Youtuber e ex-aluno nota mil no Enem fala sobre a redação e dá dicas para o 2° dia da prova

Em 2018, o ex-aluno Lucas Felpi, da unidade Granja Vianna do Colégio Rio Branco foi um dos 55 estudantes que tiraram nota 1000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Além disso, Felpi também conquistou 988,7 em Matemática e pontuações altas nas demais áreas.

O estudante também ficou conhecido por ter citado a série Black Mirror, da plataforma de streaming Netflix na redação, o que o ajudou a ganhar milhares de seguidores em suas páginas no TwitterInstagram e em seu canal no YouTube, e se transformar em um influenciador digital em educação – oportunidade que encontrou para ajudar com dicas sobre estudos, mentoria, dia a dia acadêmico, temas da atualidade e provas para estudantes de todo o país.

Aprovado em vestibulares de universidades públicas no Brasil e em instituições de ensino no exterior, atualmente o estudante cursa Ciência da Computação e Ciência Política na Universidade de Michigan (EUA) e recebeu o prêmio “The William J. Branstrom Freshman Prize”, destinado aos calouros que se posicionam entre os 5% melhores novos estudantes durante o primeiro semestre na instituição.


Lucas estuda Ciência da Computação e Ciência Política na Universidade de Michigan (EUA)

O contato com estudantes de todo Brasil fez Lucas conhecer mais sobre as dificuldades e diferentes realidades no país. Atento às necessidades e disparidades sociais entre alunos, Lucas Felpi também publica e disponibiliza gratuitamente uma cartilha digital com as redações nota mil do Enem, todos os anos – que são utilizadas por alunos e professores nas escolas.

Para falar sobre o Enem 2020, fazer um balanço sobre o primeiro dia da prova e os principais aspectos que envolveram a preparação dos estudantes ao longo do ano, dicas para a segunda fase no próximo domingo (24/1) e expectativas para 2021, Lucas Felpi responde as perguntas a seguir. Confira!

O que você achou do tema escolhido para a redação dessa edição: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira"?

LF: Achei o tema muito pertinente, relevante e atual, bem próximo da realidade dos alunos e dos jovens. Um tema que já estava muito em pauta e não foi uma surpresa tão grande quanto o tema do ano passado: “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, que foi um assunto diferente, que ninguém estava falando muito e desviaram a discussão para esse tema. A de 2020 foi uma pauta que estava cada vez mais crescente, principalmente com a pandemia.

Quais foram as principais dificuldades dos candidatos com o tema?

LF: Eu diria que a principal dificuldade, muito sentida e discutida nas redes sociais foi a palavra “estigma”. Houveram problemas com a interpretação dessa palavra, por não ser tão usada. Não entendi o motivo do Inep não ter usado outra sinônima, pois causou bastante confusão. Nos textos motivadores fala-se muito sobre o preconceito, discriminação, a conotação negativa e os estereótipos dados às doenças mentais, então muitos jovens não conseguiram desenvolver o tema ou acabaram se desviando para outras questões relacionadas às doenças mentais. Vamos torcer para que a banca não tenha uma correção tão severa nesse aspecto: pela dificuldade com a palavra “estigma”.

Para ir bem na redação, quais os principais fatores e técnicas que o estudante deve desenvolver?

LF: O aluno precisa desenvolver e cumprir algumas competências, algumas delas são: elaborar uma proposta de intervenção que tenha a ver com a sua argumentação ao longo do texto e incluir repertórios socioculturais. Essa bagagem sociocultural que o aluno leva para embasar os argumentos não pode vir só da cabeça ou da opinião do aluno, deve ser externo para conseguir embasar esses argumentos com fatos e exemplos reais. Deve-se usar muitos conectivos, ter uma coesão textual bem estabelecida, coerência textual, e, claro, o domínio da norma culta. São elementos fundamentais.

O que você achou sobre o conteúdo do primeiro dia da prova?

