Ponto de Vista

Histórias de Professores

Por Esther Carvalho

Quem vive o cotidiano escolar tem muitas histórias para contar. Não existe um dia igual ao outro, não existem receitas prontas para lidar com os desafios que se apresentam e, mesmo que se tenha muita experiência pessoal, profissional e institucional, há sempre novas situações para serem experimentadas e superadas. Nós, educadores, dizemos que, longe do tédio, escola é um espaço de muitas emoções!

No caso da sala de aula, espaço em que há gente formando gente, tomamos contato, mais intensamente, com variáveis complexas que envolvem essas relações. Dentre elas, temos: a diversidade, as especificidades, as expectativas, os valores e projetos pessoais de cada indivíduo, assim como valores e proposta educacional da instituição. Nesse mosaico, destaca-se a importância do professor. Não há instalações, infraestrutura, tecnologia, proposta educacional que superem a necessidade de se ter, em sala de aula, professores motivados, bem preparados, comprometidos com a causa da educação, identificados com o projeto das instituição e, mais do que tudo, reconhecedores da própria importância na vida dos alunos com quem convivem.

Sendo assim, como diretora, comecei a buscar as histórias de professores, em especial aquelas que narram em que momento de suas vidas escolheram estar em sala de aula e exercer a profissão de educar. Comecei pelos novos ingressantes na instituição. Na fase final de um processo seletivo, criterioso e exigente, os professores candidatos passaram por uma entrevista. Por meio de perguntas como: Por que educação? Por que se tornou professor(a)?, tive oportunidades de me deparar com depoimentos ricos e interessantes. Mais do que as informações ali trazidas, destacavam-se as expressões faciais de quem as contava.

As respostas dessas pessoas, de histórias e trajetórias tão diversas, ao mesmo tempo que me encantavam, faziam seus olhos brilharem ao falarem de suas escolhas. Alguns nunca se imaginaram professores e descobriram, quase que ao acaso, sua vocação. Outros relataram que, desde a infância ou juventude, já se projetavam como tal. Alguns foram inspirados por professores e seguiram seu caminho. Outros, ao contrário, marcados, negativamente, por algum docente, resolveram ser o seu oposto. Há aqueles que se imaginavam apenas pesquisadores e se descobriram professores. Alguns vieram de áreas tão diferentes da docência e, ao se depararem com essa experiência, mudaram seu caminho. Outros até tentaram não ser professor, mas acabaram cedendo aos seus próprios desejos.

A cada narrativa que ouvia, era instigada a perguntar, a cada um deles, se contava a seus alunos o porquê de ter se tornado professor. Embora possa não ser compartilhado verbalmente, a clareza e a natureza desse sentido é o que muda, significativamente, a forma como o professor conduz sua aula, enfrenta os desafios do cotidiano, projeta seu trabalho e, mais do que tudo, inspira, ou não, seus alunos. A negativa, na maioria das respostas, fez-me pensar o quanto seria importante que o fizessem. Seria uma oportunidade de criar empatia, vínculos, de resgatar para si e explicitar para os outros o sentido de sua escolha profissional e pessoal.

A valorização do professor começa por ele mesmo. Nenhum professor que, hoje, atue na área pode dizer que foi surpreendido pelos imensos desafios dessa profissão no Brasil e em grande parte dos países. Sem tirar a responsabilidade do Estado e da sociedade como um todo, em termos de valorização da Educação e da profissão docente, políticas de formação, desenvolvimento profissional, valorização e retenção de talentos, a escolha de ser professor não pode ser por falta de escolha.

 

Ponto de Vista
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco