Quando a criança realmente precisa de terapia?

Pais devem ficar atentos a atitudes e comportamentos dos filhos que impactam de forma negativa na vida deles, trazendo prejuízos ao seu desenvolvimento


Quando pensamos na infância, costumamos imaginar crianças curiosas, ativas, que exploram o seu entorno em busca de novas experiências e descobertas. Porém, muitas dessas
crianças podem se deparar com problemas, conflitos e desafios, que elas não sabem como resolver ou superar. 

Tais situações geram sofrimento não só para elas, mas também a seus pais ou responsáveis que, muitas vezes, não compreendem o que está acontecendo ou não conseguem encontrar caminhos para lidar com o problema

Segundo Juliana Gois, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, a necessidade de terapia surge quando a criança apresenta atitudes ou comportamentos que impactam de forma negativa na sua vida, gerando prejuízos no seu desenvolvimento, na sua aprendizagem ou nos seus relacionamentos. “Um outro indício para procurar ajuda especializada é quando os adultos que convivem com ela têm a percepção da situação, mas não conseguem ajudá-la.” 

Sinais de alerta para os pais e escola 

A orientadora sugere que, em primeiro lugar, deve-se atentar para os sinais não verbais, como:

  • dificuldade de relacionamento com seus pares ou familiares;
  • tristeza;
  • desinteresse pelas atividades que antes gostava;
  • dificuldade para dormir ou sonolência excessiva;
  • desânimo;
  • cansaço ou agitação extrema;
  • choro excessivo;
  • queda no rendimento escolar;
  • aumento da irritabilidade;
  • comportamentos explosivos ou agressivos.

“É fundamental uma escuta sensível, que vai além do que é dito e inclui o que é visto, sentido e percebido”, aponta Juliana. “As crianças podem apresentar dificuldade para expressar com clareza o que estão sentindo e, algumas vezes, elas não sabem nomear as próprias emoções”. 

De acordo com ela, essa é uma das razões da tendência a somatizar o sofrimento e queixarem-se de problemas físicos, pois é mais fácil explicar sensações concretas do que as de caráter emocional. 

Principais problemas que podem afetar as crianças

Juliana diz que são diversos os motivos, as queixas ou os problemas que afetam o bem-estar emocional das crianças e que levam os pais ou responsáveis a procurarem a ajuda de uma especialista. Além dos sintomas listados anteriormente, outras questões comuns são: 

  • timidez ou ansiedade excessiva; 
  • isolamento social;
  • medos que a impedem de fazer algo que poderia ou gostaria;
  • incapacidade de controlar a urina ou as fezes;
  • dificuldade de manter a atenção;
  • hiperatividade;
  • queixas frequentes vindas dos educadores.

A maioria desses comportamentos pode estar relacionada a dificuldades em lidar com situações novas, específicas ou desconfortáveis, como:

  • mudanças de escola, bairro, cidade, estado ou país;
  • doença ou perda de uma pessoa querida ou até mesmo de um animal de estimação;
  • crises conjugais ou separação dos pais;
  • alterações no estilo de vida por questões financeiras. 

Como os pais devem proceder nesses casos

Quando os pais ou responsáveis percebem que o filho apresenta algum sofrimento psíquico em função de uma dificuldade que nem ele e nem a família conseguem compreender ou encontrar recursos para enfrentá-la, é recomendável procurar a ajuda de um especialista. 

“A curva pela busca de apoio profissional para lidar com problemas de ordem emocional ou comportamental é crescente. Atualmente, percebemos as famílias cada vez mais conscientes de que essas dificuldades não podem ser negligenciadas, pois podem acarretar prejuízos na qualidade de vida e no desenvolvimento da criança tanto naquele momento quanto nas fases subsequentes de sua vida”, ressalta Juliana. 

Ela reforça que a “promoção de uma infância que preza pela saúde mental sinaliza no futuro um adulto emocionalmente estável e com recursos para superar os desafios e imprevistos inerentes ao dia a dia de todos nós.” 

A importância de encontrar um equilíbrio e os benefícios da terapia 

A orientadora salienta que, se por um lado, a identificação desses problemas não pode ser ignorada, por outro, eles também não devem ser superdimensionados

Para ela, o melhor termômetro na busca desse equilíbrio é considerar se há presença de impacto negativo no dia a dia da criança. A timidez, por exemplo, não representa em si um problema. “Contudo, devemos nos preocupar quando a timidez traz algum tipo de prejuízo, quando percebemos que em função do receio do que os outros vão pensar a seu respeito, a criança deixa de ir a uma festinha ou de participar de uma brincadeira.”

Outra forma de ponderar é considerar os comportamentos prévios que a criança apresentava. Se ela nunca gostou de futebol, não há por que se preocupar caso não queira participar de uma partida no intervalo da escola. “Mas se vivia com a chuteira embaixo do braço e passa a ficar sentadinha e amuada enquanto assiste os colegas jogarem, devemos nos atentar porque ocorreu uma mudança no padrão de comportamento, um desinteresse atípico por uma atividade antes prazerosa”, completa. 

Segundo Juliana, quando necessária, a intervenção terapêutica apresenta a função de um facilitador, auxiliando a criança na identificação das dificuldades e conflitos, bem como na busca de alternativas mais assertivas para lidar com eles. “Em paralelo, oferece acolhimento e orientações aos pais sobre como agir em tais situações”, conclui a coordenadora.



Juliana Góis é Orientadora Educacional de Apoio à Aprendizagem no Colégio Rio Branco, psicóloga e psicopedagoga, especialista em Neuropsicologia e mestre em Neurociência. Atua na área clínica e educacional.

Comentar