Dia da Educação: como educar para os futuros?


Artigo publicado com exclusividade no Estadão.

Por Esther Carvalho

Um dos grandes ganhos observados no debate educacional nos últimos anos tem sido o reconhecimento generalizado de que estamos trabalhando para um futuro próximo que não sabemos como será. A discussão, contudo, vai muito além da questão de como as escolas estão preparando seus alunos para profissões que ainda não existem, tão comum nos dias de hoje.

O grande ganho vem, na verdade, na mudança do eixo do conhecimento para o processo de ensino-aprendizagem. Se antes a escola era vista como lugar de certezas, morada do saber, fechada em sua integralidade, agora temos uma nova posição: a boa escola deve ser um lugar de questionamentos, de bons questionamentos, de colocar-se na posição de ser ela também uma aprendiz constante.

Não se trata, contudo, de rumar a algo superficial, algo como "vitrines de modernidade" em que as práticas pedagógicas convencionais são pouco ou nada alteradas, embora com tecnologias de ponta ou algo parecido. Trata-se de assumir uma atitude de curiosidade e investigação sobre um mundo complexo e conectado, procurando prospectar os futuros da educação, o levantamento de tendências  para sustentar tomadas de decisões e, também, para a construção de narrativas que criem entendimentos comuns para ações no presente. E por conta desse dinamismo e diversidade, organizações importantes têm abordado o tema do futuro (ou dos futuros) da educação, tentando prever as tendências e o que será das escolas num horizonte próximo.

É o caso da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reuniu em relatório recente quatro cenários em que prevê tanto a ampliação como a diminuição da influência da escola na vida de crianças e jovens. A partir dos temas (em tradução livre) Escolaridade estendida, Educação Terceirizada, Centro de aprendizagem e Aprendendo a medida em que se avança, há consideração desde fatores tecnológicos, como o uso de inteligência artificial com realidade virtual, até os mais pedagógicos, como ampliação de experimentação, além da participação da comunidade e da família no processo de aprendizagem. 

Quem também abordou o assunto foi a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). A entidade propõe objetivamente em relatório transformar a educação com um olhar para um futuro mais “pacífico, justo e sustentável”, uma dimensão regenerativa da sociedade por meio da educação. Dessa forma, temas que envolvem tecnologias digitais, mudanças climáticas e meio ambiente, retrocesso democrático, polarização social e incertezas do futuro do mercado de trabalho marcam o ponto de partida para um direcionamento às instituições de ensino.

Outras entidades e a comunidade educacional internacional de uma maneira geral olham com atenção para essa inflexão nos objetivos menos estáticos de aprendizagem, ao passo que tentam acompanhar tudo o que foi construído, o que funciona de fato nas escolas, com o que precisa melhorar. Tudo isso, permeado com os novos anseios de um mundo que muda rápido e um currículo que dê conta dos desafios da contemporaneidade. Entender e considerar essa pluralidade do mundo e seus diversos cenários é essencial para a projeção e construção de futuros.

Nesse sentido, o papel do educador deve ser o de promover a troca de vivências, construindo um caminho a ser trilhado pelo estudante, a partir de um olhar investigativo que busca respostas para as questões ainda não respondidas, talvez até para questões que ainda não existam, e sempre compreendendo o valor da dúvida.

O futuro para o qual devemos educar está sendo forjado, e assim deverá permanecer: em constante e ininterrupta construção.

 *Esther Carvalho é ex-aluna e diretora-geral do Colégio Rio Branco, mestre em Currículo e Tecnologia  pela PUC-SP e participante de cursos de formação profissional na Harvard Graduate School of Education

 

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