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Dia Mundial da Educação: Laços do passado

Carolina Sperandio, coordenadora pedagógica

Conheci o Pepito em dezembro de 1979. Guardo-o comigo desde então. Assim, como guardo afetivamente, essa senhorinha de sorriso largo, que hoje tem cabelos de algodão, chamada Cecília Rossi.

Eu tinha acabado de completar 8 anos quando fui promovida para a 3ª série do antigo primário, em uma escola pública na Freguesia do Ó, bairro tradicional da zona norte de São Paulo, em que estudei até o final do Ensino Fundamental.

Ela presenteou a todos os seus alunos com um livro no último dia de aula. E nos dizia que o que estávamos aprendendo na escola seria nosso maior tesouro.

Quarenta e dois anos me separam daquele momento; as páginas do livro estão amareladas, parecem esfarelar e sua capa está solta, seu significado, porém, está intacto.

Reencontrar a dona Cecília, graças às redes sociais, e conversar com ela por videochamada foi uma experiência indescritível. Mostrei o livro presenteado e, diante da surpresa, ela chorou. Chorei também.

Aos 90 anos, se lembrou de vários acontecimentos daquele ano, falou com saudade da escola pública e mantém a mesma voz forte de quando eu era criança. Voltei no tempo por uns momentos, mas também me vi hoje em sua posição de 40 anos atrás. Foi uma experiência impactante porque vi passado, presente e futuro numa mesma pessoa e em mim.

A Dona Cecília era o tipo de professora que a gente enchia a boca para dizer: Ela é a minha professora! E aquela escola era cheia de ‘donas Cecílias’.

Tive sorte com todas as professoras que me ensinaram; eram mulheres de personalidade forte e exigentes. Eu não sabia a época, mas hoje vejo que as admirava porque, além de tudo, faziam o que faziam com amor, intensidade e crença de propósito. Me sinto privilegiada por ter tido essa vivência e posso dizer que vivo a Educação há 45 anos, afinal nunca saí da escola e apesar de todos os desafios e contradições, ela nunca saiu de mim também.

Eu não imaginava como seria meu futuro aos 8 anos de idade, embora sempre dissesse, segundo a minha mãe, que seria professora, mas olhando pelo retrovisor, tenho convicção que todas elas estão em mim.

É por causa de pessoas como ela, e de tantas outras histórias que conhecemos, que a Educação, representada pela escola, por professores e alunos, é chama acesa dentro de cada um de nós e sobrevive, como esse bem maior, geração após geração, independente de qualquer mazela. Oxalá seja sempre assim!