Medo e pressa de crescer: como ajudar os filhos a lidar com esses sentimentos?

Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, reflete sobre as origens dessas emoções e a melhor maneira de enfrentá-las

Durante a infância, tudo é novidade. A primeira fase da vida é marcada por descobertas, brincadeiras, aprendizados e sonhos. Este último fator leva, muitas vezes, as crianças a pensarem no futuro: como estarão depois de alguns anos e até quais atividades farão parte do seu cotidiano. Com o passar do tempo, percebem que esses objetivos não são tão simples, e existe um processo longo para alcançá-los. 

Nesse sentido, as crianças e adolescentes costumam adotar os seguintes comportamentos: o medo ou a pressa de crescer. A existência desses dois extremos alerta para uma falta de equilíbrio na sociedade como um todo. “Acontece que, nessa corrida desmedida para ´ser grande´, esquece-se da importância de ´ser pequeno´”, afirma Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco.

Os dois extremos: medo ou pressa de crescer

Quando o assunto é crescer, a etapa seguinte sempre será inédita – tanto para a criança, quanto para os pais, não importa o nível de planejamento. A partir disso, aparecem, para os filhos, duas maneiras diferentes de encarar essas transições: com medo ou com pressa.

“Quando a criança demonstra medo de crescer é sinal de que ela sabe que está à beira de uma nova fase, o que exige dela sair da zona de conforto, desprender-se do conhecido, abandonar uma fase de estabilidade na qual ela se sente protegida”, explica Juliana. Nessas situações, surgem questionamentos perante o futuro, todos marcados pela insegurança e a possibilidade de a mudança ser desagradável.

“Já o comportamento oposto pode ser interpretado como uma consequência da falsa ideia dos pais de que, por vivermos em uma sociedade extremamente competitiva, seus filhos devem ser, desde a tenra idade, ‘preparados’ para uma vida adulta bem-sucedida: agendas repletas de atividades – compatíveis com as de um executivo – são um exemplo disso”, completa a profissional.

Por que esses sentimentos são prejudiciais?

Conforme são sentidos por uma criança ou adolescente, esses sentimentos ficam nítidos em várias esferas: na fala; nas vestimentas; nos planejamentos; na interação com os outros; em comportamentos que demonstram uma regressão a fases anteriores e pela preocupação excessiva com a aparência, por exemplo.

Observando essas demonstrações, o principal ponto negativo é, justamente, a ausência do equilíbrio. O indivíduo passa tanto tempo focado em acelerar o momento, ou adiá-lo, que se esquece de viver o presente, deixando de explorar tudo que poderia. “Se não respeitarmos cada etapa, com atitudes que retardam o desenvolvimento ou com excessos de estímulos a fim acelerar o tempo, corremos o risco de nos sentir fora do contexto e não pertencentes a nenhum grupo”, coloca Juliana.

Fatores que promovem o desequilíbrio

As razões que instalam esse comportamento são muitas. O desequilíbrio é promovido pelo constante acesso à mídia, que supervaloriza aparências e incentiva padrões comportamentais impróprios para crianças, além de condutas da própria sociedade e dos pais.

É comum, no âmbito coletivo, estímulos para que as vestimentas infantis sejam cada vez mais similares às dos adultos. Isso inclui o acesso precoce à maquiagem, unhas postiças e sapatos de salto, afastando a imagem de uma criança que brinca. Sobre as atitudes dos pais, a resposta pode estar nos pequenos detalhes: queixas frequentes sobre o trabalho, por exemplo, transmitem a ideia de que não vale a pena ser adulto, instigando o medo.

Ainda, a preocupação educacional de garantir um currículo diversificado precisa respeitar os limites, sempre deixando espaço para brincadeiras e tempo livre, no geral. Cabe aos pais e aos educadores uma reflexão sobre o contato das crianças com os aspectos nocivos, para evitar os efeitos negativos para a autoestima e a identidade.

Para os pais: como ajudar os filhos a encontrar um equilíbrio entre o medo e a pressa?

“O equilíbrio está no respeito a cada fase da formação, em especial na garantia do direito da criança à infância. O primeiro passo é observar seu filho, permitir que ele descubra todas as cores do mundo e as nuances de si”, aponta Juliana Góis.

Logo, os responsáveis devem acompanhar o desenvolvimento na infância e adolescência, ao mesmo passo que concedem o protagonismo ao filho. Também precisam oferecer amparo e orientações constantes, estabelecendo uma relação com empatia, comunicação e afeto – elementos citados como fundamentais por Góis.

Para finalizar, a profissional do Rio Branco separou dicas práticas para os pais incentivarem um crescimento saudável. Confira:

  • não expor crianças a conteúdos inapropriados para a sua idade;
  • monitorar os conteúdos consumidos na internet e mídias sociais;
  • estabeleccer uma rotina que contemple necessariamente períodos livres diários;
  • interajir com ela e com os demais, sem esquecer que a sua forma de agir e se relacionar é um exemplo para a criança;
  • propiciar a convivência com outras crianças da sua idade;                                                                                                          
  • brincar com ela das mais diferentes formas: leiam, desenhem, permitam-se momentos descontraídos ao lado dela, criem memórias em conjunto.

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