7 dicas para cuidar da saúde mental do seu filho

Especialista alerta sobre sentimentos e comportamentos que crianças e adolescentes vêm apresentando ao longo da pandemia e faz observações importantes. A expectativa, com o retorno das aulas presenciais, é que eles sofram menos com a pandemia, mas o momento ainda exige atenção especial de pais e educadores.

Insegurança, apreensão, ansiedade, medo. Esses sentimentos tão frequentes desde o início da pandemia do coronavírus afetaram a saúde mental dos pequenos, o que ficou comprovado por pesquisas de diferentes instituições, em diversos países. Na medida em que a rotina escolar começa a ser retomada, com o avanço das campanhas de vacinação e a consequente flexibilização das medidas de isolamento social, a expectativa é que a saúde mental das crianças melhore. No entanto, o momento ainda exige atenção especial por parte dos pais e educadores.

É preciso lembrar que a necessidade de adaptação a diversas mudanças ao longo de mais de um ano, desde março de 2020, deixou muitas crianças em um estado de alerta maior, o que gerou uma série de consequências com as quais será preciso lidar ao longo dos próximos meses. O alerta é do psiquiatra Gustavo Mechereffe Estanislau, especialista em Psiquiatria da Infância e da Adolescência.

“Crianças e adolescentes tendem a absorver suas emoções, como a angústia ou irritação”, explica o médico. “E, rapidamente, começam a funcionar de acordo com o que estão sentindo, o que pode gerar uma alta carga de estresse. ” O psiquiatra lembra que as crianças, principalmente as menores, ainda têm poucos recursos para lidar com as adaptações que se tornaram necessárias por causa pandemia – desde as mudanças no dia a dia em família até as notícias de adoecimentos e mortes por todo o mundo.

“O cérebro, quando se depara com tantas modificações, entra em estado de alerta”, esclarece Estanislau. “O que não é ruim, porque ensina a criança a lidar com o mundo à sua volta e favorece o desenvolvimento. Mas, quando em excesso, pode trazer sérios prejuízos como tem acontecido na pandemia. ”

Muitas crianças têm apresentado comportamentos de regressão, voltando a ter medo de escuro, por exemplo. Outras agora querem dormir com os pais embora já tivessem aprendido a dormir sozinhas. Há também aquelas que ficaram mais seletivas com a comida, preferindo apenas alimentos conhecidos e rejeitando experimentar novos ingredientes, para evitar desafios e possíveis estresses.

O longo tempo de pandemia deixou as crianças mais desanimadas e tristes, com crises mais frequentes de choro. “É comum ouvir os pais falarem que o filho está brincando menos e que teve alterações no apetite e no sono e mesmo na capacidade de concentração e memória”, comenta o psiquiatra.

Para criar um ambiente mais acolhedor para as crianças, de modo a contribuir para a saúde mental delas, o psiquiatra sugere aos pais ações simples, como tomar cuidado com o excesso de notícias sobre a Covid-19 na frente das crianças e evitar brigas desnecessárias em família, que geram mais ansiedade. Também é válido se esforçar para que os pequenos sigam uma rotina o mais saudável possível, com boa alimentação, horário de sono regular e atividades físicas.

Confira 7 dicas do especialista para melhorar a saúde mental das crianças:

  1. Evite o consumo em excesso de doces, refrigerantes e alimentos calóricos que dão energia em um primeiro momento, mas não saciam fome.
  2. Incentive a criança a praticar atividades aeróbicas três vezes por semana, por pelo menos 30 minutos, como dançar ou sair para uma caminhada ao ar livre.
  3. Converse com seu filho sobre aquilo que o amedronta e procure entender seus medos para tranquilizá-lo.
  4. Leve um amigo para brincar com o seu filho em casa, alguém com quem sua família tenha mantido contato durante a pandemia e se sinta segura para realizar o convite.
  5. Programe saídas para ir ao parque ou mesmo ao supermercado com seu filho, para que ele se sinta mais tranquilo a sair de casa.
  6. Promova técnicas meditativas ou atividades de religiosidade e espiritualidade que ajudam a colocar a criança no “aqui e agora”. Isso faz com que a criança reduza a prática de suposições e reflexões não fundamentadas e diminui a ansiedade. Neste momento, pensar demais no futuro pode deixar os pequenos angustiados.
  7. Ajude a criança a se conectar com atividades diferentes, estimulando-a a fazer algo a que não está acostumada, como mexer com plantas ou ajudar na cozinha. Isso gera no cérebro uma recompensa diferente, deixando-a mais animada.

A experiência do Colégio Rio Branco

Preocupado com os impactos emocionais da pandemia em seus alunos, o Colégio Rio Branco procurou, desde o início da emergência sanitária, dar atenção especial ao trabalho de acolhimento, com foco nos aspectos mentais e socioemocionais de alunos e professores. O psiquiatra Gustavo Mechereffe Estanislau foi um dos especialistas convidados pela escola para orientar pais e educadores sobre como cuidar da saúde mental dos pequenos.

Seguindo protocolos nacionais e internacionais, o colégio reviu suas estruturas, procedimentos e rotinas pedagógicas sem perder sua identidade e excelência. “Transformamos nossa escola naquilo que ela pode e deve ser – um ambiente seguro, acolhedor e muito feliz”, conta Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco.

A diretora explica que o planejamento das aulas considerou a escolha de cada família, possibilitando o acolhimento tanto daquelas que optaram pela volta ao ensino presencial quanto das que preferiram seguir no ensino remoto. “Na educação infantil, o tempo todo nos desafiamos a encontrar os momentos certos de interação e construção de vínculos com as professoras, os pares e coleguinhas”, relata. “Criamos situações que pudessem explorar a conexão e a afetividade entre todos. ”

Com os mais velhos, do 6° ano do ensino fundamental ao 3° ano do ensino médio, o princípio foi o mesmo. “Procuramos criar aulas em que houvesse maior engajamento dos alunos”, conta Esther. Uma grande rede de apoio foi criada para fortalecer crianças e jovens nesse momento tão difícil. “A ideia da interação diária nos possibilita estarmos atentos para acolher as necessidades das crianças, inclusive, emocionais. ”

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