Teatro na escola amplia repertório cultural e inspira amor pela arte

*registro anterior à pandemia

O Colégio Rio Branco é reconhecido pela valorização da cultura e das artes e conta com nomes como Antônio Fagundes, como o próprio ator relata em entrevistas e no projeto Memória Globo, e Dan Stulbach entre os muitos ex-alunos que deram os primeiros passos da vida artística no palco da escola. 

Ao longo de 35 anos, o Grupo de Teatro Rio Branco vem revelando talentos e despertando em crianças e jovens de diferentes gerações, o gosto pelas coxias e tablados. Como parte de um trabalho artístico multidisciplinar, o grupo soma mais de 100 espetáculos produzidos por meio da vivência e construção coletiva nos encontros. 

As aulas de teatro são extracurriculares (gratuitas) e disponíveis aos estudantes interessados, divididos em dois núcleos: Iniciação ao Teatro, a partir do 5º ano do Ensino Fundamental, e Grupo de Teatro Rio Branco, destinado aos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II a 3ª série do Ensino Médio.

Durante os últimos anos, sempre em contexto com a atualidade, já foram apresentados espetáculos como “Memórias em Verde e Amarelo”, uma releitura política sobre o Golpe Militar, “Saltimbancos”, de Chico Buarque, ‘O Berço do Herói”, de Dias Gomes, “O Alto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, “Alice”, uma adaptação de Lewis Carroll, “Especial para Clarice[Lispector] – 100 anos”, entre outros baseados na leitura de textos de Bertolt Brecht e o último, “A vida é um sonho”, em comemoração aos 35 anos do grupo.

A ex-aluna, atriz e diretora Vanessa Bruno explica mais sobre esse sólido trabalho que desempenha há 17 anos à frente da direção do grupo.

Formação teatral e para a vida

“A formação no grupo de teatro se dá em pilares que vão se intercruzando com o trabalho e expressão corporal, reconhecimento do próprio corpo e do movimento até chegar na dança; oralidade e vocalidade, até chegar na música e História do Teatro, com uma caminhada histórica pelo teatro ocidental e brasileiro, além da dramaturgia com a leitura de textos do teatro. Por último, um repertório mais amplo que se relaciona com a arte contemporânea e traz referências das artes clássicas, da pintura e da dança contemporânea.

Dessa forma, cria-se um entendimento de arte e uma ampla formação que prepara os alunos tanto para testes em escolas de formação de atores, como para vestibulares e questões ligadas a qualquer curso na área de humanas.

O trabalho também contribui com a formação de público, para que o aluno possa ler o mundo ao qual está inserido por meio do universo das artes. ”

Multidisciplinaridade

“A ampliação do repertório artístico e cultural é algo muito estimulado no grupo, juntamente com o que os alunos estão aprendendo em sala de aula. São crianças e adolescentes de diferentes faixas etárias que vão se complementando e fazendo ligações entre os campos disciplinares. Quando trabalhamos Galileu Galilei, do [Bertolt] Brecht, por exemplo, fizemos um paralelo com a Santa Inquisição, o que nos permitiu trabalhar tanto os campos da História, em diferentes períodos, como os da Ciência, além das referências artísticas. ”

Importância do teatro estudantil

“Eu gostaria que todas as escolas do Brasil pudessem ter um trabalho sério em relação ao teatro. Um grupo de teatro amador, estudantil ou vocacional, como também é chamado, é extremamente importante, tanto para o trabalho em equipe, como para a integração, o trabalho de oralidade e a sensação de pertença. São diversos os conteúdos fundamentais para a construção da sociedade e acho que nós merecíamos, como país, que todas as escolas municipais, estaduais e federais pudessem dar essa oportunidade aos estudantes.

Para todo aluno que quer e se interessa [no Rio Branco], esse é um trabalho continuado e com a conclusão de um espetáculo no final. No ano seguinte, ele retorna já com uma nova postura de ajudar os que estão chegando, o que permite construir um senso de humanidade, de coletivo e de empatia, além de estimular o conhecimento da arte e do reconhecimento dos artistas do nosso país, que contribuem muitíssimo com a nossa cultura.

O teatro na escola foi fundamental para a minha formação como atriz e diretora, assim como para a graduação em Cinema e nos grupos que me formaram, como o Ágora, com o diretor Roberto Lage e o Centro de Pesquisa Teatral, com o diretor Antunes Filho, reconhecido com um dos maiores diretores brasileiros, e atualmente para a minha pesquisa de mestrado na USP. Então, vejo como esse trabalho é sólido”.

Contribuição com a pandemia e o atual momento

“Na pandemia, o teatro foi fundamental para continuarmos em contato e perceber como podemos transformar as dificuldades em pontos de encontro, além de ser uma ajuda para a saúde corporal e psicológica.

Vejo como os artistas continuam reagindo e procurando recursos mesmo em tempos assombrosos. Existe um movimento de teatro online, do qual também faço parte, com projetos que nos coloca em contato com o público, ainda que virtual. Um exemplo de compromisso, ética, confiança e amparo que nos passa a mensagem de que “estamos juntos’e podemos passar por mais uma situação muito difícil. Juntos.

Como atriz profissional, além do Rio Branco, também fiz o meu trabalho solo: adentrei um teatro vazio com uma equipe e gravamos “As águas do mundo”, baseado em Clarice Lispector; participei de um outro trabalho chamado “Rosa Choque”, totalmente feito pelos celulares das atrizes, além de debates e lives, tanto pessoalmente, como pelo coletivo Vulcão - Criação e Pesquisa Cênica. São várias as ações que estão sendo realizadas para trazer e produzir conteúdo, com a reflexão que a arte nos proporciona ”

35 anos: resistência pela arte

“O principal legado do Teatro Rio Branco, ao meu ver, é o amor pela arte e o que ela proporciona ao estar em coletivo, se reunir e expressar um conteúdo para uma plateia, discutir temas de relevância do nosso país e do mundo. Vejo, também, como uma história de amor à resistência, por essa arte efêmera que é o teatro”. 

Mais sobre o Grupo de Teatro Rio Branco: www.grupodeteatroriobranco.com.br

 

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