreensão de todos sobre o assunto, Marcia Chammas sintetizou os 4 Componentes da Comunicação Não-Violenta. Confira a explicação da profissional:

  1. Observação

O que realmente está acontecendo em determinada situação?
Faça essa observação sem criar um juízo de valor, apenas compreenda.

  1. Sentimento

Qual sentimento a situação desperta depois da observação? 
Nomeie-o! É importante se permitir ser vulnerável para resolver conflitos e saber a diferença entre o que se sente e o que se pensa ou interpreta.

  1. Necessidades

Quais necessidades estão ligadas ao sentimento?
Quando expressamos nossas necessidades, há uma possibilidade maior de que elas sejam atendidas

  1. Pedido

É possível deixar claro o que se quer da outra pessoa. 
Use  linguagem positiva, em forma de afirmação, para fazer o pedido.

De fato, as relações humanas são fortemente impactadas pela comunicação. Assim, é fundamental que os canais de conexão sejam sólidos e receptivos para que cada indivíduo possa se expressar livremente. Ao aplicar os 4 componentes da Comunicação Não-Violenta, explicados acima pela psicopedagoga, as famílias terão vínculos melhor consolidados e estarão preparadas para enfrentar qualquer acontecimento.

Como incentivar a prática do diálogo em casa?

Para incentivar a prática do diálogo em casa, os pais devem estabelecer o exemplo a partir da sua própria comunicação e das suas experiências. É essencial lembrar que pessoas diferentes possuem necessidades distintas e, assim, vale observar atentamente os filhos e construir as pontes para a conversa diariamente.

Sobre essa situação, Marcia comenta: “Quando somos pais, de bebês, crianças, ‘mocinhos’, adolescentes ou jovens, ficamos meio desnorteados, sobre quais caminhos devemos seguir para nos conectar com eles a fim de ajudá-los a resolver situações de conflito diário. Quando tentamos chegar perto, choram, fazem bico, malcriações, batem portas, bufam, olham para cima, falam palavras que anteontem nunca havíamos ouvido falar, e por aí vai…”

“Achar o caminho da conexão parece impossível mas não é! Precisamos acreditar, ter tempo, carinho e criatividade para interagir com o mundo infanto-juvenil e acreditem... vamos descobrir e nos surpreender como a infância e/ou adolescência atual são muito mais legais do que imaginávamos”, finaliza. 

 

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