Ponto de Vista

Qualidade de ensino e desenvolvimento profissional de educadores

Por Esther Carvalho

Na quarta edição do Prêmio Nacional de Gestão Educacional, PNGE, cuja cerimônia de premiação deu-se no dia 24 de março, o Colégio Rio Branco, da Fundação de Rotarianos de São Paulo, trouxe sua experiência de desenvolvimento profissional de educadores como base para a qualidade do ensino e aprendizagem, sendo agraciado como vencedor na categoria denominada Gestão de Pessoas.

Esse importante reconhecimento em práticas de gestão educacional deu-se por algumas iniciativas desenvolvidas, nos últimos anos, de forma sistemática e organizada, na direção de uma educação de qualidade, alinhada ao mundo contemporâneo - mundo esse que traz a globalização, novas tecnologias da informação e da comunicação, diferentes tipos de comunidades de aprendizagem, novos impactos nas relações de emprego e trabalho, novas formas de ler o mundo, de interagir, de ensinar, de aprender, de conhecer e novos desafios éticos advindos dessas experiências.

O aluno não é o mesmo de nossos tempos de educação básica. A ideia anterior de terminalidade de estudos foi substituída pela visão de que aprender a aprender, em qualquer tempo e lugar, é uma competência fundamental a ser desenvolvida em todos - crianças, jovens e adultos - para que tenham espaço como pessoas e cidadãos no mundo de hoje e de amanhã.

A escola, por sua vez, não é mais a única instituição provedora de educação formal. Experiências de Home Schooling, ou seja, escolarização em casa, com validação de sistemas educacionais em países como, por exemplo, os Estados Unidos, são exemplos, dentre muitos, dessa afirmação.

Por outro lado, a simples constatação das mudanças no cotidiano da escola e fora dela ou o aprofundamento sobre novas concepções de educação não refletem, diretamente, em ações de mudança nas práticas de sala de aula, nas relações de ensino e de aprendizagem. Processos de mudança devem ser embasados pelos seguintes aspectos: criação de demanda por parte da instituição, desenvolvimento profissional, infraestrutura, controle e regulação.

De sistemas educacionais e seus diferentes âmbitos a instituições isoladas, seja de ensino público ou privado, a implementação de mudanças e aprimoramento da qualidade do ensino e da aprendizagem passa, necessariamente, pelo desenvolvimento profissional de educadores, com destaque para os docentes. Eleonora Villegas-Reimers, doutora pela Universidade de Harvard, professora da Wheelock College, Boston, MA, tem atuado como consultora de diversas organizações internacionais, como Unesco, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outras, e tem refletido, em suas pesquisas e publicações, seu interesse em aprimorar o desenvolvimento profissional docente, especialmente em países em desenvolvimento. Autora do livro Desenvolvimento profissional docente - uma revisão internacional da literatura, da Unesco, a drª. Reimers destaca o impacto positivo do desenvolvimento profissional docente nas crenças e práticas dos professores em sala de aula; no aprendizado e aquisição dos alunos e nas reformas escolares e dos sistemas educacionais.

Outro aspecto destacado por Eleonora é que professores são profissionais e, portanto, têm responsabilidade sobre seu desenvolvimento. Não são treinados ou capacitados, mas, sim, educados no sentido amplo da palavra. Devem ser organizados em organizações profissionais e não apenas em sindicatos e são produtores e não, apenas, consumidores de conhecimento.

O desenvolvimento profissional de educadores não se dá por uma única ação, mas, sim, por um conjunto delas, organizadas sistemática e regularmente com objetivos de médio e longo prazo. Alguns caminhos que traçamos: atuação sob a perspectiva de planejamento estratégico compartilhado, envolvendo diversos segmentos da instituição; explicitação e disseminação do Projeto Político Pedagógico, definição do que chamamos de Eixos de Aprimoramento Pedagógico; implementação de processos contínuos de formação; observação de aula para dar suporte e feedback ao professor; avaliação profissional bianuais; aprimoramento do processo de planejamento anual; aprimoramento do processo seletivo de docentes e preparo do professor para ingresso em sala de aula.

O discurso inovador está presente na maioria das instituições e sistemas educacionais. Temas como: mente, cérebro e educação; ensinar para o desconhecido; ensinar para a criatividade; desenvolver competências e habilidades; o aluno como protagonista de sua aprendizagem; impactos da globalização na formação dos indivíduos indicadores internos e externos de qualidade, fazem ou devem fazer parte da agenda das instituições de ensino. Entretanto, fazer com que a escola de nossa cabeça aconteça dentro das salas de aulas passa por um caminho árduo e longo, que tem de ser bem traçado e perseguido por todos, nas suas diferentes esferas de atuação, e passa, necessariamente, pela valorização, formação e desenvolvimento profissional do professor.

 

Ponto de Vista
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco