“...aprender não é espontâneo nem natural. Em certo sentido, aprender dói, pois se dá no trabalho com a ignorância. É um confronto com a falta, com o limite, com o desejo. Muita gente imagina, nos desvios do construtivismo, que aprender tem de ser gostoso, prazeroso, lúdico.... Não é nada disso: dói. Não é a dor eterna, mas a dor do início da construção da disciplina intelectual. O prazer só vem depois, como um parto.” Madalena Freire.
As tarefas de casa podem ser definidas como atividades que representam uma oportunidade de autoaprendizagem, autoconhecimento, de reflexão, expressão e crescimento pessoal do aluno. É o momento em que o aluno experimenta o desejo de conhecer e o que isto lhe traz de crescimento pessoal.
Quando nos referimos a desejo, estamos colocando como pressuposto que esse sentimento põe em movimento todo o pensamento, portanto, além do prazer, move o aluno para aprender, faz buscar, investigar, trabalhar, até que se consiga o conhecimento desejado e experimenta a satisfação por aprender.
Como oportunidade de autoconhecimento e reflexão, a tarefa possibilita uma análise de sua aprendizagem diante de um determinado conteúdo, seja ele um conceito, um procedimento ou uma atitude. Permite ao aluno perguntar-se sobre:
“O que sabe do conteúdo, o que ainda não conseguiu entender, que perguntas gostaria de fazer, que hipótese levanta sobre a sua dificuldade, que coisas estão interferindo na sua aprendizagem, ajudando ou atrapalhando, o que espera, como ajuda, do seu professor. ”
Aprender a estudar também poderá ser uma atividade de tarefa de casa, desde que orientada pelo professor. Escrever na agenda: “estudar a tabuada”, ou “estudar tal assunto”, não será suficiente para que o aluno possa se beneficiar desta tarefa. Nesta fase da escolaridade, o professor ensina diferentes possibilidades de estudar, inclusive propondo que os próprios alunos criem procedimentos de estudo e os socializem com os colegas.
Saber estudar também se aprende, pois supõe a utilização de uma série de habilidades como leitura, síntese, análise, classificação, comparação, dentre outras que necessitam ser explicitadas e trabalhadas com o aluno.
A tarefa a ser realizada em casa, permeia, também, o cotidiano das famílias, redefinindo, em certa medida, o lar como uma extensão da sala de aula, envolvendo diversos aspectos:
- Papel da família e da escola
- Dosagem da quantidade de tarefa
- Espaço doméstico e escolar de realização das tarefas
- O sentido das atividades para o estudante
- Condições de acompanhamento das tarefas
Diante desse contexto, procuramos, nesse informativo, esclarecer alguns procedimentos necessários na realização e no acompanhamento de tarefas de casa, a fim de minimizar dúvidas e promover o auxílio à aprendizagem.
Qual a periodicidade e quantidade da tarefa de casa?
O ajuste necessário em relação à quantidade de tarefa de casa poderá ser feito a partir do conhecimento que o professor tem das competências de sua turma e de cada aluno em particular; do trabalho que realiza em sala de aula, no sentido de obter dos alunos dados sobre as condições em que realizam a tarefa de casa, sobre as dificuldades e facilidades encontradas; e da constante comunicação entre os pais e a escola sobre o desempenho da criança ao fazer as tarefas de casa.
É possível, assim, estimar uma quantidade média de lição para cada ano/série, mas esta será apenas uma referência, sujeita a avaliações e ajustes constantes.
Toda tarefa será corrigida?
A diversidade também é um fator favorável para o desenvolvimento de procedimentos de aprendizagem no aluno. A utilização de diferentes formas de correção possibilita romper com o estereótipo de que o aluno faz a tarefa somente para o professor corrigir, estabelecendo, assim, uma relação mecânica e sem significado com o conhecimento.
Toda a tarefa solicitada pelo professor deverá receber algum tipo de tratamento, que pode variar conforme o objetivo.
• Correção individual feita pelo professor: neste tipo de correção, o professor avalia o trabalho de cada aluno com o objetivo de conhecer o que consegue fazer sozinho, sondar a situação da classe em relação ao conteúdo da lição, propor novas atividades, apontar para o aluno as revisões necessárias e situá-lo em relação ao seu desempenho;
• Correção coletiva feita pelo aluno com a mediação do professor e dos colegas: a correção coletiva tem como objetivo desenvolver no aluno a competência para a autocorreção orientada. Nesta correção, o professor trabalha com a ideia de que podem existir várias maneiras de se resolver uma situação, de que não há, necessariamente, uma única resposta correta e com a ideia de que a socialização das respostas do grupo-classe poderá trazer contribuições para a resposta que elaborou individualmente. É uma correção que merece bastante atenção por parte do professor, pois não se trata apenas de conferir respostas, mas de capacitar o aluno a comparar respostas, verificando semelhanças e diferenças quanto ao conteúdo e forma de apresentá-las;
• Correção feita em duplas de alunos, com posterior revisão do professor: esta forma de correção permite aos alunos uma troca efetiva sobre o trabalho realizado em casa. O professor pode orientar esta correção oferecendo, por exemplo, um roteiro de análise a partir do qual os alunos avaliam os seus próprios trabalhos e apontam o que deve ser revisto. Ao recolher a correção feita em duplas, o professor analisa, também, a capacidade de autocorreção da dupla e as intervenções necessárias;
• Correção por amostragem feita pelo professor: a amostragem é um recurso que o professor pode utilizar em algumas tarefas, diminuindo a sobrecarga de atividades a serem corrigidas. Assim, com uma classe, por exemplo, de trinta alunos, poderá analisar o aprendizado de um determinado conteúdo, corrigindo atividades de seis alunos por dia. Ao final de uma semana, terá dados de cada aluno individualmente, e da classe como um todo. As atividades dos outros alunos poderão receber o tratamento da correção coletiva;
• Correção feita por colegas monitores: quando o professor tiver como prática a monitoria de alunos, poderá recorrer a esta prática, desde que oriente e estabeleça com os alunos alguns parâmetros e procedimentos de correção. Poderá ainda combinar esta prática com a correção por amostragem, analisando a competência de cada aluno para este trabalho e a necessidade de intervenção;
• Autocorreção: para tarefas mais objetivas, o professor poderá propor que os alunos exercitem a autocorreção, procedimento de extrema importância no processo de aprendizagem do aluno. Poderá, para isto, elaborar um roteiro de análise e/ou um gabarito, para que o aluno tenha condições de refletir sobre suas respostas, identificar possíveis erros e tentar refazer o que for necessário.
Devo ajudar meu filho a fazer a tarefa?
A tarefa é atribuição do aluno. Os pais podem e devem ajudar, mas somente em relação a dois aspectos: na preparação do ambiente para realização da mesma, estabelecendo uma rotina e quando forem solicitados pela criança. Essa postura auxilia na construção de autonomia da criança.
Lembramos: Uma situação é o monitoramento dos adultos, outra, completamente diferente, é a dependência, que produz desgaste nas relações familiares.
Seguem algumas orientações quanto à sua execução, bem como intervenções que os adultos podem realizar, de modo a auxiliar a criança a construir uma aprendizagem significativa:
• O estabelecimento de uma rotina de horários é fundamental para o desenvolvimento da criança, pois organiza seus afazeres, compromissos e atividades permanentes (sono, refeições, higiene, brincadeiras, leitura, tarefa, atividades extracurriculares, escola etc.). Assim, é importante definir, com a criança, um horário específico e adequado para a realização da tarefa, considerando-se as demais atividades que realiza. Além disso, deve-se avaliar em que momento do dia a criança mostra-se mais disposta e descansada. Se, ao longo da execução da tarefa, a criança demonstrar sinais de cansaço, sugira uma pausa ou outro momento para retomar a tarefa.
Observação: É muito importante estar atento à escolha de atividades extracurriculares. Toda criança precisa de momentos livres para brincar, horas de sono e tranquilidade para alimentar-se adequadamente. A sobrecarga gera estresse na criança.
• O ambiente deve ser preparado a fim de garantir, um lugar adequado à realização da tarefa. Horário de tarefa não é momento para assistir à TV e/ou fazer outras atividades, pois tiram o foco de trabalho. Desse modo, é indicado um local iluminado, arejado e silencioso, sem interrupções e circulação de pessoas (que podem produzir certa dispersão), com mesa e cadeira adequadas, no qual ela possa guardar o material escolar, permitindo que ela comece a cuidar e a organizar seus pertences. Observe a adequação da postura: a criança não deve fazer a tarefa deitada, no chão, no sofá ou no colo do adulto.
• Se a criança disser que não sabe como realizar o que é solicitado, o que também é pertinente a essa faixa etária, o adulto poderá lembrá-la que aquele tipo de atividade já foi realizado em classe, incentivando-a na execução da mesma.
Lembre-se: há uma diferença fundamental entre auxiliar a criança (para que ela relembre o que deve ser feito) e realizar a tarefa pela criança (ditando, fazendo exercícios ou oferecendo modelos prontos para serem copiados, por exemplo)
• Se a criança questionar sobre o modo “correto” de escrever, pode-se fazer alguma intervenção, pois foi iniciativa dela pedir auxílio, revelando uma necessidade. Exemplo: “Eu escrevi certo? ”, pergunta a criança. “Você ainda escreve de um jeito diferente dos adultos, mas percebo que você pensou nas letras da palavra e isso é o que deve ser feito: pensar para escrever e fazer do seu jeito”, responde o adulto.
• Se a criança disser que não há tarefa, considerar sua afirmação e deixar que ela retorne à escola sem realizá-la. Diante disso, será orientada individualmente em sala de aula. Se continuar a resistir à mesma, o adulto poderá enfatizar a importância da tarefa e o compromisso da criança, conscientizando-a sobre sua responsabilidade de estudante e a importância de anotar tudo na agenda.
• Se a criança solicitar muita ajuda para realizar a tarefa de casa, os pais devem comunicar a escola para que os motivos sejam analisados. A experiência tem mostrado que, na maioria das vezes, a criança pede ajuda porque tem medo de errar e não suporta a ideia de expor isto ao professor e aos colegas de classe. Ainda não consegue perceber que a tarefa será valorizada pela sua disponibilidade de pensar e buscar soluções com autonomia e não só por apresentar respostas corretas.
Em relação, ainda, à participação dos pais nas tarefas de casa, a orientação da Escola é que não façam pela criança aquilo que ela tem condições de realizar sozinha, mesmo que o produto não corresponda à expectativa dos adultos. Há situações, por exemplo, em que as crianças preparam cartazes, maquetes, para a apresentação do seu Projeto Individual e que são feitos por adultos. Ou então, quando o professor pede uma coleta de dados, que deve ser bem pontual e orientada, e o aluno traz folhas e mais folhas retiradas da Internet, sem significado para ele.
A tarefa de casa deverá permitir ao aluno desenvolver a sua autonomia para aprender. Os adultos contribuirão para isto, na medida em que deixarem as crianças experimentarem aquilo que conseguem fazer sozinhas, e só então, receberem a ajuda necessária.