Reabertura do Museu do Ipiranga: entenda como a visita ao espaço democratiza o acesso à História nacional

Ao conhecer o acervo do museu, o estudante pode relacionar conhecimentos multidisciplinares e expandir a educação para fora da sala de aula

Depois de mais de nove anos fechado, o Museu do Ipiranga, que possui um dos acervos mais importantes do Brasil, reabriu no dia 6 de setembro, para as comemorações do bicentenário da Independência, em um evento exclusivo para uma lista de 800 convidados, e no dia 08 de setembro para o público.

Celebrando a reinauguração do museu, o professor de História do Colégio Rio Branco, Pedro Castellan Medeiros, destrinchou a relação com a independência e a educação nacional. Confira:

“Pensar em um planejamento pedagógico articulado com outras instituições é fundamental para que nossas alunas e alunos possam compreender a educação para além da sala de aula. A educação está na rua, na comunidade em que vivemos e nos equipamentos culturais, como os museus”, afirma.

O educador aponta que o primeiro passo para esse planejamento é valorizar e conhecer as múltiplas possibilidades de espaços educacionais. A cidade de São Paulo oferece um extenso catálogo de museus, que abordam diversas temáticas. Cabe aos educadores conhecer essas organizações e criar, sempre que possível, conexões com o que é visto em aula.

Quando isso é feito, o professor pode trazer os materiais educativos para a sala de aula, ou fazer com que a escola organize visitas e produções em conjunto. “O museu não é só um espaço de ‘coisas velhas’, ele está vinculado ao ensino, à pesquisa, e é um espaço de extensão para o diálogo entre escola e equipamento cultural. Pode trazer uma conexão riquíssima, quando percebemos as potencialidades desses equipamentos.”

O Bicentenário da Independência e a ligação com o presente

Segundo o professor, discutir os 200 anos da Independência do Brasil consiste em, além de fazer conexões com o passado, projetar o futuro desejado para o país. “Observar esses 200 anos de Brasil é se perguntar para quem essas independências foram construídas e quais são os permanentes problemas sociais que se evidenciam hoje”, aponta.

Nesse sentido, é fundamental enxergar a pluralidade nacional, os espaços e grupos marginalizados e as lutas persistentes. Para esse exercício, a educação ocupa papel central. “É preciso conhecer a história brasileira, fazer uma reflexão crítica relacionando quais grupos sociais nela existiram e quais projetos foram vitoriosos”, completa. É dessa forma que os estudantes conseguem se tornar cidadãos críticos e aptos a atuar politicamente.

A Independência, o Museu do Ipiranga e as múltiplas disciplinas escolares

Por mais que a conexão mais óbvia seja com a disciplina de História, é possível exercitar diversas disciplinas ao visitar o museu ou analisar a independência nacional.

“Discutindo os 200 anos de Brasil independente, cabe analisar as artes, a cultura e olhar para o patrimônio do Museu do Ipiranga, para as construções que são tombadas, enquanto bens patrimoniais. Podemos olhar para o nosso meio ambiente, as florestas, os biomas e os problemas que se encontram nele. Vale buscar as possibilidades tecnológicas de inovação e perceber que essas são fruto de um processo histórico de tentativas de alcançar as necessidades humanas.”

E cada ponto trazido pelo professor é um conjunto de conhecimentos, que pode servir como instrumento para lidar com o tema de maneira multidisciplinar.

Discussões de narrativas em sala de aula

Em suma, seja no século XIX ou XXI, o Brasil é marcado por uma pluralidade de grupos e ideias. Nesse quesito, a educação ocupa a importante função de incentivar e promover a discussão de pensamentos.

“Há aqueles que construíram em torno de D. Pedro a figura de um herói nacional, enquanto outros vão selecionar grupos distintos, que não estão na construção de uma memória oficial, como escravizados, indígenas e mulheres. Essas disputas de narrativas acontecem em todos os períodos históricos. Perceber as possibilidades de análise do passado é conseguir olhar para alguns temas delicados, que precisam, sim, da mediação de uma professora ou professor qualificado”, finaliza o profissional.  

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