Filhos e vida profissional: como encontrar o equilíbrio entre essas demandas?

Tornar-se mãe não significa abdicar de sonhos e projetos, mas é preciso refletir sobre possibilidades e desejos para exercer a maternidade de forma saudável

Nas famílias contemporâneas, muitas vezes, as mulheres apresentam uma sensação de culpa por sentirem-se em dívida, seja em relação ao trabalho, às tarefas domésticas, à vida conjugal, ao autocuidado ou à maternagem. 

Em relação aos cuidados com os filhos, é comum as mães compararem a maternidade que elas exercem e, neste caso, pode emergir um sentimento de inferioridade, se considerarem que não se dedicando aos filhos em tempo integral. 

Para Juliana Gois, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, esta é apenas uma questão que compõe um terreno fértil onde brotam inúmeras reflexões. “Como seria se eu tivesse mais tempo livre para ficar com o meu filho ou como seria se eu pudesse dividir as demandas da criação dos filhos para me dedicar também à minha carreira?”, exemplifica. “Será que eu posso ter um tempo livre para me cuidar enquanto meu filho está em casa ou será que eu devo aproveitar cada instante ao seu lado, como minha vizinha, que consegue conciliar o trabalho com a maternidade, ou como minha prima, que deixou de trabalhar fora para se dedicar à criação dos filhos?”, completa.

Decisões e seus impactos

Segundo Juliana, que também é psicóloga, psicopedagoga, especialista em neuropsicologia e mestre em neurociência, apesar de serem questionamentos que batem à porta de quase todas as mães, é importante lembrar que são decisões pessoais e intransferíveis, que podem se modificar ao longo do tempo. E, como toda escolha, possuem suas vantagens e desvantagens. 

“Diante do sentimento de inferioridade, é preciso ter cuidado para não se tornar uma mãe superprotetora, atender cem por cento das demandas dos filhos ou, ainda, não dar limites por não se autorizar a ser mãe dentro do tempo que lhe cabe, do jeito que é possível”, aponta a orientadora.

Ela cita a psicanalista Maria Rita Kehl, que possui uma ideia interessante acerca do significado de uma família desestruturada. “De acordo com ela, uma família desestruturada não é aquela em que os dos pais estão ausentes, mas quando eles se posicionam como figurantes numa cena, deixando vago o lugar que deveriam ocupar”, indica. “Trata-se aqui de pais fisicamente presentes, mas, devido à rotina que possuem, eles podem não se autorizar a ocupar a função que lhes cabe na vida dos filhos.” 

Como conciliar a carreira e a criação dos filhos

A coordenadora dá algumas orientações nesse sentido. Confira:

  1. Organize uma rotina que contemple horários para a maternidade, para o trabalho e para si mesma.
  2. Saiba que problemas e imprevistos acontecem. Pode ocorrer de você precisar sair mais cedo do trabalho porque seu filho não está se sentindo bem, assim como a reunião ultrapassar a duração prevista e impactar no horário que você chegaria em casa.
  3. Conte com sua rede de apoio sempre que necessário. Seu cônjuge, familiares e amigos são essenciais para lhe oferecer suporte nos momentos que as coisas não acontecerem conforme o programado ou quando for necessário descansar.
  4. Reconheça que você possui limites e peça ajuda sempre que preciso. Evite romantizar o conceito de “supermãe”, “dona de casa exemplar" ou “profissional do ano”.
  5. Cuide de você. Procure respeitar os horários das refeições, praticar alguma atividade física e ter, ao menos, alguns momentos dedicados a fazer o que lhe dá prazer. 
  6. Delegue às crianças algumas tarefas do dia a dia, de acordo com a faixa etária. Assim, elas podem colaborar e desenvolver responsabilidades, autonomia e independência. 
  7. Acredite em você. Desafios existem para serem superados e, no futuro, talvez venha a saudade dessa fase que passa tão rápido. 

Divisão de responsabilidades e exemplo

A divisão de tarefas e responsabilidades entre os pais diminui possíveis sobrecargas relacionadas aos cuidados que os filhos requerem, nas diferentes faixas etárias. Essa divisão vai além de prover suporte financeiro, inclui a participação na criação e nos cuidados necessários. “Esse compartilhamento de atividades e a corresponsabilidade favorece uma maior conexão entre todos os membros de uma família tornando-a mais forte e coesa”, diz Juliana. 

Segundo ela, tornar-se mãe não implica em abdicar de paixões, sonhos, metas e projetos de vida, sejam eles quais forem. Tampouco importa a escolha que foi feita: dedicar-se exclusivamente aos cuidados da casa e dos filhos ou conciliar a maternidade com a vida profissional.

A orientadora observa que, se o retorno ao trabalho é algo que gera angústia para algumas mulheres, em outros casos, ao tornar-se mãe, a mulher sente uma maior motivação para transformar, trabalhar por algo maior e que faça sentido para ela. “O importante é que essa seja uma decisão pensada de acordo com suas possibilidades e desejos, para que ela possa se sentir bem e segura para exercer a maternidade à sua maneira”, ressalta. “Essa segurança e a forma como ela se relaciona com suas tarefas, dentro ou fora de casa, será percebida pela criança desde cedo e será também um exemplo para os filhos.”

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