Ponto de Vista

A escola voltada para o aluno

Por Esther Carvalho

A perspectiva que se delineia no título dessa reflexão pode levar, a princípio, a uma ideia de redundância ou de obviedade. Afinal, a escola é a instituição responsável pela formação das novas gerações, o que pressupõe toda sua ação voltada para o desenvolvimento pleno da pessoa e do cidadão produtivo. Deve ter, por princípio, acolher e educar suas crianças e jovens, pautada na diversidade, na tolerância, no respeito e no conhecimento de diferentes culturas. Visa à formação de cidadãos éticos, solidários e competentes, comprometidos com a paz, com o meio ambiente e com uma sociedade mais justa.

A escola voltada para o aluno pressupõe competência e conhecimento do professor para desenvolver propostas consistentes, com metodologias diversas, a fim de envolver seu aluno no processo de aprender a aprender. As tecnologias da informação e da comunicação trazem novos desafios e novas possibilidades nesse sentido. Dentre os desafios, encontra-se a necessidade de compreender esses novos ambientes de se relacionar, de aprender, de se expressar e utilizá-los a favor da proposta educacional. O ambiente virtual traz, também, discussões éticas, que precisam ser conduzidas com nossas crianças e jovens. Dentre as possibilidades, vemos o imenso potencial de diferenciação do trabalho educativo, não se restringindo à mídia impressa, por meio de tecnologias, que atendem às necessidades e interesses específicos de cada criança e jovem.

Os conteúdos trabalhados sob essa ótica não podem ser entendidos como fins em si mesmos, mas, sim, como meios para atingirmos essa formação. O aluno deve compreender o mundo à luz das diferentes ciências e desenvolver competências e habilidades para viver nesse mundo. Nesse sentido, não se pode prescindir do rigor acadêmico no cotidiano escolar.

Quanto aos alunos, esses devem ser compreendidos como agentes dinâmicos, que possuem experiência personalizada, expressam-se publicamente e de maneira não linear e são construtores de conhecimento multimídia. Aprendem com os adultos, com seus pares, em tempos e locais diferentes. Cabe aos educadores organizar as propostas de aula alinhadas a essas características, assumindo novos papéis daqueles, tradicionalmente, conhecidos no processo de ensino-aprendizagem. Os olhares devem voltar-se não ao que foi ensinado, mas, sim, para o que o aluno aprendeu, se está motivado, se encontra sentido em suas experiências escolares, se está construindo seu projeto de vida.

Sob a perspectiva da gestão, é fundamental que os objetivos e práticas do diretor de uma escola voltada para o aluno reflitam, diretamente, nesses três elementos fundamentais: o aluno, seu comprometimento com sua aprendizagem, o conhecimento e a competência do professor e o aprimoramento do nível do conteúdo. Esses elementos devem ser considerados desde escolas a sistemas educacionais e para a formulação de políticas públicas.

Os caminhos dessa escola voltada para o aluno passa, necessariamente, pelo desenvolvimento profissional de professores, diretores, equipes técnicas e demais gestores educacionais. Benchmarking sobre melhores práticas e sistemas educacionais de diferentes países que se destacam por exemplo, no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), da OECD, são fundamentais para nos inspirar a pensar e desenvolver novas propostas a partir do que somos. Outra forma é utilizar-se da tecnologia para fazer parte de comunidades de aprendizagem de educadores e acessar cursos a distância. Assessoria externa para o desenvolvimento de competências internas à instituição também é fundamental.

Participação em reflexões educacionais com universidades brasileiras e estrangeiras, como, por exemplo a Universidade de Harvard, permite-nos aprofundamento em temas como: qualidade em educação; redesenhando o ensino médio, plantando sementes para uma sociedade mais criativa; o futuro da aprendizagem sob a perspectiva da revolução digital, da globalização e das pesquisas conectando mente, cérebro e educação, documentação pedagógica. Algumas dicas de pesquisadores e autores: Howard Gardner, Kurt Fischer, Richard Elmore, David Perkins, Keith Merseth, Mitchel Resnick, Allan Collins, Marcelo Suárez-Orosco, Loris Mallaguzzi, nossos Paulo Freire, Celso Antunes, dentre tantos outros.

É um rico e desafiador caminho a ser percorrido por todos aqueles que escolheram assumir a profissão de educar para o mundo contemporâneo e para as próximas décadas. Há muita lição de casa a ser feita para prepararmos nossos alunos para viverem ética, criativa e reflexivamente, um mundo de rápidas mudanças.

 

Ponto de Vista
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco