Por Juliana Góis
Somos seres sociais e afetivos, não é novidade a busca constante de interação com nossos pares, bem como a já antiga relação entre nós e os animais. Você tem algum bicho de estimação? Já quis ter um? Já ouviu do seu filho o pedido: “quero ter um cachorro!”. Imagino que muitos responderam sim a pelo menos uma dessas questões. Assim como acredito que quem tem ou já teve a oportunidade de conviver com um animal, independente da espécie, sabe os benefícios dessa relação.
Quando criança eu desejei muito ter um cachorro, até que um dia encontrei um filhote, cheio de pulgas, em uma oficina mecânica. O meu pequeno e doce vira-lata recebeu o nome do grande e imponente São Bernardo do filme “Beethoven, o magnífico”, à época, recém-estreado nos cinemas. Lembro-me que ele uivou alto nas primeiras noites e que em muitas delas eu ia lhe fazer companhia, descobri, então, o que era “sentir falta”. Nós o levamos ao veterinário e colocamos em dia todas suas vacinas: fechei os olhos a cada injeção dada e descobri que algumas dores são para o nosso bem. Depois de algum tempo ele foi morar no sítio, enfim, descobri o que era saudade e o quão bom são os reencontros.
A partir da interação com os animais as crianças desenvolvem responsabilidade, compaixão e empatia. Os laços permeados por afeto são perceptíveis e as demonstrações explícitas de carinho como o rabo que abana ao te ver ou os olhos que fecham quando o pelo é acariciado, ajudam a criança a se sentir querida e a fortalecer uma auto-imagem positiva. Quando um truque novo é ensinado a um cachorro, após diversas tentativas, ela percebe a importância da perseverança; a necessidade de alimentar o peixinho no aquário em horários específicos ilustra de modo simples e prático a importância da rotina.
Os benefícios não se restringem às crianças, se estendem a todas as faixas etárias e são visíveis em diferentes contextos e me arrisco a dizer que talvez você se surpreenda com a variedade de maneiras pelas quais um animal pode vir a melhorar sua saúde física e mental.
A medicina reconhece o bem-estar gerado pela convivência com um animal e, desde 2018, a rede pública de saúde do município de São Paulo permite a entrada de animais de estimação em hospitais para visita a pacientes internados mediante autorização da comissão de infectologia (Lei nº 16.827, de 6 de fevereiro de 2018). Além disso, diversas ações como o Projeto Social do Instituto Cão Terapeuta organiza visitas a instituições que cuidam de crianças, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade.
Existem diversas terapias que se baseiam no vínculo entre pessoas e animais, tanto para o desenvolvimento de habilidades físicas quanto emocionais. Algumas delas envolvem o animal doméstico que convive diariamente com o paciente e outras contam com animais como cavalos (equoterapia) ou até mesmo botos para hidroterapia, como acontece na região da Amazônia.
Diversas pesquisas se propõem a estudar os benefícios dos animais para pessoas com dificuldades de interação social. Em 2013, foi realizada uma revisão de estudos sobre terapia com animais de diferentes espécies (cães, porquinhos-da-índia, lhamas, coelhos e cavalos) para indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e os resultados evidenciaram aumento na interação social e nas habilidades de comunicação, bem como diminuição na gravidade dos sintomas do TEA, no estresse e nos problemas de comportamento.
Contudo, a despeito das evidências no decorrer das últimas décadas apontarem a ajuda oriunda do convívio com animais domésticos para os indivíduos do TEA, devemos lembrar de avaliar todos as aspectos envolvidos em se ter um animal e as particularidades de cada ser: independente de qualquer diagnóstico, cada pessoa é única, assim como sua forma de se relacionar.
Os estudos que buscam compreender o que acontece quando animais treinados são trazidos para ambientes clínicos, como hospitais e asilos, apontam que dentre as maiores vantagens de permitir que as pessoas passem mais tempo com os animais nesses lugares estão a melhora do humor e a redução da ansiedade.
O mesmo padrão de benfazer permeia o cotidiano em uma casa que tem como integrante um bicho de estimação: comportamentos como observar os movimentos dos peixes num aquário, interagir ou brincar com o seu animal e até mesmo aqueles afagos espontâneos oferecidos, por vezes, ajudam a acalmar os ânimos e reduzir a estafa mental. As neurociências nos ajudam a entender porque isso acontece: o nível de cortisol, hormônio do estresse, diminui, ao mesmo tempo que o nível de serotonina, dopamina e ocitocina aumentam, o que favorece a motivação, a sensação de bem estar e de prazer.
