Quarentena: a importância dos cuidados com a saúde mental para crianças, adolescentes e toda a família

Por Juliana Góis

Diante do avanço do novo coronavírus (COVID-19) ao redor do mundo, inclusive no Brasil, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia e o governo, estado de alerta. Nesse cenário, diversas medidas estão sendo adotadas na tentativa de conter o surto, desde recomendações de higiene até a necessidade de restrição de convívio social.

A partir das considerações feitas pela OMS em prol de apoio ao bem-estar mental e psicossocial durante o período de surto da COVID-19, destacamos as orientações gerais como:

» A COVID-19 não está associada a qualquer etnia ou nacionalidade. Seja empático com todos que de alguma forma são afetados, sem discriminação.

» Evite ler, ouvir ou assistir notícias que o deixam ansioso e angustiado. Procure informações de fontes confiáveis e atente-se a possibilidade de disseminação de informações falsas e alarmistas (“fake news”). Lide com fatos e não com rumores.

» Procure atualizar-se das informações em horários específicos durante o dia, uma ou duas vezes. O acesso ao fluxo contínuo das notícias pode aumentar o índice de preocupação.

» Proteja-se e seja solidário. Ajudar o outro, sem se colocar em risco, em um momento de necessidade pode ser benéfico para ambos. Algumas pessoas, por exemplo, tiveram como iniciativa se oferecer para fazer as compras no supermercado para idosos.

» Compartilhe histórias positivas e de esperança, como por exemplo, a de pessoas que se recuperaram.

 

No dia a dia escolar, as crianças e adolescentes estão inseridos em um contexto repleto de estímulos onde aprendem, interagem, brincam, formam vínculos e desenvolvem estratégias para lidar com problemas. Contudo, na maior parte das cidades brasileiras, seguindo recomendações das secretarias de Saúde e Educação, as atividades escolares presenciais foram suspensas. Trata-se de um cenário atípico com muitas e repentinas mudanças. Sabemos que cada um reage a situações de tensão de maneira singular, devendo ser considerados aspectos como faixa etária, características individuais, fatores culturais, dentre outros.

Durante esse período, podemos ter que lidar com diferentes reações, tais como: aumento da ansiedade, retraimento, maior irritabilidade, comportamentos disruptivos ou agitação. As consequências emocionais de longo prazo ainda são desconhecidas, mas por ora é importante garantirmos acolhimento, escuta, carinho e atenção.

Dentro das casas estamos frente a frente com mais um desafio: como manter e promover saúde mental em tempos de quarentena? Aos pais e cuidadores de crianças e adolescentes, seguem algumas sugestões que podem e devem ser adaptadas de acordo com a realidade de cada família:

» Ajude a encontrar formas de expressar sentimentos como medo e tristeza. No caso das crianças, atividades lúdicas como desenhar, brincar e jogar podem facilitar este processo e criar um ambiente seguro para que ela se comunique gerando alívio.

» Mantenha ou crie novas rotinas familiares. Durante o período de confinamento é importante proporcionar atividades variadas e compatíveis com a sua idade. Algumas escolas, como a nossa, estão dando sequência ao ano letivo através de atividades de ensino diversificadas e criativas à distância, permitindo a continuidade do processo de aprendizagem.

» Solicite apoio para a arrumação da casa, dentro das possibilidades de cada um. Manter-se ativo é importante, além disso um ambiente limpo e organizado favorece de forma indireta a sua organização interna.

» Discuta a COVID-19 de maneira honesta e com linguagem apropriada. No caso de preocupação falar sobre o tema pode ajudar a diminuir a ansiedade. Vale lembrar que as crianças observam os comportamentos e reações dos adultos em busca de referências sobre como gerenciar suas emoções em situações difíceis.

» Incentive e/ou proporcione o contato com os amigos e demais familiares. Mesmo com as restrições de contato presencial, é possível e favorável manter a interação através de ligações ou mesmo vídeo chamadas. Aproveite o que a tecnologia tem a oferecer.

Lembramos que uma alimentação saudável, a manutenção de horários de sono, assim como a realização de atividades físicas também são indicações feitas com o intuito de auxiliar nos momentos de estresse. Por fim, sejamos todos resilientes. Juntos iremos superar as dificuldades dessa fase e retirar dos momentos de desafios, lições fortalecedoras para o futuro.

 

 
 Juliana de Oliveira Góis - Psicóloga e orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco.

Publicado em 24/03/2020
no Blog do Colégio Rio Branco no Estadão

 

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