Letra bastão, cursiva, “pega” de lápis: por onde começar com meus filhos?


Foto: trabalhos de alunos do Colégio Rio Branco.

Antes mesmo de saber se seus filhos devem utilizar letra de forma (bastão), cursiva, ou apresentam “falha” ao pegar um lápis durante o processo de alfabetização, é importante entender como se dá o desenvolvimento da coordenação motora desde a infância e as condições que podem ser oferecidas em casa para auxiliá-los nesse processo.

A escola exerce um papel crucial para essa finalidade, com as brincadeiras e atividades diversificadas estimula o senso de espaço, movimento e percepção das crianças, mas o ambiente doméstico pode ser, também, um complemento para as propostas já exercidas no espaço escolar.

O que significa coordenação motora?  Como posso auxiliar meus filhos?


Ela diz respeito à capacidade de o corpo realizar movimentos articulados e é o resultado da interação entre os sistemas muscular, esquelético, nervoso e sensorial, possibilitando andar, correr, escrever, pular, pintar e desenhar.

Os movimentos acontecem desde a gestação, mas vão se tornando cada vez mais conscientes e voluntários a partir do momento em que as crianças entram em contato com seu entorno e são desafiadas a se comunicar de alguma forma com ele; como por exemplo, desde começar a pegar os primeiros objetos (brinquedos, chocalho etc) a segurar e manipular objetos maiores e mais pesados, utilizando as mãos para esses fins.

É importante garantir que seus filhos sejam envolvidos e incentivados a desenvolver de maneira adequada a coordenação motora e um dos primeiros passos mais simples seria iniciar pela rotina da vida prática, como escovar os dentes, vestir-se, colocar brinquedos no lugar, guardar sapatos, dobrar a roupa, ajudar na cozinha, entre outras ações.

Cabe lembrar que o desenvolvimento motor -  uma série de alterações em que fazem parte todos os aspectos de crescimento e maturidade dos sistemas do corpo das crianças - é diferente para cada pessoa, sendo necessário o cuidado com o estabelecimento de padrões de comportamento ou de desenvolvimento.

Quais são os tipos de coordenação? Como acontece na escola? O que pode ser feito em casa?


A coordenação por ser classificada em dois tipos:

Coordenação motora fina: é a capacidade de controlar o corpo (envolvimento de pequenos músculos) em movimentos específicos feitos com as mãos e os dedos, como desenhar, pintar e manusear objetos pequenos. Esses movimentos, extremamente pequenos e precisos, requerem alta concentração e boa coordenação de olho e mãos.

Algumas atividades podem ser realizadas pelas crianças diariamente brincando ou cuidando de si mesmas, como: usar lápis de cor, marcadores e giz de cera, massinha de modelar, montar quebra-cabeças, brincar com blocos de montar, amarrar os sapatos, abotoar a blusa, recortar figuras (uso da tesoura), amassar papel.

Essas propostas são previstas e planejadas no currículo do Colégio Rio Branco, desde a Educação Infantil, em que o desenvolvimento motor é priorizado em atividades lúdicas diversificadas na escola ou em atividades independentes em casa (rotinas diárias), a fim de favorecerem, posteriormente, a construção da leitura e da escrita entre outras habilidades.

Alguns exemplos de atividades com foco na coordenação motora fina realizada por alunos do Colégio Rio Branco, em momentos de aulas presenciais:

Outros exemplos podem ser citados em relação às propostas a serem realizadas individualmente, em casa, no ambiente remoto. São as atividades independentes que visam ao desenvolvimento da criança, a partir de experiências diversas, entre elas, as práticas de rotinas diárias.

As crianças aprendem valores como autocuidado e cuidado com os outros, a conviver e a se “corresponsabilizar pela rotina familiar” ao organizarem materiais, quarto, roupas, brinquedos, a cuidarem de plantas, a participarem do almoço, jantar da família, explorando e exercitando receitas, entre outras aprendizagens.

É muito importante destacar que o ambiente em que a criança se encontra deve possibilitar experiências motoras e sensoriais estimulantes e promover a independência na execução das atividades. Nesse sentido, os pais devem cuidar para que, em vez de serem oferecidos alimentos cortados ou descascados, embalagens de alimentos já abertas, possam ser dadas condições em que os filhos exercitem o manuseio e desenvolvam destreza, precisão, agilidade, força, como por exemplo, promover as tarefas cotidianas que dão oportunidade para tal desenvolvimento: amassar a massa para fazer um biscoito ou pizza, mexer bolo com uma colher, abrir caixas de plásticos, abrir tampas de garrafas, estender a roupa utilizando os pegadores, entre outras.

Coordenação motora grossa: envolve habilidades como pular, subir e descer escadas. Está relacionada a grupos grandes de músculos e diretamente ligada à capacidade para realizar atividades esportivas. Até os dois anos de idade o foco tem que ser o desenvolvimento da coordenação motora ampla; após essa idade, é que se inicia o desenvolvimento da coordenação motora fina, que permitirá à criança segurar o lápis de forma adequada, desempenhar tarefas que exijam concentração e atenção com mais facilidade e desenvolver autonomia e confiança sobre o seu próprio corpo. Vale salientar que a prática de esportes pode ajudar a desenvolver essa coordenação motora.

Devo ensinar o meu filho a fazer letra cursiva?


A escrita à mão é muito importante pois implica em aprendizagem de habilidades psicomotoras, além do desenvolvimento da memorização, da compreensão e da psicomotricidade, fundamentais para o desenvolvimento saudável e completo da criança.

Para aprender a escrever, como vimos anteriormente, há necessidade do desenvolvimento da coordenação motora fina desde quando as crianças são pequenas, a partir da coordenação de movimentos mais delicados e complexos.

A letra bastão, por ser mais fácil de visualizar a letra, pelos traços simples e linhas retas, é indicada como processo inicial para crianças em fase de alfabetização, pois essas precisam pensar nas letras necessárias para formar uma palavra.

O aprendizado da letra cursiva (habilidade essencialmente motora) deve ser iniciado depois do processo de alfabetização dos alunos, para que se concentrem mais nas curvas e desenhos das letras sem ter que se preocupar tanto com a construção das palavras. Dessa forma, vão aprendendo a dominar os movimentos que levam à produção das letras – na forma certa, no tamanho certo e, progressivamente, na sequência certa.

Sendo uma atividade motora, a letra cursiva exige treino e prática. Há sequências mais indicadas do que outras, daí a importância desse trabalho ser realizado na escola, em que serão ensinados movimentos corretos das letras, “pega” correta de lápis para que a criança seja respeitada pelo seu ritmo de aprendizagem e se sinta valorizada por suas conquistas.

Dicas para favorecer o desenvolvimento motor em casa: https://www.tempojunto.com/

 


Sueli Marciale - Diretora assistente da Unidade Granja Vianna, do Colégio Rio Branco. Atua especialmente com Educação Infantil e Ensino Fundamental. Psicopedagoga com formação em Letras pela PUC-SP, e especializações em Linguística Aplicada ao Ensino de Letras e Relações Interpessoais na Escola. Possui certificações internacionais e acumula experiência docente e de gestão em renomadas instituições do Ensino Básico ao Ensino Superior.


Bibliografia de apoio:
LE BOULCH, Jean. Desenvolvimento psicomotor, do nascimento até os 6 anos. Porto Alegre, Artmed, 2001.
FONSECA. Vitor da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre. Artmed, 2008.
SOARES, Magda. Alfabetização, a questão dos métodos. São Paulo, Contexto, 2021

Comentar