Geração ansiosa: como lidar com os perigos da hiperconectividade?

É preciso fazer um uso equilibrado entre tecnologia e experiências offline, privilegiando interações presenciais e o desenvolvimento de habilidades sociais

Os avanços tecnológicos transformaram radicalmente a maneira como vivemos e interagimos. A internet, os smartphones e as mídias sociais já são parte integrante das nossas vidas, oferecendo vantagens significativas para a ampliação do conhecimento e para o aprendizado.  Mas, junto a esses benefícios, a tecnologia também traz grandes desafios

Segundo Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco e doutoranda em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, um deles é a hiperconectividade – o estar constantemente conectado a dispositivos e tecnologias de comunicação, com acesso imediato e quase contínuo à internet e às redes sociais. 

“Esse é um fenômeno característico do contexto que estamos vivendo. A hiperconectividade torna os limites entre trabalho, vida pessoal e lazer cada vez mais tênues devido à possibilidade de estarmos conectados com várias pessoas ao mesmo tempo”, afirma. “Estamos fisicamente num local e digitalmente em diversos lugares."

Conectados, mas distantes

Esther lembra que alguns autores têm tratado dessa questão. Um deles é Sherry Turkle, no livro Alone Together, Why We Expect More From Technology and Less from Each Other. “Ela mostra o quanto os dispositivos estão remodelando as nossas interações sociais. Estamos mais conectados do que nunca, mas, muitas vezes, nos sentimos isolados e menos engajados em interações importantes e significativas”, reflete.

A diretora também cita A Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt, que aborda a chamada geração Z, dos nascidos a partir de 1995. “Trata-se da primeira geração que vive a puberdade com um portal no bolso. Então, você estabelece relações com pessoas que não necessariamente conhece, se abre a um universo diferente. Haidt se refere a esse universo como excitante, viciante, instável e inadequado para crianças e jovens”, comenta.

Ela diz que um aspecto importante apontado pelo autor é que a hiperconectividade tem consumido muitas horas do dia das pessoas. Com isso, utiliza um tempo que seria destinado ao desenvolvimento de habilidades sociais, essenciais para o desenvolvimento humano, sobretudo das crianças e dos adolescentes.

Outro ponto interessante, de acordo com ela, são os algoritmos utilizados para reter a atenção das pessoas o maior tempo possível. Isso faz com que as crianças e jovens passem menos tempo brincando, conversando presencialmente, tendo contato olho no olho com seus amigos e familiares. “Tudo isso, definitivamente, impacta o desenvolvimento de um repertório de comportamento social. Haidt fala ainda de consequências como privação de sono, fragmentação da atenção e problemas de saúde mental”, completa. 

Equilíbrio e o papel de toda a sociedade

Para Esther, o caminho para equacionar os benefícios e os riscos do mundo virtual é o equilíbrio. “Hoje, já não podemos mais falar em uma vida desconectada. Talvez não viver hiperconectado, mas apenas conectado. Um uso equilibrado entre tecnologia e outras experiências”, destaca. “Seria se desconectar da tecnologia para se conectar a outras pessoas, a outras linguagens, à natureza e até a si mesmo.”

Para trabalhar esse uso equilibrado com crianças e jovens, ela aponta a importância dos limites e da moderação do tempo de tela. “Mas não basta limitar. É preciso monitorar, saber que tipo de conteúdo as crianças e os jovens estão acessando.”

Outra medida é incentivar atividades offline, como esportes, leituras e interações para estabelecer vínculos e desenvolver habilidades interpessoais. “Além disso, o letramento digital para trabalhar com as crianças questões de segurança, cyberbullying, privacidade e identificação de conteúdos de qualidade”, ressalta a diretora.

Por fim, os adultos devem ter em mente que são exemplos de comportamento para seus filhos. “Nosso papel, como adultos, é ser uma referência. Precisamos usar a tecnologia de forma equilibrada para sermos modelo para nossos filhos e alunos. Essa é uma tarefa que precisa ser abraçada por todos nós.”

Leia também:

 

 

Comentar