Deixar uma criança pequena na escola, quase sempre é algo difícil para as famílias no início da vida escolar dos filhos. Esse ano, com o agravamento da pandemia e o isolamento social após 11 meses longe das escolas, não só crianças em período pré-escolar como os adolescentes precisam de um olhar mais atento.
No entanto, para os menores, as primeiras semanas de aula podem ser determinantes para o desenvolvimento da aprendizagem nas próximas etapas, assim como as relações e os vínculos criados com a escola a partir das primeiras impressões e sensações vividas.
Para muitas crianças, a ida à escola é a primeira situação real de “separação” dos pais e do ambiente doméstico, por um período mais prolongado do dia e com rotina diferenciada, o que pode gerar insegurança e ansiedade para todos os envolvidos nesse processo.
O ideal é que a adaptação escolar seja feita de forma gradativa e em parceria com as famílias, apostando em confiança mútua, otimismo, acolhimento e muito carinho.
Em razão das medidas de segurança sanitária impostas pela Covid-19 e do Plano São Paulo, as autoridades determinaram o retorno das aulas de forma contingenciada, ou seja, de acordo com escalas presenciais e porcentagens de alunos por sala, tornando o ensino híbrido uma realidade ainda mais concreta nas escolas em 2021.
Os pais também puderam optar por levar os filhos, ou não, para as aulas presenciais.
Para falar um pouco mais sobre esse tema, a pedagoga e diretora assistente da unidade Higienópolis do Colégio Rio Branco, Valquiria dos Santos Rodrigues, compartilha algumas informações e experiências importantes sobre o retorno:
Valquiria Rodrigues, diretora assistente.
No ano passado, as crianças tiveram um período para adaptação convencional antes do distanciamento social imposto pela pandemia. Quais as diferenças em 2021?
VR: A primeira grande diferença é a necessidade que as crianças têm de estarem com outras crianças. O período de isolamento fez com que ficassem por 11 meses sem esse contato, num apartamento e com o convívio muito intenso com os adultos. Tanto para as crianças quanto para os próprios adultos, voltar à escola está sendo um momento de alegria e podemos perceber as famílias mais tranquilas, incentivando a criança a ficar na escola e brincar com os amigos. Esse ano estamos tendo um processo de adaptação muito mais tranquilo do que nos anos anteriores, no sentido de a criança estar mais feliz na escola, então temos menos choro e menos a necessidade das famílias terem uma pessoa acompanhando esse processo de adaptação. A sensação é que as crianças foram se preparando ao longo da pandemia, para o retorno a esse ambiente, queriam muito estar na escola.
Qual a importância da adaptação escolar nos ambientes híbrido e remoto, e como as crianças se comportam?
VR: O ambiente presencial favorece a vivência e a convivência entre as crianças e estabelece vínculos com os pares e os professores. Isso, sem dúvida, o ambiente presencial possibilita de uma forma inigualável. Quando olhamos para o ambiente remoto, temos a sensação que esse convívio e vínculo não está sendo criado, mas também está, só que de outra maneira. Em 2020 tivemos algumas experiências de crianças que se matricularam ao longo da pandemia e a surpresa, positiva, foi que até as crianças pequenas de 2 e 3 anos iniciaram a construção de vínculos no ambiente remoto e quando estiveram em atividades extracurriculares presenciais na escola, apesar de não conhecerem o espaço físico, estavam muito tranquilas pelo que foi desenvolvido a distância. Esses ambientes se complementam e isso é muito interessante observar. Tivemos crianças participando de atividades de acolhimento, de integração, oficinas de leitura, de matemática, onde as crianças puderam estar presencialmente num espaço que nunca tinham vivido e foi muito positivo.
Como está sendo a adaptação no ambiente presencial, esse ano? Qual foi a experiência nesses primeiros dias de aula?
