Agressividade infantil: entenda como esse comportamento faz parte do desenvolvimento da criança

Saber entender a agressividade das crianças é fundamental para que possam aprender a lidar com os sentimentos, como a frustração, a raiva, o medo, o ciúme e a insegurança.

Por Juliana Góis

 

A  infância é um período de exploração, de descobertas, das incontáveis “primeiras vezes” de situações que serão vivenciadas ao longo da vida. Todas essas novas experiências evocam emoções, sensações e sentimentos com os quais a criança, aos poucos, conforme se desenvolve, aprende a lidar. Contudo, este processo de aprender a lidar com a frustração, a raiva, o medo, o ciúme, a insegurança, etc nem sempre é uma tarefa fácil. 

Você já observou uma criança brincando de faz de conta? Você se lembra de alguma experiência sua nesse mundo mágico, onde tudo pode acontecer? Quando menina eu adorava brincar de bonecas: banhava, penteava os cabelos, trocava roupas e contava histórias - ensaiava ali os primeiros passos da maternidade. Anos depois,descobri provavelmente como muitos de vocês, que criar um filho é algo tão maravilhoso quanto complexo.   

Um dia você chega em casa e percebe que ele levou uma mordida no braço: “O que aconteceu? Quem mordeu meu filho? Por quê?”. Numa tarde de domingo, você leva seu filho para o parque da praça e ele empurra um colega para poder sentar no balanço: “O que está acontecendo? Para que ele fez isso? E se ele tivesse machucado a outra criança?”. Nos eventos descritos, cada criança encontra-se numa posição diferente e, ainda assim, ambas podem gerar desconforto aos seus pais. Nesse sentido, compreender sobre o desenvolvimento infantil torna-se de grande valia para promover reflexão, aliviar possíveis tensões, auxiliar na identificação de quando devemos nos preocupar, além de favorecer condutas mais assertivas diante dessas situações.

Entre dois e três anos de idade, é comum a presença de comportamentos como morder e bater. Isso ocorre porque, enquanto as crianças ainda não conseguem se expressar através da fala ou encontram-se na fase de desenvolvimentos da expressão verbal, elas  podem vir a fazer uso do corpo para comunicar suas vontades e necessidades. Nessa faixa etária, em geral, nos deparamos com a agressão direcionada a um objeto, cujo objetivo é obter algo específico ou escapar de uma situação aversiva. Na prática ela pode, por exemplo, vir a agredir o par para ter um objeto que deseja, morder para retirar o objeto de outra criança ou afastar o adulto com as mãos para evitar entrar embaixo do chuveiro. A boa notícia, é que a maioria desses comportamentos tendem a ser substituídos por outros adequados de forma espontânea, à medida que elas amadurecem. 

A partir dos quatro ou cinco anos, a maior parte das crianças já são capazes de falar e expressar seus desejos de forma mais eficiente. Nessa fase podemos nos deparar com a agressividade direcionada à pessoa, cujo objetivo principal passa a envolver disputa, conquista de espaço, obtenção de atenção e etc. Levando-se em consideração que ela já possui mais capacidade de compreensão acerca do que é certo ou errado, é fundamental que os pais conversem, orientem e expliquem que alguns comportamentos não são legais e podem magoar ou machucar outras pessoas. A melhor forma de lidar com a agressividade é por meio da aproximação, é preciso escutar o que a agressividade está nos dizendo, validar, pensar em conjunto e auxiliar na busca de outras formas mais funcionais de se expressar. 

Sabemos que todas as pessoas possuem um impulso agressivo, pois se trata de um comportamento natural. Logo, a agressividade, inclusive, pode ser vista como um sinal de que a criança não age de forma passiva frente às situações e/ou imposições que a desagradam. Porém, devemos nos preocupar quando esses comportamentos permanecem mesmo após o acolhimento e as orientações dos adultos que estão ao seu entorno, quando eles machucam e geram vítimas, quando a própria criança que agride sofre com as consequências secundárias ao seu comportamento - como ser evitada pelos colegas. 

Sim, é de suma importância levarmos em consideração a subjetividade humana, a individualidade e a vivência de cada criança - não há uma receita universal.  Porém, algumas ações favorecem o desenvolvimento da empatia, como estimular o diálogo, abrir um espaço de conversa sobre as diferenças e disponibilizar tempo para que a criança possa expressar aquilo que está sentindo - seja por meio da fala, do desenho ou mesmo do brincar. Se para nós, adultos, ao falarmos de nossas emoções e sentimentos muitas vezes nos faltam palavras, imaginem como essa pode ser uma tarefa complicada para uma criança. Sendo assim, caso o fio de lã desse novelo não se transforme numa longa conversa, mantenha-se ali, tricote um cobertor que irá aquecer o coração do seu filho se necessário for, é um alento saber que não se está só.  

Por fim, lembrem-se:  crianças são crianças e não adultos em miniatura; crianças se transformam, estão em fase de desenvolvimento, são esponjas ávidas para absorverem o que temos a lhes oferecer; crianças são observadoras, aprendem algo novo a cada instante e nos surpreendem a todo momento; crianças reproduzem comportamentos, para elas somos um modelo e para elas devemos representar um porto seguro.


“Se uma criança não é tratada no amor, mas sim no medo,
ela não aprende a se amar. Ela aprende a se defender”
Françoise Dolto







Juliana Góis é Orientadora Educacional de Apoio à Aprendizagem no Colégio Rio Branco, psicóloga e psicopedagoga, especialista em Neuropsicologia e mestre em Neurociência. Atua na área clínica e educacional.

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