LF: Achei interessantíssimo como tiveram temas atuais sobre a igualdade de gênero, a valorização da mulher, o abuso sexual, os papeis de gênero. Muitas questões, principalmente na parte de Linguagens, por isso, o candidato precisa estar mais ligado nos assuntos atuais que estão sendo discutidos e as redes sociais são um grande veículo para essas pautas. O Enem está cobrando cada vez mais esse conceito de atualidades, de movimentos sociais, então é muito importante estar antenado. A redação também foi um tema muito atual, então esses dois aspectos me agradaram bastante em relação ao conteúdo e espero que a segunda aplicação e o Enem Digital sigam esse mesmo padrão: próximo do aluno e pertinente para o desenvolvimento pessoal e profissional desses candidatos.

Na sua opinião, quais os principais aspectos que envolveram a realização da prova em um dos piores momentos da pandemia?

LF: Em primeiro lugar, acho que foi uma prova muito mais injusta pelas desigualdades reforçadas pela pandemia e levadas ao extremo. As disparidades que veremos nos resultados serão tremendas, já que a maioria dos alunos, principalmente das escolas públicas, não tiveram acesso às aulas online com a regularidade necessária, como nas particulares. Segundo, foi uma prova perigosa em termos de saúde, insalubre e que arriscou a vida de muitos jovens. Comprometeram vidas para fechar o calendário acadêmico de 2020, o que na minha opinião, não era necessário, não era atividade essencial e dava para ser postergada. Não vamos conseguir mensurar as consequências da realização dessa prova agora, seja pela fatalidade de alunos ou de impactos da doença entre familiares, parentes, avós que moram com esses estudantes. Milhões de candidatos no país inteiro.

Baseado no relacionamento com os seus seguidores e em tudo o que você acompanhou ao longo de 2020, com relação ao preparo e dificuldades impostas pela pandemia, qual a expectativa geral para esse ano e o Enem 2021?

LF: A expectativa para o Enem 2021 é que também seja uma prova bastante desigual, pois não temos certeza do retorno às aulas presenciais, um fator primordial para os milhões de estudantes da rede pública em todo o país. Mesmo com uma previsão da vacina e uma possível reabertura total das escolas, talvez em julho, ainda assim seria um tempo muito curto para os alunos que estão ingressando na 3ª série do ensino médio conseguirem se preparar. Acho que será um ano muito difícil e estamos vendo cada vez mais um quadro de ansiedade generalizada desses estudantes, por não conseguirem estudar na pandemia e se concentrar em casa, e pela situação geral que é bastante desgastante para qualquer pessoa nesse momento.

Quais as principais dicas para o segundo dia da prova, no próximo domingo 24/1?

LF: Uma recomendação que sempre dou, antes de tudo, é esquecer o primeiro dia. Já passou! Não importa se já corrigiu com gabarito, já viu algum resultado, não importa. Vá para o segundo dia tranquilo, anda é possível compensar a sua nota e tem sempre como melhorar. Matemática vale muito no Enem, então a nota pode ser alavancada pelo segundo dia. É muito importante focar em Matemática, Ciências da Natureza e esquecer Linguagens, Ciências Humanas e redação nesse momento. Sabemos que a prova é bastante extensa no segundo dia, com muitas questões e muitos cálculos, então uma recomendação é intercalar as matérias, não fazer tudo de Matemática ou Física de uma vez. É importante fazer algumas de cada área, depois voltar e, principalmente, intercalar questões de cálculo com questões teóricas para o aluno poder ter esse descanso, essa pausa mental. Outra dica é não fazer as questões na ordem em que são apresentadas, isso ajudará tanto no tempo quanto na performance. É sempre melhor começar pelas questões mais fáceis, ler os enunciados na ordem em que são apresentadas, mas deixar as difíceis por último. A pior coisa que pode acontecer é fazer a prova inteira na ordem, não dar tempo de chegar ao final e perder cinco ou seis questões fáceis que não foram possíveis ser finalizadas por falta de tempo e não garantir a pontuação por TRI (Teoria de Resposta ao Item). Isso vale tanto para Natureza quanto para Matemática. Essa é uma das maiores dicas, que podem ajudar tanto no emocional quanto no resultado.

 

Não esquecer a máscara, ter uma reserva para trocar, o álcool gel e boa prova!

 

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