Por Luísa Trindade Genaro
Por vezes nos deparamos com crianças e adolescentes em fase escolar, que apresentam dificuldade em manter o foco nas atividades propostas ou com uma agitação excessiva em casa. Devemos ter cautela diante de um cenário como este, pois essas manifestações podem corresponder a sintomas de um transtorno neurobiológico, que se não diagnosticado e tratado, pode impactar na vida social e escolar.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que é o transtorno mais frequente na infância, atinge crianças e adolescentes em idade escolar em todo o mundo. Em sua maioria, segundo Louzã Neto, prevalecem os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Além disso, há uma sensibilidade excessiva a estímulos, que pode causar mudança de foco de atenção com muita facilidade.
As manifestações do TDAH nas crianças ocorrem entre os três e os sete anos de idade. É recomendado que o diagnóstico seja realizado a partir dos sete anos, uma vez que os realizados anteriormente são precoces e mais difíceis de serem constatados. Não se espera que crianças pequenas permaneçam alertas por um longo período de tempo, por isso torna-se mais difícil reconhecer os sintomas de desatenção. Sendo assim, os diagnósticos podem dar origem a falsos positivos, e, consequentemente, a possibilidade de prescrição desnecessária de medicamentos.
Para efeito de diagnóstico, que deve ser realizado por um especialista, os sintomas devem manifestar-se antes dos sete anos e ser observados em, ao menos, dois ambientes diferentes (como casa, escola e locais de lazer) por, ao menos, seis meses. Além desses sintomas, pode haver desajustes e alterações comportamentais que dificultam o relacionamento com seus pares. A identificação do TDAH é muito importante para que as intervenções necessárias sejam realizadas, pois crianças que apresentam desatenção podem apresentar também dificuldade em seguir instruções e esquecimento de tarefas diárias, além de perder objetos com facilidade e parecerem desligadas em certos momentos (LOUZÃ NETO, 2010). Esses sintomas característicos do TDAH, quando não acompanhados da devida maneira, como referido anteriormente, prejudicam o processo de aprendizagem.
Os portadores do TDAH podem desenvolver outras comorbidades, e a partir do diagnóstico haverá o encaminhamento do tratamento. Dentre os tratamentos disponíveis, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), podemos citar a psicoterapia e/ou a prescrição de medicamentos, que podem ser psicoestimulantes (medicamentos que aumentam o nível de atividade motora e cognitiva e o estado de atenção), ou antidepressivos, que são indicados nos casos em que há comorbidade com distúrbios psiquiátricos, como ansiedade e depressão. Há casos em que é necessário que a criança seja acompanhada por uma equipe multidisciplinar, em função dos desajustes pedagógicos e comportamentais associados ao TDAH.
O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV-TR) da American Psychiatric Association (APA, 2002) divide o TDAH em três subtipos:
- TDAH com predomínio de sintomas de desatenção: é mais frequente no sexo feminino, as crianças e adolescentes apresentam dificuldade maior de concentração, de organização de suas atividades e de seguir instruções. Se distraem com facilidade e frequentemente esquecem o que tinham para fazer ou onde colocaram seus pertences. Há mais prejuízo na esfera de desempenho acadêmico e menos na área de socialização.
- TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade: as crianças e adolescentes são inquietos, agitadas e falam muito. Se a impulsividade se destacar, haverá sinais de impaciência, agir sem pensar e dificuldade de ouvir perguntas até o fim, tendo interrupções nas falas e conversas alheias. Há mais prejuízo na área social, os indivíduos sofrem mais rejeição pelos colegas devido à impulsividade e agressividade.
- TDAH do tipo combinado: há uma frequência significativa de sintomas, tanto de desatenção quanto de hiperatividade/impulsividade.
Um dado importante e que reforça a importância do diagnóstico é o de que duas entre cada três crianças permanecem com o TDAH na vida adulta. Segundo o livro Vencendo o TDAH Adulto, de Russel A. Barkley, estima-se que cerca de 5% da população adulta apresenta TDAH, e os portadores desse transtorno devem, desde o diagnóstico, buscar formas de lidar com ele, pois caso contrário, serão adultos com maior probabilidade de tomar decisões impulsivamente, iniciar projetos sem ler ou ouvir com atenção as instruções, falhar no cumprimento de promessas ou compromissos firmados, ter dificuldade em se envolver em atividades de lazer, e facilmente se distrair com pensamentos irrelevantes.
A busca por ajuda é fundamental, pois caso contrário, a criança, o adolescente e o adulto podem sofrer com o impacto negativo deste quadro por toda a vida, sem conseguir desenvolver bem suas atividades, ou indo aquém de seu potencial. Estratégias compensatórias como a leitura de livros com orientações, criar estratégias mentais e lista de afazeres ou usar alarmes para lembrar de suas atividades podem ajudar, mas podem não ser o suficiente. Em alguns casos a ajuda médica é fundamental, pois um profissional o auxiliará a descobrir onde estão seus pontos fortes e fracos e a ter uma qualidade de vida que jamais teria ao enfrentar sozinho o seu transtorno.
Materiais de apoio:
BARKLEY, Russell; BENTON, Christine; Vencendo o TDAH Adulto. Artmed, 2011.
LOUZÃ NETO, Mario Rodrigues; e col. TDAH ao longo da vida. Artmed, 2010.
Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), https://tdah.org.br/sobre-tdah/o-que-e-tdah/.
Luísa Trindade Genaro é orientadora educacional do Colégio Rio Branco. Possui licenciatura e bacharelado com atribuições tecnológicas em Química, é pós-graduada em Educação Especial e Inclusiva, em Gestão Escolar e Educação Ambiental. Pós-graduanda em Neurociência Aplicada à Educação. Atua como professora efetiva de Química na Rede Estadual de Educação de São Paulo e professora de séries iniciais do Ensino Fundamental, pela Secretária Municipal de Educação de São Paulo.