Como estimular a criança a fazer amizades?

Criação de vínculos afetivos depende de um espaço seguro e acolhedor, e tanto a família quanto a escola têm papéis importantes nesse processo

A socialização é uma parte fundamental do desenvolvimento emocional e social das crianças. A fase escolar constitui um terreno fértil para o surgimento de amizades duradouras e relacionamentos saudáveis, que são essenciais para o bem-estar e o aprimoramento de habilidades que perduram por toda a vida.

Simone Costa, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental do Colégio Rio Branco, destaca a importância desses vínculos. "Ao se sentir aceita e valorizada em um grupo de amigos, a criança começa a construir sua identidade, que é responsável pela forma como ela se vê e como interage com o mundo ao qual pertence", afirma. 

Dificuldade em fazer amigos: causas e sinais de alerta

No entanto, fazer amigos no ambiente escolar é um desafio para muitas crianças. “Aspectos emocionais e sociais podem dificultar o processo de construção de amizades entre as crianças e jovens”, alerta Simone. Algumas causas apontadas por ela são:

  • Ansiedade social, timidez e baixa autoestima: podem dificultar os primeiros contatos e a interação com os pares.
  • Falta de habilidades sociais básicas: crianças que não sabem como compartilhar as coisas, respeitar as pessoas e dialogar podem ter dificuldades em formar amizades.
  • Falta de oportunidades de interação fora da escola: a ausência de contextos fora do ambiente escolar que incentivem o contato social pode reduzir as chances de novos amigos.
  • Diferenças culturais ou sociais: crianças que apresentam diferenças em relação ao grupo podem sentir dificuldades de inserção.
  • Comportamentos agressivos: a agressividade pode afastar as crianças e impedir a formação de laços afetivos.
  • Ambiente familiar com pouco vínculo emocional: quando há falta de suporte emocional em casa, a criança pode não se sentir estimulada a interagir socialmente.
  • Cultura escolar de competição e exclusão: escolas que discriminam os que têm baixo desempenho escolar podem criar barreiras para a autoestima e socialização.

A observação de sinais de dificuldade é fundamental, segundo a coordenadora. Crianças que demonstram indícios de isolamento, tristeza persistente, ansiedade ou até agressividade podem estar enfrentando desafios mais profundos. "Se houver resistência constante para ir à escola, mudanças de comportamento ou queda no rendimento escolar, isso pode ser um indicativo de que algo mais grave está acontecendo. Nesse caso, buscar a ajuda de um especialista pode ser necessário", indica. É importante que pais e educadores estejam atentos a esses sinais e ajudem a criança a desenvolver estratégias de enfrentamento.

O papel da família no desenvolvimento das amizades

Simone acredita que a construção de amizades depende de um espaço acolhedor e que tanto a família quanto a escola têm papéis importantes nesse processo. "Ambientes seguros, que oferecem suporte emocional, estimulam comportamentos positivos e a formação de vínculos mais fortes", explica a especialista.

A família, como primeiro ambiente de socialização, é essencial na formação inicial das habilidades sociais das crianças. Pais que demonstram comportamentos empáticos, respeitosos e solidários se tornam exemplos para seus filhos, que tendem a replicar essas atitudes nas interações com os outros.

Uma maneira prática de incentivar os filhos a fazerem amigos, de acordo com a coordenadora pedagógica, é reforçar habilidades sociais básicas, como ensinar a compartilhar, pedir desculpas, respeitar o espaço dos outros e saber esperar a sua vez. Outra forma é estimular a expressão emocional, ou seja, criar espaços para que as crianças possam falar sobre seus sentimentos e resolver conflitos de maneira positiva.

Como a escola pode favorecer a criação de laços afetivos

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece as amizades no ambiente escolar como parte fundamental do desenvolvimento integral dos estudantes. “Ela propõe uma educação para além dos conteúdos acadêmicos, enaltecendo o desenvolvimento da capacidade de construir e manter relacionamentos saudáveis”, diz Simone.

Entre as ações que a escola pode adotar para facilitar a construção de amizades, a especialista sugere trabalhos em grupo e jogos colaborativos. “Eles incentivam a cooperação e a comunicação, permitindo que as crianças pratiquem essas habilidades e   aprendam a seguir regras e a respeitar a vez do outro.”

Além disso, Simone ressalta a importância de expor as crianças a diversas experiências de socialização. “Quanto maiores forem as oportunidades de socialização, mais beneficiadas serão as crianças”, considera. “Oportunizar momentos para as crianças e jovens expressarem os sentimentos, dialogarem e desenvolverem estratégias para lidar com conflitos sem romper amizades são ricos espaços que promovem a reflexão e conduzem à ação”, finaliza.

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