Como o uso constante das redes sociais impacta o desenvolvimento de crianças e adolescentes?

Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, explica a relação entre as mídias sociais e o desenvolvimento infantojuvenil, dando dicas para os pais realizarem uma supervisão adequada

Atualmente, os smartphones fazem parte do dia a dia das pessoas, com o compartilhamento de informações acontecendo a todo momento nas redes sociais. As crianças e adolescentes não escapam dessa dinâmica, acompanhando as vidas dos outros pelas telas, consumindo e postando conteúdos. Por um lado, isso pode quebrar barreiras físicas e da timidez, enquanto, por outro, aumenta a exposição de cada um.

Segundo um artigo da revista científica JAMA Pediatrics, publicado em janeiro de 2023, a recorrente checagem feita pelos adolescentes em mídias sociais está associada a mudanças na forma como os seus cérebros respondem aos estímulos do mundo real. A pesquisa partiu da Carolina do Norte e acompanhou 169 adolescentes em um período de três anos.

No estudo, os pesquisadores notaram que os jovens que verificavam as redes sociais repetidamente (mais de 15 vezes ao dia) tornaram-se mais sensíveis aos feedbacks sociais – recompensas e punições provindas do seu entorno. Considerando o fluxo imprevisível das mídias, com curtidas, comentários e notificações frequentes, esse uso pode trazer alguns prejuízos.

Como o uso frequente das redes sociais impacta o cotidiano e o emocional dos estudantes?

Nas redes sociais, crianças e adolescentes podem acessar a exibição de identidades e intimidades de outras pessoas, sejam elas do seu círculo social ou não. A questão é que, na maioria das vezes, as publicações consistem em recortes selecionados, idealizados ou, até mesmo, fictícios, com padrões inatingíveis.

“O acesso constante a este tipo de conteúdo pode gerar sensação de falta, insegurança e insuficiência - há uma distorção da realidade ao ponto do natural poder ser tido como imperfeito, aquém dos padrões compartilhados por outrem - o que pode aprisioná-los a padrões momentaneamente impostos pela sociedade. Nesse sentido, é preocupante o borrão que se fez entre o real e o que é falso, entre o que representa instantes da vida e o que na tela se transforma em espetáculo”, diz Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem da Unidade Higienópolis do Colégio Rio Branco. 

Nesse cenário, os pais devem se atentar a todos os conteúdos e imagens postados nas redes sociais dos filhos, assim como às buscas feitas e aos conteúdos acessados. Qualquer dado que é colocado na rede pode gerar repercussões com dimensões, consequências e impactos imprevisíveis - por vezes, negativos e prejudiciais a si ou aos outros. O excesso de informações, a propagação de fake news e o cyberbullying também são problemas que devem ser verificados.

Segundo Juliana, os pais podem observar alguns sinais para identificar se as redes sociais estão afetando a saúde mental dos filhos:

  • o acesso às redes sociais é a primeira coisa que ele quer fazer ao acordar e a última que realiza antes de dormir;
  • é realizado o comportamento de checagem das redes inúmeras vezes ao dia;
  • presença de sintomas de F.O.M.O (do inglês fear of missing out): medo de ficar por fora ao perder atualizações postadas nas redes sociais;
  • necessidade de interação como curtidas ou comentários para sensação de bem-estar;
  • trocar programas com amigos por ficar em casa interagindo com as pessoas via redes sociais;
  • preferir experiências/encontros sociais virtuais em relação aos presenciais.

Como ajudar os filhos a ter uma relação saudável com as redes sociais? 

“É fundamental monitorar o uso dos filhos nas redes sociais, bem como supervisionar as plataformas de jogos e as informações às quais crianças e adolescentes acessam no mundo virtual. Não existem regras ou manuais acerca de como isso deve ser realizado, mas algumas orientações podem auxiliar a tornar essa prática um hábito natural e com caráter de cuidado e carinho, ao invés de vigilância ou invasão de privacidade”, diz Juliana Góis.

Para ajudar os filhos a ter uma relação saudável com as redes sociais, confira algumas recomendações da Orientadora do Rio Branco:

  1. ACOMPANHE: reserve momentos na sua rotina para estar próximo ao seu filho, mesmo que estejam fazendo atividades diferentes. Essa aproximação espontânea e rotineira reforça os vínculos de confiança, a despeito da idade. Nós, adultos, devemos estar preparados para ter abordagens distintas conforme as faixas etárias, mantendo a possibilidade de um espaço para conversas naturais e acolhedoras.
  2. COLOQUE LIMITES: restrinja o tempo de tela conforme a idade do seu filho e deixe-os cientes, de forma natural, de que você estará acompanhando a maneira de interação e exposição nas mídias sociais.
  3. CONVERSE com seu filho: Escute o que ele tem a dizer e traga suas considerações. Faz parte da convivência e da relação pais e filhos a conscientização sobre os riscos e perigos do ambiente online. Cabe a cada família a decisão de quais redes serão permitidas acessar ou não, e qual será o tempo permitido de interação, em ambos os casos explique os porquês.
  4. ORIENTE: informe o seu filho para serem evitadas as conversas com estranhos e que, de forma alguma, sejam passados seus dados pessoais. Considere que a maioria das redes sociais não foram desenvolvidas para crianças. 
  5. ESTEJA ATENTO: observe se há sinais de assédio e, se houver qualquer suspeita, busque compreender o que está acontecendo e identificar o perfil envolvido. Além disso, atente-se à presença de conteúdos depreciativos online, busque saber quando, como e por que eles se iniciaram e quais os perfis envolvidos nessa prática.
  6. DENUNCIE: crimes de violência na internet podem ser denunciados por meio de um canal exclusivo: denuncie.org.br

 

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