Falando sobre sexo: como abordar o assunto com crianças e adolescentes

Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, ressalta que pais e educadores são as melhores fontes de informação sobre sexo para crianças e adolescentes

Sexo é um tópico que, em algum momento, irá aparecer nas conversas com crianças e adolescentes. Por isso, os adultos, sejam eles os pais ou educadores, precisam estabelecer um espaço para dialogar sobre o tema.

Os questionamentos farão parte do desenvolvimento e são uma oportunidade de fortalecer vínculos, além de prevenir situações de abuso sexual. “Cabe ao adulto permitir que as dúvidas sobre sexo venham à tona, para que sejam recebidas e respondidas de forma acolhedora, cuidadosa e compatível com sua faixa etária”, destaca Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco.

Como iniciar a conversa sobre sexo?

Segundo a orientadora educacional, os adultos devem permitir que o assunto surja de maneira espontânea, não sendo preciso impor ou ser formal. Nesses momentos, é importante responder ao que foi perguntado, ser honesto e buscar saber o que a criança ou adolescente já sabe sobre sexo.

“Vale lembrar que falar sobre isso não implica em abordar especificamente o ato em si, vai além - passa por descobertas associadas ao desenvolvimento, pelo conhecimento do corpo humano, pela noção do que é público e privado, e pelo respeito a si e ao outro”, destaca Juliana.

Essas conversas também devem ser realizadas sem pressa e com seriedade de ambas as partes. Para isso, é fundamental reservar o tempo que for necessário e estar em um ambiente que propicie conforto e segurança. De qualquer forma, não existe uma receita única para abordar o tema, e as particularidades de cada indivíduo precisam ser respeitadas.

Adaptações conforme a idade

As dúvidas e a busca por informações serão diferentes de acordo com a idade da criança ou adolescente. Logo, os adultos devem estar preparados para ter abordagens distintas, sempre mantendo a naturalidade e abrindo um espaço para conversas acolhedoras.

Infância

“Em geral, a primeira pergunta é ‘de onde vem os bebês?’. Nesses casos, mantenha a calma. A criança não está se referindo ao sexo em si, mas às suas descobertas - ela quer saber como o bebê foi parar na barriga, como ele cabia naquele espaço, como se alimentava”, comenta a profissional.

Uma boa estratégia é utilizar imagens, livros infantis e metáforas. Além disso, os responsáveis devem entender o ponto de partida antes de responder as perguntas. “Cabe aqui o exercício de devolvê-la antes de dar uma resposta: ‘de onde você acha que vêm os bebês?’, por exemplo”.

Pré-adolescência

Conforme a criança cresce, novas descobertas surgem, como a masturbação. Não é preciso se assustar ou repreender, é natural e, inicialmente, trata-se de um jogo exploratório de sensações - eis um bom momento para conversar sobre intimidade, privacidade, respeito e consentimento”, aponta Juliana.

Nessa fase, os adultos devem usar menos metáforas e responder as perguntas de maneira mais objetiva. Caso não tenham as respostas, é importante manter a honestidade e retomar o assunto em outro momento.

Adolescência

Quanto mais naturalmente o assunto tiver sido abordado na infância, mais fácil será manter esse elo na adolescência. Mesmo que a fase exija mais privacidade, os educadores devem ser um porto seguro a quem os jovens podem recorrer sempre que precisarem.

No entanto, caso o adolescente ainda não tenha trazido muitas dúvidas ou comentários sobre sexo, é importante buscar oportunidades para iniciar essa conversa. “Aproveitar uma cena de filme ou de série para puxar o assunto costuma ajudar, aliás, nesses casos, evite sair de perto para que ele se sinta mais à vontade - essa atitude pode passar a impressão de que você prefere evitar tratar desse tema com ele.”

A abordagem na escola x em casa

A educação sexual é um tema a ser debatido tanto na escola quanto no lar. O objetivo deve ser, em ambos, esclarecer dúvidas e fornecer informações confiáveis, essenciais para as fases de crescimento. Podem haver, no entanto, diferenças na forma de abordagem.

“Na vida escolar são dadas orientações mais gerais acerca do tema: fala-se sobre o corpo humano, as doenças sexualmente transmissíveis, a gestação de forma mais conceitual e, apenas em situações mais específicas, o aluno recebe orientações mais personalizadas”, explica Juliana.

Já no ambiente familiar, podem aparecer dúvidas e exemplos mais pessoais. “Em casa, essa conversa leva em conta as características e os princípios da família, o ambiente é mais íntimo e as dúvidas e questionamentos são, em geral, acolhidos de forma particular.”

10 livros sobre educação sexual

Para auxiliar os pais e educadores na importante missão de conversar sobre sexo com as crianças e adolescentes, Juliana Góis indica uma lista de 10 livros. As obras podem ajudar diferentes faixas etárias, com recortes diversos. Confira:

  1. “Gogô, de onde vêm os bebês?” de Caroline Arcari
  2. “Mamãe botou um ovo!” de Babette Cole
  3. “Pipo E Fifi: Ensinando proteção contra a violência sexual” de Caroline Arcari
  4. “Não me toca, seu boboca” de Andrea Viviana Taubman
  5. "Mamãe, como eu nasci?" de Marcos Ribeiro
  6. "Sexo não é Bicho-Papão" de Marcos Ribeiro
  7. "O planeta EU" de Liliana Iacocca e Michele Iacocca
  8. "O que está acontecendo comigo?" de Peter Mayle e Arthur Robins
  9. "De onde viemos?" de Peter Mayle e Arthur Robins
  10. “Educação Sexual em 8 lições” de Laura Muller

 

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