Superproteção: saiba como esse comportamento afeta as crianças e como evitá-lo

Mariana Abbate, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, dá dicas para os pais incentivarem o desenvolvimento da autonomia dos filhos

A família é um pilar essencial na construção da identidade, sendo responsável por propiciar ao indivíduo as suas primeiras experiências e vínculos emocionais. Algo que pode ocorrer nesse processo é a superproteção, ou seja, quando o responsável pela criança demonstra um cuidado em excesso, muitas vezes, sem perceber, ou com o intuito de demonstrar carinho. O problema é que, a longo prazo, isso interfere negativamente no desenvolvimento da autonomia.

“Quando, insistentemente, o cuidador impede ou cerceia a experiência, por medo do que pode acontecer à criança, acaba mostrando a ela que não é possível realizar, lidar ou resolver algo sem ajuda. Esse modelo é o que será aprendido pela criança. Ela entende que não é capaz de agir sem um adulto, o que pode afetá-la em diversos aspectos”, afirma Mariana Abbate, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco.

Por que a autonomia é tão importante?

No processo de amadurecimento, o desenvolvimento da autonomia é essencial, pois permite que a criança construa sua autoconfiança e autoestima, conforme se orgulha das próprias atitudes. Pensando a longo prazo, a autonomia também forma indivíduos mais responsáveis, independentes, expressivos e preparados para lidar com os desafios da vida adulta.

“Quando o desenvolvimento dessa habilidade é tolhida pelo adulto, observamos crianças extremamente tímidas, ansiosas, propensas a quadros de depressão e com baixa tolerância às frustrações. Esse quadro se estende na vida adulta”, diz Mariana Abbate.

A orientadora explica que a superproteção, ao prejudicar a autonomia, afeta negativamente a família inteira. Isso porque, mesmo crescendo, a criança (ou o adolescente) continua solicitando aos adultos que resolvam os seus conflitos, pois não desenvolveu os mecanismos necessários para agir por conta própria. Os pais, por não entenderem a razão dessa demanda, podem até acabar brigando com os filhos.

Como evitar uma abordagem superprotetora?

“Os pais superprotetores, não são diferentes de nenhum outro; são pais tentando fazer o melhor pelo seu filho”, afirma Mariana. Nesse contexto, é importante lembrar que criar uma criança é um processo constante de aprendizado, e os responsáveis devem estar abertos a adaptar suas abordagens.

Segundo a profissional, para criar filhos autônomos, os pais devem: deixar as crianças tomarem as próprias decisões; permitir que experimentem falhas e fracassos; dar espaço para relacionamentos sociais fora da família e encorajar a independência dos filhos. Para o último ponto, podem incentivá-los a assumir responsabilidades e a desenvolver habilidades práticas, como cozinhar, limpar a casa e gerenciar finanças pessoais (mesada).

Vale lembrar que, no desenvolvimento da autonomia, é necessário supervisionar a criança. A mãe e o pai devem atuar como coprotagonistas em situações que ainda possam exigir uma ajuda ou interferência. É um trabalho que demanda atenção redobrada e, por isso, é tão importante conhecer o desenvolvimento infantil e do adolescente, confiando na escola e nos professores do seu filho como peças aliadas.

Como incentivar a autonomia da criança?

Mariana Abbate fornece algumas dicas para ajudar cada faixa etária:

Crianças de 0 a 2 anos:

  • Ofereça um ambiente seguro para que a criança possa explorar livremente e se desenvolver;
  • Estimule a criança a realizar pequenas tarefas, como guardar seus brinquedos ou escolher sua própria roupa;
  • Dê liberdade para que a criança possa se alimentar sozinha, mesmo que isso resulte em sujeira ou desperdício.

Crianças de 3 a 5 anos:

  • Estimule a independência na hora de se vestir, pentear o cabelo e realizar outras atividades do dia a dia;
  • Incentive a criança a ajudar nas tarefas domésticas, como arrumar a cama ou colocar a mesa;
  • Dê espaço para que a criança possa tomar suas próprias decisões, como escolher o que quer fazer nas horas livres.

(Dica: elas devem escolher dentro das possibilidades viáveis para a família... Dê algumas opções para que ela possa escolher dentre o que foi ofertado!)

Crianças de 6 a 9 anos:

  •  Ensine a criança a lidar com o dinheiro, incentivando a economia e a compra de pequenos itens com seu próprio dinheiro;
  • Estimule a leitura e a pesquisa, para que a criança possa aprender a buscar informações por si mesma;
  • Incentive a prática de atividades físicas e esportes, ajudando a desenvolver habilidades de organização e disciplina.

Crianças de 10 a 12 anos:

  • Encoraje a criança a planejar e organizar seus estudos, definindo horários e estratégias para otimizar seu tempo de estudo;
  • Incentive a participação em grupos ou atividades que envolvam responsabilidade e liderança;
  • Dê espaço para que a criança possa tomar decisões mais complexas, como escolher suas atividades extracurriculares, mas mostre a importância e incentive-as a dar continuidade às suas escolhas e as consequências de desistir de cada uma delas;
  • Converse sobre responsabilidade!

Adolescentes:

  • Estimule a responsabilidade pelo próprio bem-estar, incentivando hábitos saudáveis e cuidados com a saúde;
  • Incentive a participação em atividades que envolvam o trabalho em equipe, como esportes coletivos ou grupos de música;
  • Dê espaço para que o adolescente possa tomar decisões importantes, como escolher sua carreira ou decidir sobre assuntos relacionados à sexualidade e relacionamentos.

“É importante lembrar que cada criança é única e que o desenvolvimento da autonomia depende de fatores como personalidade, ambiente familiar e socialização. Portanto, é necessário adaptar as dicas e ações de acordo com cada criança e família”, finaliza Mariana Abbate.

 

 

 

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