Impacto dos vídeos curtos na concentração dos jovens

Redes sociais, como o TikTok, podem reduzir a capacidade de atenção e prejudicar o desempenho acadêmico de crianças e adolescentes

Os vídeos curtos, hoje presentes em quase todas as redes sociais, foram popularizados principalmente a partir do aplicativo TikTok, um dos pioneiros no ramo. A superestimulação que eles causam, ou seja, o recebimento de uma grande quantidade de informações em um curto espaço de tempo, é reconhecida como prejudicial para a concentração.

A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2022 revelou que 60% das crianças e adolescentes têm uma conta no aplicativo e 35% delas afirmaram que se trata da rede social que mais utilizam. Carolina Sperandio, diretora da Unidade Granja Vianna do Colégio Rio Branco, explica que “os vídeos curtos são viciantes devido ao seu mecanismo programado para este fim e à sua natureza dinâmica e estimulante”.

Vídeos de até 30 segundos acionam respostas neurológicas de recompensa com a liberação de dopamina, um dos hormônios da felicidade, no cérebro. O excesso de exposição a esses conteúdos gera redução da capacidade de atenção sustentada — aquela que permite o foco em uma só tarefa por um longo período. A especialista refere-se ao fenômeno como “tiktokização da atenção”.

Impacto das tecnologias na educação e na saúde dos jovens

Carolina descreve os smartphones como uma fonte inesgotável de estímulo. Ela cita Jonathan Haidt, em seu livro "A Geração Ansiosa", que aconselha não disponibilizar telefones celulares para crianças até os 14 anos de idade e proibir redes sociais até os 16. O autor indica quatro danos fundamentais causados pela gratificação instantânea: privação social, privação do sono, fragmentação da atenção e dependência.

A diretora também menciona a obra “A fábrica de cretinos digitais: os perigos das telas para nossas crianças”, do neurocientista francês Michel Desmurget. Ele afirma que o "excesso de imagens, sons e solicitações diversas parece criar condições favoráveis ao surgimento de déficits de concentração, transtornos de aprendizagem, sintomas de hiperatividade e vícios”.

A fragmentação do processo atencional e a redução da capacidade de concentração em atividades mais longas e complexas são apontadas pela diretora como os principais impactos das tecnologias no meio educacional. “Isso compromete o desempenho acadêmico das crianças, tornando-as menos capazes de se envolverem em leituras densas, reflexão profunda e resolução de problemas”.

Ela destaca que há uma necessidade urgente de regulamentação para proteger crianças e jovens no ambiente digital. “O TikTok pode levar três minutos para mostrar a um usuário de 13 anos vídeos sobre suicídio”, comenta. “Trends e desafios perigosos, design viciante, padrões de beleza inatingíveis, consumismo e status social, superexposição, desinformação e discurso de ódio estão sendo consumidos numa rolagem de tela que não tem fim”.

O papel da família e da escola para diminuir os prejuízos dos vídeos curtos

Soluções simples não resolvem problemas complexos, segundo Carolina. “É preciso persistência para ensinar as crianças e os adolescentes a usarem as diferentes tecnologias de forma responsável e equilibrada, aproveitando o melhor delas.” Ela diz que proibir o uso pode levar os mais novos a buscarem conteúdos clandestinamente, sem a orientação e supervisão adequadas, o que aumentaria os riscos para sua segurança.

Em vez disso, deve-se orientar para que desenvolvam autocontrole e criticidade em relação ao que consomem. “Família e escola desempenham papel fundamental no estabelecimento de limites e na promoção de discussões sobre os impactos negativos do uso excessivo de mídias digitais e da artificialidade das relações virtuais”.

Os pais podem fazer uso de recursos de controle parental para o gerenciamento de conteúdo e tempo de uso em diferentes faixas etárias, como Qustodio Parental Control, Google Family Link e Screen Time Parental Control. Ao mesmo tempo, ouvir o que os jovens têm a dizer é fundamental. “Entender o quê e o porquê aproxima pais e filhos e pode trazer aprendizado e fortalecer vínculos de confiança”.

Carolina cita algumas recomendações do psicólogo Cristiano Nabuco, PhD em psicologia clínica de dependências tecnológicas, aos pais:

  • Criar zonas livres de tecnologia ou desafios de detox digital: estabelecer ambientes ou períodos em que o celular não pode ser usado, como em uma viagem ou durante o almoço e jantar;
  • Mostrar que a vida offline também é boa: estimular os filhos a fazerem atividades ao ar livre ou praticar esportes pode ser uma tática para afastá-los das telas por um período do dia;
  • Curtir o ócio: ensiná-los que é importante ter momentos à toa, sem as notificações do celular. A pausa – real e digital – descansa a mente, estimula a criatividade e o desenvolvimento do cérebro;
  • Dar o exemplo: crianças que veem os pais usando o celular o tempo todo estão mais propensas a repetir esse comportamento.

No caso da escola, caso haja intencionalidade pedagógica e uma boa curadoria, Carolina acredita que é possível usar os vídeos curtos para fomentar a aprendizagem. “O material deve ser selecionado com critério e integrado de forma complementar às atividades propostas”, recomenda. “Também é importante garantir que sejam acompanhados por discussões em sala de aula, atividades práticas ou leituras complementares para promover uma compreensão mais profunda e contextualizada do assunto”.

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