Durante a travessia deste período atípico de pandemia, em um estudo realizado no Reino Unido envolvendo mais de seis mil participantes, aproximadamente 90% dos participantes revelaram que seus pets ajudaram a lidar emocionalmente com o isolamento social. Além disso, 96% disseram que os animais colaboraram para a manutenção da rotina de exercícios físicos. Esse último achado nos remete a alguns ganhos secundários que podem existir quando se tem um animal de estimação:
- Aumento do condicionamento físico: Quando você tem um cachorro, por exemplo, é preciso levá-lo para passear e essa caminhada pode ser uma forma de encaixar o exercício físico na programação do dia. Adicione algum jogo no quintal com ele e você ficará ainda mais em forma.
- Aumento da rede social: Ter um pet ajuda você a conhecer novas pessoas. Passear com um animal é quase como uma conversa esperando para acontecer. É comum que as pessoas parem e falem com você quando te veem passeando com ele.
- Estimula a criação de uma rotina: os animais possuem necessidades próprias e algumas delas demandam o seu auxílio, como programar os momentos de alimentação e de cuidados com a higiene.
Por fim, seguem alguns depoimentos de profissionais do nosso colégio que nos oferecem a oportunidade de degustar os benefícios de se ter um animal de estimação:
“Fiona me faz bem pois não importa como foi meu dia, eu sempre posso chegar em casa e receber um carinho especial.” Ana Carolina Viegas Carmo Han, professora de Biologia e coordenadora de projetos.
“Existe uma conexão entre o pet e seus ‘donos’ que transcende o racional. Uma linguagem corporal que relaxa, faz rir e você volta a ser criança. Hoje com minhas filhas adultas, meu pet é o elo que nos une. Tudo gira em torno dela: - Quem deu comida para a Maya?; - Vamos passear com a Maya?; - Vamos dar banho na Maya? Ao mesmo tempo ela sente e cuida quando alguém não está bem e cuida de nós.”
Carla Marquart, orientadora educacional.
“Filhos de 4 patas” como não amar? Aquecem nosso coração, alegram nossos dias, nos acordam fazendo bagunça no meio da noite… Entendem nossos sentimentos e quando mais precisamos estão ali, nos fazendo sentir amados incondicionalmente!"
Marcia Regina Chammas, orientadora educacional.
“Tenho peixes por três motivos. O primeiro deles é porque eu adoro, tem uma questão de prazer de ficar observando as cores, a diversidade, a vida crescendo e dinamicamente se moldando dentro do aquário é muito gostoso, observar quando estão se movimentando e às vezes até quando estão se refugiando nas pedras traz uma paz, uma tranquilidade; o segundo é mais racional: ter peixe me ajuda a ter disciplina, as coisas não acontecem de um dia para o outro num aquário, as coisas boas levam tempo e isso me obrigou a ter disciplina, a cuidar, a alimentar, cuidar dos parâmetros, fazer todo o suporte para que aquilo venha a florescer seis meses, dez meses, um ano depois; e o terceiro é porque me faz recordar do meu pai que já é falecido. Quando eu era mais jovem, adolescente, era um programa, o hobby que tínhamos em casa eu e ele, então ter peixe hoje em dia me traz essa saudosa lembrança dele.” Renato Júdice, diretor da Unidade Higienópolis.
“É especial, maravilhoso, um privilégio. É dar vida para casa, movimento, cheiro e cor. Desde que a Vicky chegou aqui, depois que nosso grande amor, o Billy se foi, a nossa casa é mais alegre, é mais viva, nós somos mais comunicativos um com o outro, nós rimos mais, estamos mais felizes. Nos sentimos mais amados porque a Vicky faz questão de estar conosco, de ser uma sombrinha. E, ao mesmo tempo que nós nos doamos, cuidamos com muito amor, carinho e zelo, ela também cuida de nós.” Vanessa Zitto, professora.
Muitos de nós temos ou já tivemos algum animal de estimação e, instintivamente, sentimos os ganhos a partir dessa relação, o que pode gerar como pensamento automático: “ah, ela é boa para todos”. Porém, é preciso ter consciência de que ter um animal em casa exige uma série de cuidados e responsabilidades. Dessa forma, torna-se imprescindível, conhecer as características e necessidades de cada espécie, refletir se elas são compatíveis com você e seu estilo de vida: seria essa uma boa combinação? Se não for… tudo bem, afinal, sempre existe um outro caminho. Mas, se for… Ah! Nesse caso, assim como nossos colegas, desfrute das delícias propiciadas por esta parceria.
Juliana Góis
Orientadora Educacional de Apoio à Aprendizagem do Colégio Rio Branco. Psicóloga e psicopedagoga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), especialista em Neuropsicologia e mestre em Neurociência pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFMUSP). Atua na área clínica e educacional.
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