Saúde mental na adolescência é um tema complexo que desafia as famílias e as escolas. Nesse contexto, o Colégio Rio Branco convidou o Dr. Rodrigo Bressan, médico psiquiatra e especialista na área para conversar com pais e educadores, nos dia 02 e 04 de outubro, nas unidades Granja Vianna e Higienópolis.
O Dr. Rodrigo Bressan tem PhD pelo King’s College London, é professor livre docente da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e do King’s College London. Atualmente, é o presidente do Y-MIND – Instituto de Prevenção de Transtornos Mentais, onde coordena o programa ‘Cuca Legal’ em escolas; coordenador de pesquisa do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento e coordenador do Projeto Conexão – mentes do futuro, com mais de 300 publicações científicas internacionais na área.
Para entender a saúde mental
Fazem parte da saúde mental os momentos de estresse, tensão, medo e sofrimento, quando ocorrem de forma leve e com duração reduzida. Essas situações sessam quando o estímulo é interrompido, ou seja, com o fim do fator de sofrimento, a sensação de tristeza também se encerra.
Insônia, irritabilidade, tensão e medo, com sensação de sofrimento moderado, duração média e impacto moderado na vida, já se configuram como problemas de saúde mental.
Sintomas repetitivos e com incapacidade de superação, causando grande sofrimento, com duração prolongada e impacto significativo, são indicações de transtornos mentais.
Impactos das doenças na população
Antigamente, utilizava-se o índice de mortalidade para se mensurar as estatísticas sobre saúde mental. Atualmente, um importante indicador para mensurar a saúde da população é a perda de dias de produtividade, entendendo que os transtornos mentais podem afetar a capacidade de lidar com as rotinas do cotidiano.
Nesse sentido, depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade têm impactos na sociedade, por diminuírem a produtividade.
Destaque sobre os transtornos mentais:
- São comuns: atingem uma em cada cinco pessoas;
- São incapacitantes: incapacitam uma em cada 20 pessoas;
- Têm início precoce: 50% dos transtornos começam antes dos 14 anos e 75% antes dos 24 anos;
- Impactam nos índices de mortalidade: suicídios, homicídios e acidentes;
- A depressão é a maior causa de incapacitação no mundo, na faixa etária entre 10 e 50 anos, sobretudo na idade escolar.
A importância do diagnóstico e do encaminhamento
Assim como o coração, o cérebro também é impactado com as experiências que cada pessoa vive ao longo de sua vida: complicação obstétrica, questões genéticas, traumas, entre outras situações. A grande diferença é que, na imensa maioria dos casos, o médico psiquiatra passa a atuar somente quando ocorre o primeiro episódio de crise.
Segundo o Dr. Rodrigo Bressan, as complicações podem ser mapeadas antes do episódio. O desafio está na complexidade do cérebro: 80 bilhões de neurônios, 100 trilhões de sinapses. Um transtorno psiquiátrico causa desregulamento funcional no padrão das redes de neurônios, e não em um local específico do cérebro.
Vale destacar que os educadores têm um olhar privilegiado na identificação dessas questões em crianças e jovens. Pelo convívio intenso com os alunos, os educadores têm condições de fazer uma comparação normativa entre crianças de mesma idade, ajudando a identificar possíveis transtornos. Além disso, a partir de um diagnóstico, os professores têm elementos para acolher essas questões, buscando criar condições adequadas e específicas para a sala de aula.
Desenhando um cenário, o Dr. Rodrigo Bressan, a partir de estudos, destacou que em uma sala de aula de 30 alunos, considerando crianças de 7 a 14 anos, pelo menos um aluno tem depressão, um ou dois alunos têm transtorno de ansiedade, um ou dois alunos têm transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.
O tratamento dos problemas de saúde mental passa pela identificação e encaminhamento para as diversas possibilidades de ação - psicoeducação, mudança de hábitos, psicoterapia e medicação.
Saúde mental de nossos adolescentes
Os problemas de saúde mental têm grande impacto na vida dos adolescentes: queda no desempenho escolar e na assiduidade, aumento da evasão escolar, da violência, do abuso e dependência de drogas. Além disso, se configuram como fatores de risco para a perda de tempo de vida produtiva e para o suicídio.
É de extrema importância não banalizar os sintomas. Tristeza, irritabilidade e perda de prazer nas atividades são fatores necessários, associados à fatores como pensamentos negativos recorrentes, dificuldade de raciocínio, pensamentos sobre morte e catastrofismo.
Para lidar com essas questões, o Dr. Rodrigo Bressan destacou condutas diante de cada situação:
- Pensamentos negativos sobre si: é preciso valorizar as capacidades e estimular o acolhimento pelo grupo;
- Dificuldade de raciocínio, concentração, indecisão: avaliar possíveis adaptações se houver um diagnóstico;
- Pensamentos sobre morte: estabelecer uma hierarquia de contatos para possíveis situações de crise;
- Ruminação de pensamentos ruins: oferecer questionamentos realistas, observando aspectos positivos.
Em relação ao suicídio, segundo dados apresentados pelo Dr. Rodrigo Bressan, houve um aumente dos casos, mas esse cenário não se configura em uma epidemia. Para refletirmos sobre o tema, o especialista levantou alguns pontos importantes: falar sobre o tema não dará a ideia ao adolescente; é possível impedir o ato mesmo quando a pessoa está decidida; a pessoa que fala sobre se matar ou que tenta se matar com meios menos agressivos está pedindo ajuda; a maneira como a mídia aborda o tema pode influenciar a população.
Para refletir
As questões de saúde mental devem ser tratadas para desmistificar o tema e diminuir o estigma, que atrapalha a procura por ajuda. A intervenção precoce é essencial para o encaminhamento adequado. É importante destacar que os problemas de saúde mental são as doenças crônicas dos jovens, com impactos na produtividade e qualidade de vida, podendo ser identificados e tratados.
Na escola
A palestra com o Dr. Rodrigo Bressan foi mais uma ação do Colégio Rio Branco para promover reflexões qualificadas sobre um tema tão importante como a saúde de nossas crianças e jovens.
No dia a dia da escola, toda a equipe de educadores e profissionais está envolvida no cuidado com os alunos e isso também passa pela atenção individual e a eventuais sinais de intervenções específicas.
Os educadores participam de encontros com especialistas – psicólogos e psiquiatras, que formam mesas de debate sobre o tema, com a condução de nossas orientadoras de apoio à aprendizagem, além das reuniões de formação que integram a rotina da escola.
As crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I participam do programa Com Vivência, que busca desenvolver desde cedo as competências socioemocionais e as habilidades para falarem de seus sentimentos nas diversas situações do dia a dia.
Os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental participam, de forma integrada ao currículo, do módulo interdisciplinar Jovem em Perspectiva, que aborda temas como cultura da vaidade e do consumo, autoimagem, bullying, redes sociais, drogas, sexualidade, projetos de vida e muitos outros, unindo as áreas de Redação, Artes e Espanhol.
A parceria com as famílias completa e qualifica esse trabalho, pois educadores e responsáveis podem, juntos, fortalecer a saúde mental de das crianças e jovens.
Confira o vídeo do Encontro com a Direção com o Dr. Rodrigo Bressan.