VR: A adaptação em 2021 está acontecendo de forma mais tranquila e efetiva, porque as crianças foram estimuladas e preparadas pelas famílias a estarem em um ambiente novo para muitas delas: o presencial. Está sendo muito positivo o fato de estarem agora em um ambiente preparado, organizado, com profissionais que estão estimulando a aprendizagem e o desenvolvimento das competências, trabalhando com os campos de experiência na Educação infantil e com os componentes curriculares no Ensino Fundamental. Temos percebido crianças e famílias com mais autonomia, apenas uma ou duas famílias com representantes acompanhando esse processo de adaptação, por sala.
Como as famílias podem fazer a diferença nesse processo?
VR: Houve um convívio tão intenso nessa relação mãe e filho, pai e filho, que as famílias também perceberam a importância que é sair daquela bolha familiar e interagir com outras crianças. Então, as famílias podem fazer a diferença estimulando os filhos a estarem na escola, vivenciar uma rotina diferente, a participar das atividades, possibilitar cada vez mais que a criança seja independente e evitar fazer tudo por ela em casa. Essa é a primeira grande diferença que temos entre o ambiente familiar e acadêmico, na escola, a equipe estimulará cada vez mais as crianças para que consigam fazer um movimento de escolha livre, no qual ela escolherá o material vai usar, qual espaço da sala vai ocupar, onde se sentará: no tapete, na cadeira, quer fazer uma pintura... então, isso é um ambiente propício para a construção da independência. Se a família estimula a criança a pegar e guardar os brinquedos, escolher entre duas ou três opções de atividades, fazer escolhas, é um movimento importante. Respeitar o tempo das crianças para as ações ou tarefas do dia a dia e não fazer por ela, é um exercício difícil, mas interessante para as famílias ajudarem a escola nessa adaptação.
No geral, como o primeiro contato com a escola, seja no ambiente presencial ou remoto, influenciará a vida escolar das crianças?
VR: São vários os objetivos da vida escolar da criança, mas podemos destacar os principais: a socialização, o desenvolvimento e a formação, dentro dos aspectos emocionais e cognitivos. Quando pensamos na escola como uma segunda é porque é o segundo espaço que a criança ficará por mais tempo. A rotina da escola ajudará na formação e na construção da independência, na sua organização e no seu desenvolvimento geral. A escola é o primeiro círculo de amigos, e é a construção de um novo círculo de amigos para as famílias também, outro ponto importante. Os pais dos amigos se tornam amigos, formando uma rede de relacionamentos importante nessa dinâmica social.
Qual a importância da volta às aulas presenciais para o desenvolvimento e a saúde mental das crianças em tempos de pandemia?
VR: É poder voltar a se relacionar, brincar, interagir, aprender. Os retornos às aulas presenciais impactam muito no desenvolvimento de crianças de 2 a 5 anos. Elas precisam de um tempo para atenção e concentração, por isso o presencial ajuda a usar estratégias físicas e possibilita uma infinidade de recursos, que o ambiente remoto não propicia. Quando penso na importância do presencial, penso na melhor forma de desenvolvimento da criança na Educação Infantil. Em relação à saúde mental, na escola existe a possibilidade de mediação dos conflitos, como a divisão de um brinquedo, já que a criança até agora só tinha as coisas dela, o brinquedo dela, a casa, o papai e a mamãe. Hoje, eles estão com outros e precisam aprender regras e entender que elas são estabelecidas e combinadas para o melhor convívio em grupo. A escola tem a possibilidade de fazer esse trabalho de formiguinha que é mostrar a importância de se colocar no lugar do outro. A empatia, as habilidades socioemocionais não cognitivas e a criatividade são desenvolvidas assim. Presencialmente, a possibilidade é maior do que no ambiente remoto, onde há uma interação em que nos sentimos perto, mas estamos longe. Na escola podemos trabalhar gradativamente todas as conquistas e desafios propícios para cada faixa etária e etapa do desenvolvimento.
No Colégio Rio Branco, a Educação Infantil é oferecida para crianças a partir de um ano e meio de idade, além do Período Integral Modular Bilíngue, nas unidades Higienópolis e Granja Vianna, com uma proposta pedagógica inovadora e dinâmica, além de espaço, infraestrutura e horários adequados para cada faixa etária. Todos os protocolos de segurança da instituição foram desenvolvidos em parceria com o Hospital Sírio-Libanês.