Meu filho mudou de escola, e agora?


Por Juliana Góis e Luísa Genaro

O mês de janeiro está chegando ao fim, as férias passaram correndo por nós e já começa a ser anunciado o retorno às aulas. O cenário atual permanece complexo, a pandemia e as variantes de um vírus que insiste em ficar ainda abalam nossas certezas, geram preocupação e exigem a manutenção de protocolos. Contudo, em paralelo, a ideia de que poderemos continuar a levar nossos filhos à escola – alguns inclusive já estarão vacinados – e de que encontraremos os portões abertos para abraçá-los, desperta nossa esperança.

  As expectativas para o começo das aulas geram inúmeras emoções e sentimentos, entre eles: alegria, medo e ansiedade. As variáveis que influenciam nesse leque envolvem a singularidade de cada ser, as peculiaridades de cada família e o contexto em que o aluno se insere. Logo no início do livro infanto-juvenil “Cuidado, garoto apaixonado!”, certeiramente analisa Toni Brandão: O primeiro dia de aula do ano é ao mesmo tempo igual e diferente. Diferente porque tem sempre aquele gostinho de coisa nova. E igual porque a gente tem que fazer as mesmas coisas (...)’.  

De forma geral, as mudanças de um ano para outro são inevitáveis numa escola: alguns mudam de prédio, sala, série, turma, professor, orientador etc. Outros, mudam de tudo. Você já foi o “aluno novo”? Se sim, permita-se uma viagem no tempo e entre mais uma vez, pela primeira vez, na sua nova sala. Se não, entregamos a você o mesmo bilhete: atravesse os anos, mas chegue na sala como espectador: de qual “aluno novo” você se recorda? 

Enquanto costurávamos a quatro mãos as palavras que se transformaram nesse texto, também utilizamos nossos bilhetes. Uma de nós retirou, da sua gaveta de lembranças, o início da vida escolar, quando, por volta dos cinco anos de idade, trocou de escola e se deparou com os primeiros auto questionamentos: como seria a nova escola, como seriam as pessoas que estariam lá, será que a nova professora era brava? A outra, de olhos fechados, foi capaz de sentir o rubor nas bochechas, o medo de responder “presente” na primeira chamada feita e a dor que sentiu por deixar os amigos da outra escola para trás – já era uma adolescente, e nessa fase tudo é diferente.

Cientes de que o novo mobiliza e de que, nos momentos de transição, a ansiedade com alta frequência também resolve tocar a campainha da porta dos pais, gostaríamos de pensar com vocês na preparação, no que pode ser feito antes mesmo do primeiro dia de aula do seu filho numa nova escola. A ideia é auxiliar de forma que essa fase seja atravessada de maneira positiva para ambos, pais e filhos, a despeito da série ou idade. Afinal, sabemos que mudanças no decorrer da vida escolar podem acontecer a qualquer momento, impulsionadas pelos mais diversos motivos. 

Quando é feita a escolha de uma nova escola, é imprescindível a busca de informações e referências que ofereçam a vocês segurança e tranquilidade. É claro que podem surgir dúvidas no meio do caminho, imprevistos e surpresas, mas quanto mais confiança vocês passarem aos filhos, mais firme se torna o solo, mais seguros eles se sentem para explorar, caminhar e improvisar passos. 

Muitas vezes a insegurança gera questionamentos, dos mais simples aos mais complexos. Aqui vale a premissa de responder o que sabe e se propor a procurar saber aquilo que não sabe. Essa busca pode até mesmo ser feita em conjunto! Participar dessa etapa inicial permite que o aluno também comece a se familiarizar com o que irá encontrar nesse novo ambiente. 

Aliás, é interessante que seja feita a apresentação dessa nova escola para que ele se habitue aos diferentes ambientes: deixe-o espiar pela fresta! Pode ser através de uma visita presencial ou mesmo de um tour virtual. Em geral, quanto mais ele souber, mais confortável irá se sentir. Este mesmo propósito induz o convite para que ele acompanhe na compra do uniforme escolar e faça escolhas de acordo com sua preferência. Os materiais  também podem ser adquiridos, preparados e organizados em conjunto, assim o próprio dia a dia, de forma gradual, o insere como parte dessa nova realidade. 

Esclareça com naturalidade os motivos da escolha a partir de uma linguagem compreensível e compatível com a idade dele, converse e lembre-se que num diálogo há dois momentos: o de falar e o de ouvir – encontre espaço e reserve tempo para isso. A escuta fortalece o vínculo oferece contorno a possíveis angústias, abre espaço para que os medos sejam colocados para fora, suporta a dor e conforta a alma. Nesse espaço a empatia é um ingrediente fundamental e o compartilhar de suas próprias vivências é uma oportunidade de estimular a abertura para experimentar os novos sabores que estão por vir. 

A sinceridade é sempre bem-vinda, toda escolha envolve perdas e ganhos. Talvez, em especial com os mais velhos, fiquem mais apreensivos em relação ao afastamento de amizades de longa data, troquem informações sobre o assunto, tragam outros pontos de vista: eles podem manter o contato, marcar encontros fora do horário de aula – com o tempo aprendemos que a distância não diminui o afeto e tampouco é forte o suficiente para romper laços. De toda forma, por mais que a maturidade nos ensine algumas coisas sobre a vida, não minimize se houver momentos de desânimo ou tristeza, reconheça-os, eles fazem parte de alguns dias, é através deles que descobrimos como superá-los, é sentindo-os que aprendemos a dar-lhes sentido. 

Por fim, reforçamos a íntima relação entre o significado das palavras acolher e adaptar. A primeira possui como sinônimos: proteger, abrigar e amparar. Já a segunda é um verbo que pressupõe per se a existência de algo em movimento, tem origem no latim adaptare - “tornar capaz de” e entre seus antônimos o “desacomodar”. Pois bem, se a adaptação implica em  sair  daquilo que está acomodado, é conhecido e confortável, torna-se natural a  sensação de “borboletas no estômago” diante do inédito. A boa notícia é que, aos poucos, no seu tempo, com a rotina e o apoio das mãos que se estendem dentro e fora da escola, as inquietas borboletas, enfim, encontram hospedaria e pousam.

 


Juliana Góis é Orientadora Educacional de Apoio à Aprendizagem no Colégio Rio Branco, psicóloga e psicopedagoga, especialista em Neuropsicologia e mestre em Neurociência. Atua na área clínica e educacional.


Luísa Trindade Genaro - Orientadora educacional do Colégio Rio Branco. Possui licenciatura e bacharelado com atribuições tecnológicas em Química, é pós-graduada em Educação Especial e Inclusiva, e em Gestão Escolar e Educação Ambiental. Pós-graduanda em Neurociência Aplicada à Educação.

 

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