Setembro Amarelo: educador alerta sobre riscos dos ataques virtuais e comentários negativos nas redes sociais

É cada vez mais urgente falar sobre comportamentos negativos e agressivos na internet, e seus efeitos colaterais na sociedade.

Durante todo o Setembro Amarelo, assim como em todos os meses do ano, é importante estar atento aos sinais, sentimentos e motivações que possam levar uma pessoa a cogitar ou chegar ao extremo de tirar a própria vida.

A prevenção é fundamental, garantindo ajuda e atenção adequada. De acordo com o Centro de Valorização da Vida (CVV), a primeira medida preventiva é a educação. É preciso perder o medo de falar sobre o assunto. O caminho é quebrar tabus e compartilhar informações. Esclarecer, conscientizar, estimular o diálogo e abrir espaço para ações que contribuam para tirar o assunto da invisibilidade.

O suicídio é uma das principais causas de morte de pessoas entre 15 e 29 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, os números aumentaram nos últimos anos e alguns fatores relacionados ao uso da internet também têm chamado a atenção de especialistas de diversas áreas para algo que vem se tornando recorrente na sociedade e especialmente no universo jovem: os ataques virtuais.

A “cultura do cancelamento”, a intolerância ao diferente ou contraditório, a exposição de fotos, o incentivo a jogos e desafios perigosos, a propagação de fake news e discursos de ódio, se misturam em uma perigosa teia, que além de configurarem crimes cibernéticos, em muitos casos, também esbarram no cyberbulliyng – definição para o bullying praticado no ambiente virtual por meio de aplicativos de mensagens, plataformas de jogos e mídiais sociais, com o objetivo de assustar, expor, ofender, isolar, envergonhar e até chantagear as vítimas. 

Crianças e adolescentes, por dominarem o uso dessas ferramentas e transitarem facilmente por elas, podem se tornar ainda mais vulneráveis. Tão devastador quanto o bulliyng “tradicional”, esse tipo de experiência pode levar a quadros de baixa autoestima, ansiedade, medo, depressão, embotamento afetivo, timidez excessiva, fobias sociais e diversos transtornos psicológicos, físicos e até morais e materiais, já que algo compartilhado na internet pode alcançar milhares de pessoas, conhecidas e desconhecidas.

Para falar um pouco mais sobre o tema, o pedagogo e professor de Tecnologia e Letramento Digital do Colégio Rio Branco, Jorge Farias, responde algumas perguntas e  atenta sobre a importância de observar o comportamento de crianças e jovens; e manter uma postura educativa em relação ao uso da internet, com filhos, familiares e alunos.

Como orientar e ajudar as crianças e adolescentes a não se abaterem emocionalmente com comentários negativos, nem cair facilmente em provocações, pegadinhas ou desafios constrangedores nas redes sociais e outros canais?

JF: Primeiro, crianças e adolescentes precisam se sentir protegidos por suas famílias. Conversar sobre os possíveis perigos ao navegar na internet é uma forma de criar esse vínculo de segurança. Entender a rotina dos filhos na Internet também deixará os pais mais seguros. Precisam combinar um método de alerta caso se depararem com situações constrangedoras. Devem ensiná-los a não responder caso a conversa seja ofensiva ou um desafio apareça e a "tirar um print" da tela para enviar aos pais. Ensinar a bloquear conteúdos ofensivos e pessoas nocivas também é um método eficaz. O sentimento de proteção que foi nutrido com a família deixará sempre sua autoestima elevada e os métodos de alerta deverão sempre ser lembrados.

Como a escola e as famílias devem estar atentas a comportamentos diferentes apresentados pelas crianças e jovens?

JF: Quando a autoestima foi prejudicada e eles não se sentem seguros, podem aparecer comportamentos negativos. É importante sempre redobrar a atenção quando notar: agressividade verbal (palavrões, tom agressivo, reações ofensivas aos pais, irmãos e amigos), quando usam o cabelo para esconder o rosto sempre, quando as roupas e decoração são mais sombrias, quando falta paciência para conversar, quando o senso de justiça está desequilibrado (deseja uma punição mais pesada do que a situação exige), e quando há repentina baixa no rendimento escolar, assim como isolamento.

Na sua opinião, atualmente o bullying acontece mais no ambiente virtual ou real, presencial?

JF: No virtual, se caracterizando cyberbullying. A distância e a possibilidade de esconder o próprio rosto e, às vezes, a identidade, torna os praticantes de bullying mais ousados e agressivos, pois têm a sensação de impunidade.

Pode dar alguns exemplos de trabalhos realizados no Colégio Rio Branco sobre o assunto?

JF: São muitas as ações em diversas áreas, mas no 5º ano do Ensino Fundamental, por exemplo, trabalhamos na disciplina Letramento Digital, a programação de uma história no Scratch que aborda fake news e cyberbullying. A professora Vanessa Sobrino, de História, trabalhará racismo neste ciclo com o 7° ano e farei parte, a partir da semana que vem, deste projeto. No 5º ano, também, a professora Teresa Baroquelo tem um grupo de alunos dedicado a pesquisar sobre ações antibullying, do qual sou conselheiro.

Papel da escola

Além das ações citadas pelo professor, o Colégio Rio Branco trabalha com temas trazidos pelos jovens, conflitos e saúde mental em atividades diversas como palestras para as famílias, rodas de conversas e nos componentes curriculares Cotidiano Em Questão (Coquest) e Jovem em Perspectiva para alunos do 9° ano do Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, além de discussões em atividades extracurriculares e projetos como o Coletivo Humana Mente.

Avanços na legislação

- Lei Carolina Dieckmann (nº 12.737/2012): é uma alteração no Código Penal Brasileiro voltada para crimes e delitos virtuais. Com o avanço da tecnologia, a democratização e o acesso facilitado às redes sociais, o sistema judiciário viu a necessidade de tipificar crimes cometidos no ambiente digital. Sancionada em 2 de dezembro de 2012 pela presidente Dilma Rousseff, esse foi o primeiro texto a tipificar crimes cibernéticos, tendo como foco, as invasões a dispositivos que acontecem sem a permissão do proprietário. O nome da lei é uma referência à atriz brasileira, vítima de crime dessa natureza.

- Já a Lei nº 13.185 que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional foi sancionada em 6 de novembro de 2015, também pela presidente Dilma Rousseff. Em Parágrafo Único, o documento também determina: “Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores (cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial”.

Desde então, projetos de lei relacionados ao tema têm avançado e outros atualmente tramitam no congresso.

Setembro Amarelo: ajude a manter viva essa cor!

De acordo com o Centro de Valorização da Vida (CVV), um dos criadores da campanha de conscientização Setembro Amarelo, junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas.

Atenção! Se você chegou até aqui e sente que precisa conversar, procure um familiar, um amigo, um educador ou alguém em quem você confia, ligue para 188 ou acesse www.cvv.org.br

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail ou chat 24 horas, todos os dias. No momento em que você começar a falar, tudo ficará mais fácil.

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