Dia Nacional do Surdo: conscientização sobre a cultura e os direitos das pessoas surdas

Data é um convite à reflexão sobre a inclusão dos surdos na sociedade; conheça as iniciativas do Centro de Educação para Surdos Rio Branco e do Colégio Rio Branco

O Dia Internacional do Surdo, comemorado em 30 de setembro, e o Dia Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro, são datas importantes para a reflexão e a conscientização da população sobre os direitos, as conquistas e os desafios da comunidade surda. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem mais de 10 milhões de surdos

Com o objetivo de promover a inclusão de surdos por meio da educação, o Centro de Educação para Surdos (CES) Rio Branco, da Fundação de Rotarianos de São Paulo, mantenedora do Colégio Rio Branco, oferece ensino bilíngue para crianças surdas de 0 a 12 anos, desde 1977. Os estudantes aprendem a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua, e a Língua Portuguesa (na modalidade escrita) como segunda língua.

Sabine Vergamini, diretora do Centro de Educação para Surdos Rio Branco, fala sobre os desafios enfrentados na implementação de uma educação inclusiva para surdos e como o CES Rio Branco e o Colégio Rio Branco trabalham nesse sentido.

Os desafios da inclusão

Assim, segundo ela, a grande dificuldade é as pessoas acharem que incluir o surdo é apenas colocá-lo no mesmo espaço físico das outras pessoas. “Mas é muito mais do que isso. Incluir é dar condições para que essa pessoa consiga aprender e se desenvolver”, afirma. 

Centro de Educação para Surdos Rio Branco

O ensino bilíngue para surdos já foi estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, mas, na prática, há poucas escolas que oferecem essa proposta, principalmente em cidades menores e no interior do país. “Às vezes, você tem uma classe com um aluno surdo e ninguém mais sabe Libras ou até pode ter um intérprete de Libras. Mas de que adianta o intérprete se a criança não sabe Libras?”, questiona Sabine.

Ela explica que é necessário ter um ambiente linguístico que possibilite o máximo desenvolvimento da criança. No CES, por exemplo, existe todo um trabalho de base, que inclui o acolhimento da família, a educação bilíngue e a formação e o fortalecimento da identidade surda. O Programa de Estimulação do Desenvolvimento (PED) recebe bebês e crianças de até 3 anos que, depois, seguem para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental.  As crianças são atendidas por educadores surdos, usuários de Libras. 

“A maior parte das crianças surdas são filhas de pais ouvintes. Essas famílias precisam aprender como estimular adequadamente a criança surda, que tem na visão o seu principal canal de recepção de informações. Por isso, o uso de Libras e a presença de educadores surdos”, destaca a diretora. Ela reforça que as crianças saem do CES Rio Branco com a sua identidade surda fortalecida, não se sentindo menos capazes que um ouvinte, mas sim diferentes e respeitadas na sua singularidade.

Colégio Rio Branco

O Colégio Rio Branco recebe esses alunos surdos vindos do CES Rio Branco a partir do 6º ano do Ensino Fundamental. A inclusão não é feita com um único aluno surdo, mas com um grupo de estudantes surdos. Em todas as salas que têm alunos surdos, há um intérprete de Libras. Os alunos surdos continuam aprendendo Libras, que é a sua primeira língua, mas aprendem também o português como segunda língua. Nas aulas de Língua Portuguesa, eles contam com um professor exclusivo para eles. 

Sabine conta que, como o colégio trabalha há muitos anos com a inclusão de alunos surdos, tem um grupo de professores que conhece muito bem o universo da surdez e a cultura surda.  Então há todo um cuidado em entender que a escrita do surdo não é como a de um não surdo, por exemplo, e na elaboração das provas, quando é necessário fazer uma adaptação. 

Uma aula inclusiva é aquela que é pensada para todos, independentemente se o aluno é surdo, ouvinte, cego etc. Quando o professor vai elaborar uma aula ou uma avaliação, ele tem que pensar em algo que seja possível para todos”, salienta. O colégio também oferece oficina de Libras gratuitamente, como curso extracurricular para todos os alunos interessados.

Benefícios da educação inclusiva

A diretora considera que só se aprende a conviver com as diferenças convivendo de fato com elas. “Se pensarmos numa sociedade para todos, o aluno ouvinte que convive com o aluno surdo passa a compreender e ter uma dimensão melhor dessas questões.” 

Sabine lembra, por exemplo, que o tema da redação do Enem de 2017 foi “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. “Todo mundo achou um assunto muito difícil. Mas para os alunos do Rio Branco foi fácil abordar isso, porque é algo que eles vivenciam no dia a dia.”

Ela ressalta o “trabalho duplo” feito pelo Rio Branco, “de mostrar o mundo para o surdo e de mostrar o surdo para o mundo”. “Então é o surdo aprendendo com o ouvinte e o ouvinte aprendendo com o surdo. E o surdo se entender como um cidadão que tem seus deveres e seus direitos respeitados. E a comunidade ouvinte também tendo essa compreensão.”

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