Educador alerta sobre riscos dos ataques virtuais e comentários negativos nas redes sociais

É cada vez mais urgente falar sobre comportamentos agressivos na internet, e seus efeitos colaterais na sociedade.

Nos últimos anos e cada vez mais, o comportamento hater, a “cultura do cancelamento” a intolerância ao diferente ou contraditório, a exposição de fotos, o incentivo a jogos e desafios perigosos e a propagação de fake news tem se embrenhado em uma teia, que além extrapolar os limites virtuais, em muitos casos, configuram crimes cibernéticos.

Todos esses problemas também permeiam o cyberbulliyng – definição para o bullying praticado no ambiente virtual por meio de aplicativos de mensagens, plataformas de jogos e mídiais sociais, com o objetivo de assustar, expor, ofender, isolar, envergonhar e até chantagear vítimas – de todas as idades.

Crianças e adolescentes, por dominarem o uso dessas ferramentas e transitarem facilmente por elas, podem se tornar ainda mais vulneráveis. Tão devastador quanto o bulliyng convencional, esse tipo de experiência pode levar a quadros de baixa autoestima, ansiedade, medo, depressão, embotamento afetivo, fobias sociais e diversos transtornos psicológicos, físicos e até morais e materiais, já que algo compartilhado na internet pode alcançar milhares de pessoas do mesmo meio social e desconhecidas.

Para falar um pouco mais sobre o tema, o pedagogo e professor de Tecnologia e Letramento Digital do Colégio Rio Branco, Jorge Farias, responde algumas perguntas e  atenta sobre a importância de observar o comportamento de crianças e jovens, além de manter uma postura educativa em relação ao uso da internet, com filhos, familiares e alunos.

Como orientar e ajudar as crianças e adolescentes a não se abaterem emocionalmente com comentários negativos, nem cair facilmente em provocações, pegadinhas ou desafios constrangedores nas redes sociais e outros canais?

JF: Primeiro, crianças e adolescentes precisam se sentir protegidos por suas famílias. Conversar sobre os possíveis perigos ao navegar na internet é uma forma de criar esse vínculo de segurança. Entender a rotina dos filhos na Internet também deixará os pais mais seguros. Precisam combinar um método de alerta caso se depararem com situações constrangedoras. Devem ensiná-los a não responder caso a conversa seja ofensiva ou um desafio apareça e a "tirar um print" da tela para enviar aos pais. Ensinar a bloquear conteúdos ofensivos e pessoas nocivas também é um método eficaz. O sentimento de proteção que foi nutrido com a família deixará sempre sua autoestima elevada e os métodos de alerta deverão sempre ser lembrados.

Como a escola e as famílias devem estar atentas a comportamentos diferentes apresentados pelas crianças e jovens?

JF: Quando a autoestima foi prejudicada e eles não se sentem seguros, podem aparecer comportamentos negativos. É importante sempre redobrar a atenção quando notar: agressividade verbal (palavrões, tom agressivo, reações ofensivas aos pais, irmãos e amigos), quando usam o cabelo para esconder o rosto sempre, quando as roupas e decoração são mais sombrias, quando falta paciência para conversar, quando o senso de justiça está desequilibrado (deseja uma punição mais pesada do que a situação exige), e quando há repentina baixa no rendimento escolar, assim como isolamento.

Na sua opinião, atualmente o bullying acontece mais no ambiente virtual ou real, presencial?

JF: No virtual, se caracterizando cyberbullying. A distância e a possibilidade de esconder o próprio rosto e, às vezes, a identidade, torna os praticantes de bullying mais ousados e agressivos, pois têm a sensação de impunidade.

Pode dar alguns exemplos de trabalhos realizados no Colégio Rio Branco sobre o assunto?

JF: São muitas as ações em diversas áreas, mas no 5º ano do Ensino Fundamental, por exemplo, trabalhamos na disciplina Letramento Digital, a programação de uma história no Scratch (linguagem de programação) que aborda fake news e cyberbullying. A professora Vanessa Sobrino, de História, trabalhará racismo neste ciclo com o 7° ano, projeto no qual farei parte, a partir da semana que vem. No 5º ano, também, a professora Teresa Baroquelo tem um grupo de alunos dedicado a pesquisar ações antibullying, do qual sou conselheiro.

Papel da escola

Além das ações citadas pelo professor, o Colégio Rio Branco trabalha com temas trazidos pelos jovens, conflitos e saúde mental em atividades diversas como palestras para as famílias, rodas de conversas e nos componentes curriculares Cotidiano Em Questão (Coquest) e Jovem em Perspectiva para alunos do 9° ano do Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, além de discussões em atividades extracurriculares e projetos como o Coletivo Humana Mente.

Avanços na legislação

- Lei Carolina Dieckmann (nº 12.737/2012): é uma alteração no Código Penal Brasileiro voltada para crimes e delitos virtuais. Com o avanço da tecnologia, a democratização e o acesso facilitado às redes sociais, o sistema judiciário viu a necessidade de tipificar crimes cometidos no ambiente digital. Sancionada em 2 de dezembro de 2012, esse foi o primeiro texto a tipificar crimes cibernéticos, tendo como foco, as invasões a dispositivos que acontecem sem a permissão do proprietário. O nome da lei é uma referência à atriz brasileira, vítima de crime dessa natureza.

- Já a Lei nº 13.185 que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional foi sancionada em 6 de novembro de 2015. Em Parágrafo Único, o documento também especifica que: “Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores (cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial”.

Ambas leis foram sancionadas pela presidente Dilma Rousseff, e, desde então, outros projetos de lei relacionados ao tema têm avançado e tramitam no Congresso Nacional.

 

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