Como estimular a criatividade das crianças?

Diversificar as experiências e instigar a curiosidade. A investigação e a busca de solução para os problemas são caminhos para promover a capacidade de criação e inovação

Criatividade pode ser definida como a capacidade de criar, inventar e inovar. Muitos acreditam que ela é um traço inato de algumas pessoas, mas, na verdade, ela pode ser desenvolvida.

“Todos podem desenvolver essa habilidade, caracterizada, principalmente, pela capacidade de formular novas ideias, criar caminhos e possibilidades inéditos ou, como se diz popularmente, nos dias atuais, ‘pensar fora da caixa’”, afirma Juliana Gois, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco.

A criatividade pode ser estimulada desde a infância e ela tem papel fundamental para enfrentarmos os imprevistos da vida, os desafios do cotidiano e as demandas do mundo contemporâneo. Nas diferentes fases da vida, ela contribui para a capacidade de resolução de problemas, o aprimoramento de ideias e a geração de conceitos ou formas inéditas de realizar algo.

“Quando refletimos acerca do conceito, percebemos o seu poder transformador. A criatividade está associada à fluidez e à flexibilidade de pensamento, recursos que colaboram para lidar com adversidades e que possibilitam o inventar e o reinventar da história de si e do seu entorno”, explica a orientadora.

Estratégias para promover a criatividade das crianças

Segundo Juliana, as famílias têm um papel crucial no desenvolvimento da criatividade das crianças no decorrer da infância. Ela sugere algumas práticas que podem ser aplicadas no dia a dia:

 

  • Instigue a curiosidade

Ao conversar com os filhos, os pais podem fazer perguntas abertas, com o intuito de incentivá-los a falar e com disponibilidade de escutá-los: “o que você acha sobre…”, “você já pensou se…”, “como seria caso…” são alguns exemplos. “A proposta é provocar a reflexão, encorajá-los a pensar acerca de diferentes tópicos, expor seus pontos de vista e trocar com os pais acerca das diversas possibilidades de se observar, fazer, apresentar ou solucionar algo”, recomenda.

 

  • Incentive a criação

Visite ou prepare ambientes onde a criança se sinta à vontade para experimentar e criar. É interessante que ela tenha um espaço no qual possa explorar as possibilidades, deixar fluir os pensamentos e a criação. Uma sugestão é ter um cantinho em casa com materiais disponíveis para uso livre não é preciso se preocupar com os brinquedos de última geração. “É claro que eles podem estar presentes e são bem-vindos, mas quem já não viu a cena de uma criança pequena ganhar um presente todo requintado e passar horas se divertindo com a embalagem, antes mesmo de manuseá-lo?”, lembra a orientadora.

Papéis, massa de modelar, peças que possibilitem a construção de objetos, quebra-cabeças e caixas de papelão também são excelentes recursos.

 

  • Diversifique as experiências

Atividades feitas em conjunto com a família, como compartilhar a leitura de um livro, assistir a filmes ou documentários, visitar museus e exposições são de grande valia. “Fazer descobertas, aprender e discutir desperta e enriquece o potencial criativo”, ressalta Juliana.

Visitar ambientes ao ar livre, como praças e parques, também é uma ótima estratégia. Deixar que a criança explore, improvise brincadeiras, cometa erros e aprenda com eles. Essa liberdade propicia confiança e possibilita que ela se sinta livre para criar diante de novos estímulos, sem se limitar a repetir padrões.

“O contato com a natureza por si já oferece uma infinidade de estímulos sensoriais - com seu leque de cores, formas, texturas e sons”, indica.

 

  • Apresente novas culturas

A diversidade do mundo aguça a curiosidade e a imaginação, ingredientes essenciais para o pensar criativo.  Além disso, também oferece a possibilidade de construção de novos repertórios. “Apresente a diversidade, conversem sobre ela, troquem impressões e contemplem a beleza da coexistência de diferentes crenças, sotaques, valores e culturas em um mesmo mundo”, sugere a orientadora.

 

  • Explore o mundo digital

Sim, a tecnologia pode ser uma aliada! Para isso, contudo, ela deve ser utilizada de forma consciente, intencional e respeitando os tempos e limites de tela, de acordo com a idade da criança.

Juliana comenta que existe uma ampla gama de aplicativos e plataformas digitais que envolvem desde a criação de desenhos até a exploração, a resolução de problemas, a busca de soluções e a criação em ambientes lúdicos virtuais.

 

  • Brinque e jogue

Jogos e brincadeiras são extremamente valiosos, pois provocam diversos estímulos e apresentam uma variedade de desafios. “Mas é importante deixar que as crianças explorem cada um deles, descubram as diferentes maneiras de jogar ou, quem sabe, estabeleçam novas possibilidades e regras. Ofereça esse espaço, tenha paciência e divirtam-se juntos”, orienta.

Cuidados para não inibir a criatividade dos filhos

Juliana alerta que, apesar de vivermos em um ambiente imerso a tantos estímulos, pode acontecer de adultos minarem a criatividade da criança. Isso pode ocorrer sem que o pai ou a mãe perceba e com a conhecida ‘melhor das intenções’. Para evitar essas situações, ela também dá algumas dicas:

 

  • Permita que a criança tenha “tempos livres”

Estamos em um mundo extremamente competitivo e repleto de possibilidades de atividades e cursos extras. É comum vermos agendas de crianças cheias de compromissos e sem espaços para momentos livres. “A questão é que o ócio também é importante inclusive para a criatividade”, aponta. “Quando a criança se vê ‘sem nada para fazer’, ela precisa criar, inventar uma forma de se divertir ou se entreter, e nessa hora, vemos a imaginação ganhar asas. Por isso, permita que seu filho também tenha em sua rotina ‘tempos livres’”.

 

  • Deixe o seu filho buscar soluções para os problemas

Outro ponto que ela destaca é que, algumas vezes, ao se depararem com a queixa, com o choro ou com a frustração dos filhos, os pais têm a tendência de buscar a forma mais rápida de resolver aquela situação. “Nessa busca de solução imediata, se não ponderarmos, tentamos nós mesmos solucionar a questão. Essa atitude, por vezes, pode minar o potencial dos nossos filhos encontrarem maneiras de lidar, enfrentar ou superar situações desagradáveis”, diz. “Assim, avalie cada contexto antes de agir, mostre sempre que você está ao lado dele, apoiando-o em todos os momentos, inclusive ajudando-o a pensar em estratégias, se for necessário. Mas não faça ou resolva tudo por ele.”

Juliana reforça que, hoje em dia, é comum valorizarmos mais as respostas do que as perguntas. “Mas como aprender ou conhecer sem perguntar? Encoraje seu filho a se arriscar fazendo perguntas e expondo suas ideias e dúvidas. A criatividade não brota a partir do repetir, e sim do criar”, finaliza.

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