8 situações em que é importante saber dizer “não” para o seu filho

Aprender a lidar com frustrações e conflitos na infância é essencial para o desenvolvimento cognitivo, emocional e moral das crianças, pois é nesse período que se constroem as bases da autorregulação e da resiliência. 

“O desenvolvimento da autorregulação e da resiliência, que têm início nos primeiros anos de vida, é contínuo e permanece ao longo da vida. Esses processos inicialmente são externos e mediados por adultos e, aos poucos, vão se tornando internos, à medida que a criança amadurece e internaliza as regras sociais e afetivas”, explica Simone Costa, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Ela diz que as experiências vividas com frustrações controladas, vínculos afetivos seguros e oportunidades de superação são essenciais para que a criança desenvolva a capacidade de enfrentar adversidades. “Segundo Winnicott, pediatra e psicanalista britânico, é fundamental que a criança experimente pequenas doses de frustração para desenvolver um verdadeiro senso de realidade e autonomia, sendo a frustração tolerável uma oportunidade para o amadurecimento psíquico”, completa.

Isso significa que o enfrentamento de conflitos interpessoais e intrapessoais são extremamente importantes, uma vez que possibilitam que as crianças compreendam diferentes perspectivas e internalizem regras sociais. “Ao permitir que encarem e elaborem essas situações, com apoio e orientação, colaboramos para a formação de sujeitos mais empáticos, equilibrados e capazes de lidar com os desafios da vida adulta”, afirma a coordenadora.

 

Limites e desenvolvimento infantil 

Assim, apresentar limites para as crianças é fundamental para o seu desenvolvimento porque oferece segurança e orientação na construção da sua identidade. Simone cita o psicanalista francês Lacan, para quem os limites funcionam como uma inscrição simbólica da lei, necessária para que a criança compreenda que não é onipotente e que há regras que regem a convivência social

“Limites firmes e afetivos ajudam a criança a se sentir contida e protegida, criando um ambiente previsível que favorece o amadurecimento e o processo de internalização das normas sociais. Isso possibilita o desenvolvimento do juízo moral e da cooperação, bem como a compreensão do meio que está inserida”, ressalta. “Longe de serem formas de repressão, castração ou punição, os limites estruturam a formação do ser humano. Por isso, eles são essenciais.”

 

Importância de dizer não

A coordenadora lista algumas situações em que os pais podem dizer “não” para seus filhos sem carregarem um sentimento de culpa ou dúvida, já que estão promovendo inúmeras aprendizagens para eles. Confira:

  1. Quando a criança quer substituir as refeições por guloseimas ou fast food: para ela aprender sobre hábitos alimentares saudáveis e autocontrole desde cedo.
  2. Quando se recusa a cumprir regras básicas da rotina, como escovar os dentes ou tomar banho: para ela desenvolver a responsabilidade com a higiene e rotina pessoal.
  3. Quando exige algo fora das condições financeiras da família: oportunidade para falar sobre o valor do dinheiro, além do trabalho com a educação financeira e com a importância de limites reais.
  4. Quando quer usar dispositivos eletrônicos por tempo excessivo: para proteger a saúde mental e física da criança e favorecer outras formas de aprendizado e lazer.
  5. Quando insiste em dormir muito tarde regularmente: para promover um desenvolvimento físico e mental adequado à faixa etária.
  6. Quando quer interromper conversas ou tarefas dos pais o tempo todo: para ela compreender e respeitar o espaço e o tempo dos outros, além de exercitar a paciência.
  7. Quando deseja adquirir um novo brinquedo apenas por impulso: para ela desenvolver o autocontrole e compreender a importância do consumo consciente e do valor das conquistas.
  8. Quando se recusa a aceitar que perdeu em jogos e brincadeiras ou esperar a sua vez: para ela aprender a lidar com frustrações de forma saudável, fortalecendo a resiliência e autorregulação.

Simone reforça que saber dizer “não” em situações do cotidiano não é um ato de rejeição e sim de cuidado e amor. “Quando a apresentação dos limites vem acompanhada de acolhimento e explicações adequadas, ela é capaz de colaborar para a formação de crianças mais equilibradas, respeitosas e preparadas para os desafios da vida”, afirma.

 

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