O que as crianças têm a ensinar para os adultos?

O respeito à diversidade e a expressão sincera dos sentimentos são alguns dos comportamentos dos pequenos que podem nos inspirar

O ‘adultocentrismo’ é uma forma de pensamento que coloca as pessoas maiores de idade como detentoras de poder sobre os mais novos. As opiniões e sentimentos das crianças são invalidadas, com a justificativa de que ainda não estão desenvolvidas o suficiente para ter pensamentos próprios. Essa ideia, no entanto, está equivocada. Afinal, as crianças têm inúmeros ensinamentos para fornecer aos adultos.

“A criança é um ser pensante e reflexivo”, afirma Rose Sertório, orientadora educacional da Educação Infantil no Colégio Rio Branco. “Não é pelo fato de ter pouca idade e experiência de vida que ela não pensa sobre assuntos complexos e consegue perceber o mundo como ele realmente se apresenta”.

Em suas relações sociais, os mais novos podem criar certas “regras de convivência” com os colegas. Não rir do outro, não fingir que não está escutando e não furar a fila são alguns exemplos. A seguir, detalhamos mais três regras das crianças que também deveriam ser seguidas pelos mais velhos:

  1. Ouça com atenção

A capacidade de observação é uma vantagem dos anos iniciais de desenvolvimento humano. “A criança está sempre atenta e observando o mundo ao seu redor. Ela vê como se estabelecem as relações, como os adultos interagem, como reagem frente às diversas situações, quais são suas atitudes”, exemplifica Rose.

Ainda segundo a especialista, “ela observa e faz perguntas, muitas perguntas, e não aceitam qualquer resposta. Na sua pouca idade, consegue compreender muito além do que os adultos supõem. Na sua sabedoria, emite opiniões que são verdadeiras lições para os adultos”.

Como exemplo, ela cita temas delicados e sensíveis, como a morte, em que os adultos podem ter dificuldades de se comunicar com as crianças, e muitas vezes escolhem esconder ou omitir as informações.

Porém, ao estabelecer a conversa, a criança consegue entender a situação por meio de sua capacidade de se colocar no lugar do outro e passa a aconchegar o adulto, invertendo a posição de cuidado. “São narrativas carregadas de empatia e resiliência, habilidades fundamentais para a nossa convivência tanto social como profissional”, diz ela.

  1. Crie opiniões próprias

Outro ensinamento é a espontaneidade. “Elas não se preocupam com imposições sociais. Não se importam em sorrir, chorar ou emitir opiniões sobre assuntos que não dominam inteiramente”, comenta a orientadora educacional. “As crianças lidam com as emoções de maneira autêntica e conseguem expressar seus sentimentos”.

Nessa linha, também ensinam aos adultos sobre preconceitos e estereótipos. Por não terem completamente absorvido alguns padrões sociais, fazem seus próprios julgamentos, livres de opiniões alheias.

“As crianças incluem todos no seu círculo de amizade e não se importam com as características físicas, raça ou religião de cada um. Elas aceitam as pessoas como são, com sentimentos genuínos, porque nascem desprovidas de qualquer forma de vaidade”, salienta Rose.

De acordo com a especialista, a criança leva a uma vida mais leve, criativa e com mais amor e felicidade do que os adultos. “Simples e mágico é meramente manter a alegria, sorrir, gargalhar e às vezes só dar e receber um beijo e um carinho. Ela nos ensina o encanto do sorriso e como isso mobiliza tudo que está ao entorno”.

  1. Abra-se ao aprendizado

 A criança está sempre disposta a aprender. “Ela cai e tropeça, mas se levanta, não desiste nunca, aprende sobre o mundo e sobre as relações”, enfatiza Rose. “E respeita essas aprendizagens, está disposta a sonhar e acreditar que pode ser o que quiser”.

Essa premissa é o ponto de partida de diversas outras regras, como:

  • Respeitar o meio ambiente: a natureza é uma enorme fonte de aprendizado e, por isso, é de interesse das crianças preservá-la.
  • Cuidar dos espaços que frequenta: a escola, a casa e os ambientes de lazer reúnem inúmeros conhecimentos ainda não explorados pelos mais novos.

 

  • Expressar os sentimentos: as conversas profundas sobre emoções e sensações podem levar a conclusões antes desconhecidas.
  • Ser amigável com os colegas: cada indivíduo tem uma história para contar e algo a ensinar por meio de um diálogo claro e aberto.

“Se o mundo fosse cuidado aos olhos dessas crianças, com certeza seria sem violência e sem desrespeito ao próximo e à natureza”, conta a orientadora. “Elas têm soluções para tudo. Ao aprender a conviver na sociedade com seus deveres como cidadãos e a ter uma postura sustentável, são referência para a transformação e mudança”.

Os adultos deveriam seguir os ensinamentos das crianças e passar a ouvi-las com atenção, abrindo-se ao aprendizado que elas podem proporcionar. “Precisamos procurar construir com elas um mundo mais respeitoso e humanizado”, conclui Rose.

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