Um olhar para o mundo das conversas. Essa foi a proposta do Encontro com a Direção especial, que aconteceu nos dias 24 e 26 de junho, com a presença de Adriana Martinelli, fonoaudióloga e especialista em Psicopedagogia, e Luciana Martinelli, consultora e coach.
Durante todo o dia, estamos imersos em conversas, seja na escola, no trabalho, nos momentos de lazer e sempre com diferentes pessoas. O desafio que se impõe é ampliar as capacidades de conversar para conquistar melhores resultados. Já que toda conversa gera um resultado, bom ou ruim, com impacto em nossas vidas, precisamos olhar para esse fenômeno.
Os encontros aconteceram de forma muito interativa, levando os participantes a uma reflexão sobre como cada um age em situações de conversa, com diferentes pessoas, em seu dia a dia. Luciana, logo no início da conversa, já chamou a atenção de todos para aspectos importantes: melhorar a capacidade tem impacto positivo nas relações e, por outro lado, todo mundo acha que conversa bem!
“Estamos aqui para olhar para as nossas próprias competências conversacionais”, convidaram Adriana e Luciana, alertando todos a refletirem sobre o senso comum de sempre colocar a responsabilidade no outro.
Como podemos melhorar nossas conversas
Para melhorar nossas conversas, segundo as palestrantes, precisamos aprender a enxergar o outro e a gente mesmo: eu escuto bem? Como são minhas conversas com meus filhos? Como eu lido com cada tipo de conversa?
Outro aspecto destacado é que a avaliação das conversas são sempre individuais, as pessoas entendem de forma única e diferente as situações vividas. Por exemplo, existem pessoas que consideram a intimidade um facilitador para uma conversa, enquanto outras consideram isso um complicador.
Luciana falou dos aspectos que formam a competência conversacional: as conversas públicas e privadas (pois uma impacta a outra), a fala (afirmações, declarações e juízos), as rotinas defensivas do calar (há inúmeros tipos de silêncio), a corporalidade, a gestão de promessas (como fazemos e recebemos pedidos), as emoções, os tipos de conversa e, uma das mais importantes, a escuta.
A escuta
A partir da leitura do poema Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade, os participantes fizeram uma interpretação livre da obra, destacando o que entenderam, interpretaram e sentiram. Diante das inúmeras e diferentes devolutivas, Luciana chamou a atenção: o poema é apenas um, mas as percepções dele são tantas quantas as pessoas presentes.
Escutar é diferente de ouvir. Ouvir está ligado à audição, escutar é perceber o outro e criar uma interpretação particular. As interpretações são diferentes por causa dos valores, do repertório, do humor do dia e de inúmeras variáveis.
Luciana alertou para o fato de que toda conversa tem uma brecha, pois as pessoas são diferentes e fazem diferentes interpretações, que é impossível de ser eliminada – cada um diz o que diz e o outro escuta o que escuta. O escutar efetivo é aquele que reduz essa brecha.
Partindo do princípio de que o que valida uma conversa não é o que foi dito, mas, sim, o que foi escutado, é o outro quem valida o que se fala. Ou seja, uma pessoa que quer melhorar sua fala, precisa melhorar a escuta! “O escutar é o caminho que se faz para reconhecer a existência do outro”, destacou Luciana, ressaltando, ainda, que escutar não é concordar de forma passiva.
Para diminuir a brecha nas conversas e validar a fala do outro, é importante verificar a escuta: o que foi entendido do que foi dito? Checar não é repetir o que foi ouvido, mas sim oferecer ao outro sua interpretação do que foi dito e permitir que o outro possa validar ou não.
Valem, ainda, outras três atitudes: compartilhar inquietações deixando claro em uma conversa sua intenção; indagar e tentar saber as inquietações do outro; e conhecer e respeitar o ser humano que o outro é – diferente, legítimo e autônomo.
Outra reflexão proposta por Luciana foi descobrir quem são os nossos próprios inimigos da escuta. Saber o que nos impede de escutar (desinteresse, cansaço, baixa empatia etc.) é essencial no desenvolvimento das competências conversacionais.
Quando alguém falar que não sabemos escutar (seja o filho, amigo ou colega de trabalho), sinal de alerta! A baixa escuta coloca em risco a capacidade de criar espaços e relações de confiança que garantam envolvimento, aprendizagem, entrega e construção de sentido compartilhado.
Para não esquecer
- A escuta tem um caráter ativo, pois contempla a fala e a indagação;
- Somos responsáveis pelo nosso escutar e pela escuta que geramos no outro;
- Saber escutar é uma competência central para relações saudáveis entre as pessoas.