Halloween além dos doces e fantasias: que reflexões a data promove?

Paola Salimen, coordenadora de Inglês da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Colégio Rio Branco, explica como a data desenvolve a visão intercultural das crianças

Muito popular nos Estados Unidos, o Halloween é celebrado anualmente em 31 de outubro. A tradição costuma empolgar, sobretudo, crianças e adolescentes, que, seguindo a tradição, vestem fantasias e pedem doces na vizinhança. No Brasil, a comemoração da ocasião (também conhecida como Dia das Bruxas) é recente, mas vem ganhando força nas últimas décadas.

As brincadeiras do Halloween, associadas ao mundo das bruxas, monstros e zumbis, podem ser divertidas para os estudantes. No entanto, é importante lembrar que a data vai muito além das fantasias e decorações, sendo uma excelente oportunidade para discutir culturas diversas, inclusive a brasileira.

Surgimento do Halloween

Segundo historiadores, a origem do Halloween remete a um festival praticado pelos celtas, o Samhain. O evento, que acontecia no dia 1 de novembro, marcava o fim do verão e a passagem para um novo ano. Além disso, tinha um viés místico: o povo acreditava que as barreiras separando o mundo dos mortos e o dos vivos eram rompidas naquela data.

Para impedir os espíritos de se aproximarem, as celebrações incluíam grandes fogueiras e uma fartura de alimentos, celebrando as colheitas que durariam para todo o inverno e homenageando os finados. Na época, os celtas iam de porta em porta pedir ingredientes para organizar a festa, muitas vezes de máscaras para não serem identificados por seres malignos (monstros).

Após as áreas que praticavam o Samhain (Irlanda, Escócia e País de Gales) terem sido cristianizadas, o papa Gregório III transferiu a festa do Dia de Todos os Santos (inicialmente comemorada em maio) para o dia 1 de novembro, para que as tradições católicas dominassem as de outras culturas.

Com o tempo, o calendário da Inglaterra ficou organizado da seguinte maneira: no dia 1 de novembro, celebravam o All Saints Day (homenagem aos santos) e, no dia 2, o All Souls Day (dia de orar pelos mortos). O dia 31 de outubro, por sua vez, tornou-se o All Hallow’s Eve, que seria a “véspera do Dia de Todos Os Santos” – esse seria, portanto, o Halloween, que remonta elementos do Samhain.

Trabalhando o Halloween em sala de aula

Comemorar o Halloween transcende a cultura estadunidense. Diversos países aderiram à celebração e, assim, cada nação faz a própria leitura do evento. Nas atividades escolares, com destaque para as aulas em inglês, os estudantes podem debater como essa tradição é transformada de acordo com a região e, inclusive, analisar criticamente os costumes brasileiros.

“O Halloween pode ser um bom disparador para problematizar a ideia de uma cultura – ou ‘a’ cultura – de um país. Pensar em como diferentes culturas fazem diferentes leituras de datas comemorativas é um trabalho que desenvolve o olhar crítico das crianças sobre sua própria cultura (como nós nos apropriamos dessa festividade no Brasil? O que isso diz sobre nós?) e sobre a cultura do outro”, afirma Paola Salimen, coordenadora de Inglês da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Colégio Rio Branco.

Com uma visão intercultural, as turmas compreendem as ideias de apropriação, releitura e, até mesmo, podem formar uma análise antropofágica do Halloween, aproveitando o marco dos 100 anos da Semana de Arte Moderna.

Na escola, é primordial que as crianças trabalhem temas contemporâneos e a noção de multiculturalidade. “A multiculturalidade está muito relacionada com as habilidades de uma consciência intercultural (ou international-mindedness). No IEYC (International Early Years Curriculum, da Educação Infantil) e no IPC (International Primary Curriculum, do Ensino Fundamental), há objetivos de aprendizagem claros e explícitos para o desenvolvimento dessas habilidades”, explica Paola.

 A coordenadora traz um exemplo: “No 4º ano, as crianças desenvolveram um projeto chamado “different places, similar lives” (lugares diferentes, vidas parecidas). Nele, os estudantes falaram na língua inglesa sobre suas próprias vidas, suas rotinas, hábitos familiares e vida escolar. Em um segundo momento, em parceria com uma escola na Malásia, que também trabalha com o currículo IPC, as crianças fizeram perguntas para as crianças da mesma faixa etária sobre suas rotinas.”

 Por meio dessa proposta, os estudantes do Colégio Rio Branco entenderam que a vida das crianças em um país tão distante (no caso, a Malásia) apresenta vários pontos em comum com as suas rotinas no Brasil. Desse modo, as turmas aprendem, desde cedo, a estarem conectadas com o mundo e a observar criticamente o próprio cotidiano.

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