Como resgatar a própria infância influencia na parentalidade?

Revisitar as próprias vivências e identificar as experiências positivas e negativas permitem a escolha consciente de ações e comportamentos que deverão ou não se repetir

Lembrar da própria infância pode ajudar os pais na criação e na educação dos filhos e na construção de relacionamentos mais próximos e saudáveis com eles, favorecendo o exercício da parentalidade. Juliana Gois, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco, explica que esse termo, que tem sido muito discutido na atualidade, pode ser definido como a influência que os pais exercem no desenvolvimento e na formação dos filhos

“Se, por um lado, é fundamental a satisfação das necessidades básicas para sobrevivência, como higiene e alimentação, por outro, é igualmente importante a formação de vínculo, a interação, o contato, o afeto, o limite, a transmissão de segurança e o estabelecimento de uma relação de confiança”, afirma.

Nesse sentido, o exercício da parentalidade envolve um conjunto de variáveis, como o ambiente em que vivem, o contexto no qual se inserem, a rede social e de apoio presente, as características da criança e a personalidade e a história de vida dos pais. “Os adultos carregam dentro de si folhas amareladas preenchidas por memórias. A infância encontra-se ali, e seus reflexos influenciam as ações e os comportamentos das pessoas no decorrer de toda a vida”, descreve. 

Autoconhecimento e possibilidade de fazer diferente

Quando o adulto se permite revisitar suas próprias vivências, se depara com o autoconhecimento. “Ele permite tanto a identificação de experiências positivas e negativas, quanto a escolha consciente de comportamentos que deverão ou não se repetir”, aponta a orientadora.

Ela considera que criar filhos implica na “escrita ativa de uma nova história” e não, necessariamente, na reprodução dos mesmos padrões. “Um aspecto interessante desse reencontro com a infância é a chance de viajar na contramão do tempo cronológico e, mesmo sem voltar a ser criança, permitir-se rever o mundo com outros olhos”, destaca. “A empatia encurta a distância entre as formas de sentir, ver e interagir com o entorno, o que favorece a relação entre pais e filhos”. 

Como potencializar as boas experiências e não reproduzir as negativas

Tudo o que vivemos faz parte da nossa história e marca nossas relações e nossa personalidade. Segundo Juliana, só existe uma forma para conseguirmos aproveitar as boas experiências e não repetir as que foram ruins: abrindo nosso próprio baú e avaliando essas vivências. 

“Não ao acaso costumamos ouvir que ‘a infância é um chão que a gente pisa a vida inteira’. Se, do ponto de vista cronológico, trata-se de um período fugaz, na prática, ela se prolonga e possibilita um norte, uma referência para as nossas condutas e ações ao nos tornarmos pais”, ressalta. “Trata-se de um processo único, repleto de desafios, aprendizados, superação e beleza”. 

O importante, portanto, é ter clareza de que o fato de ter passado por experiências negativas na infância não implica que, invariavelmente, o mesmo se dará com os filhos. Em contrapartida, é possível potencializar aquelas consideradas de grande valia em nossa formação. “Quando essa transmissão das boas experiências acontece naturalmente no dia a dia, no tempo em que passamos com a criança, na forma como agimos, no diálogo e na partilha, não só de conhecimentos e valores, mas também de acontecimentos que foram vividos”, finaliza.

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