Estreitar os laços afetivos, compartilhar experiências, escutar e dialogar são formas de ajudar as crianças e os adolescentes a desenvolver a resiliência e a perseverança
As crianças estão em fase de desenvolvimento, e cada etapa desse processo implica em exploração e descobertas. Todas essas novas experiências evocam emoções, sensações e sentimentos com os quais elas, aos poucos, aprendem a lidar. Contudo, aprender a lidar com a frustração, a raiva, o medo e o ciúme nem sempre é fácil e aí se insere a importância dos limites.
Segundo Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, a ausência de limites reduz a capacidade de tolerância à frustração, gerando problemas disciplinares e até mesmo alterações de conduta.
“Os limites dão contorno à criança ao oferecer um norte na compreensão do que é certo ou errado, do que é socialmente permitido ou não em determinadas situações”, diz. “Além disso, se a educação for excessivamente permissiva, poderá haver uma maior dificuldade na aceitação das regras e um aumento dos níveis de ansiedade”.
Sim ou não?
Para a orientadora educacional, que também é psicóloga, psicopedagoga, especialista em neuropsicologia e mestre em neurociência, o fundamental é ter bom senso e equilíbrio. Se, por um lado, dizer sempre sim aos filhos é prejudicial, por outro, o excesso de não também é. “Neste segundo caso, podemos nos deparar com redução da criatividade, maior retraimento social, insegurança e baixa autoestima. Ou mesmo omissão de pedidos, pensamentos, vontades e desejos para os pais, a fim de se esquivar da resposta ou reação deles”, alerta.
Ela destaca que é importante explicar aos filhos os porquês do limite, visto que uma imposição sem justificativa -- por exemplo, “porque eu quero” ou “porque quem manda sou eu” -- não promove a compreensão, a internalização, bem como a generalização do limite em outras situações similares. “Se conversarmos e explicarmos sobre eles e se os combinados forem claros, mais facilmente serão cumpridos”.
Orientações para as famílias
A psicóloga lembra que o “não” muitas vezes gera frustrações, mas elas fazem parte da vida, pois nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos. Para ajudar os pais e responsáveis a ensinar as crianças a lidar com esse sentimento e desenvolver resiliência, ela dá algumas sugestões. E ressalta a importância de considerar sempre a individualidade e a vivência de cada criança:
- Estreite os laços para que seu filho se sinta à vontade para abordar qualquer tema com você. Converse sobre o dia, o tempo, a vida e tudo mais que for possível. Aqui não importa o tema, o valor está na possibilidade de troca.
- Compartilhe suas experiências: conte sobre sua infância, sua adolescência, os desafios e medos que enfrentou, as decepções e o caminho que percorreu, suas conquistas e preocupações. Também fale sobre os dias atuais, sempre com uma linguagem e um conteúdo compatíveis com a idade de seu filho.
- Brinque, jogue, cozinhe, divirta-se com a criança. Reserve um tempo para estar com seu filho, mesmo que em silêncio, apenas ali, ao lado, dividindo um momento.
- Estabeleça uma rotina em família, que inclua os horários de atividades, como as refeições, acordar e dormir, realizar tarefas, além de um tempo livre.
- Escute, com atenção, o que eles têm a dizer, seja com palavras ou atitudes.
- Acolha, aconselhe, oriente e explique sobre os limites escolhidos.
- Ajude a nomear emoções e a descrever sentimentos. Valide e mostre que você compreende o que está sendo exposto.
- Encoraje seu filho a buscar outros caminhos e soluções para lidar com momentos difíceis.
- Lembre-se: você é uma referência. As crianças são observadoras e reproduzem comportamentos. Para elas, somos um exemplo e um modelo e devemos representar uma base, um farol e, também, um porto seguro.
Precisamos ser felizes o tempo todo?
Juliana também reflete sobre frustração e necessidade de ser feliz o tempo todo: “A felicidade se faz presente em fenômenos episódicos e não numa constante, representa um estado vivenciado em ocasiões específicas e não uma forma de ser. Se, por um lado, todos buscamos a felicidade, por outro, o que é ser feliz? Instantes que armazenamos em gavetas pessoais e intransferíveis, guardados com carinho e que podem ser resgatados sempre que sentimos saudade. A boa notícia é que esse estoque é ilimitado”.
Para ela, a despeito das conquistas, dos elogios, dos ‘sins’ que recebemos, nunca nos sentimos plenamente satisfeitos. “Mas é essa falta, essa busca contínua que nos move e nos mantém vivos, sonhadores e desejantes - eis a tragédia e a beleza da vida”, conclui a psicóloga.
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