Medicalização na Infância e na Adolescência

O Encontro com a Direção do mês de março apresentou aos pais o desafio de refletir sobre o tema “Medicalização na Infância e na Adolescência”. Os encontros ocorreram nos dias 25 e 26, nas unidades Granja Vianna e Higienópolis, reunindo pais de todos os segmentos.

Sem tirar a importância e os benefícios que a Ciência trouxe para diagnosticar e tratar uma série de doenças ou distúrbios existentes, refletimos sobre como, no dia a dia, a escola e família podem atuar no sentido de colaborar para que as crianças e jovens tenham, cada vez mais, experiências produtivas e saudáveis.

Para provocar o debate, assistimos ao vídeo “Medicalização da vida escolar”, do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro. Embora seja uma mensagem angustiante, permite uma série de reflexões. Com certa dose de ironia, o vídeo fala da relação das pessoas com a doença e com o uso de medicamentos: “Ninguém sai de uma farmácia sem ter comprado, no mínimo, cinco medicamentos prescritos pelo médico, ou pelo vizinho, ou por ele mesmo. Ir à farmácia, hoje, substitui o saudoso hábito de ir ao cinema, ou ao Jardim Botânico”.  Assista.

Em grupos, discutimos o tema a partir das seguintes perspectivas: contexto em que vivemos, modelo do adulto, dinâmica familiar e papel da escola.

Confira os resultados das discussões.

Contexto em que vivemos

Nosso desafio é resistir à medicalização excessiva e buscar resolver de diferentes formas os problemas que surgem.

Vivemos hoje diversas situações estressantes, há muitas pressões para que sejamos bem sucedidos e dedicamos muita energia em ‘fazer mais e fazer certo’. Na Grande São Paulo existe, ainda, o estresse de grandes deslocamentos em nossa rotina. Esse contexto é potencializado pelo momento econômico atual.

Acabamos não tendo paciência com nós mesmos e nem com quem deveríamos ter, e buscamos soluções imediatas para os problemas, como nos remédios, mesmo tendo consciência de que é uma armadilha.

Outro aspecto que merece destaque é que os próprios médicos acabam adotando essa postura. Vemos pediatras que oferecem medicamentos mesmo em questões simples. Sabemos que há uma indústria envolvendo a questão da medicalização e já saímos do médico com as amostras ou com o cartão do laboratório.

As farmácias brasileiras passam a adotar, cada vez mais, um padrão norte americano, tornando-se um centro de compras.

Perdemos a tradição de buscar ações alternativas antes do uso de medicamentos, como um chá, um banho, e coisas desse tipo.

Nesse contexto, as próprias crianças aprendem a pedir medicamentos, ao invés de, as vezes, entender melhor seus sintomas físicos ou emocionais.

Modelo de adulto e contexto familiar

Pais e adultos devem ter um olhar atento às indicações de reclamação dos filhos, buscando informações do que está por trás das queixas antes de medicar.

Nós, adultos, sofremos com essa pressão e ficamos, muitas vezes, sujeitos a ela. Mas sabemos que temos o papel de passar mensagens e dar exemplos aos filhos.

A questão da medicalização é complicada, pois temos a preocupação de não deixar nossos filhos sofrerem. Assim, muitas vezes, damos um remédio diante de qualquer dor para aliviar o sintoma e não buscamos outras alternativas.

Vale destacar que, muitas vezes, a angústia da dor é mais dos adultos do que das próprias crianças.

Assim, a rotina das famílias diante da medicalização e dos adultos diante da intolerância ao desconforto têm reflexos nas crianças e jovens. O próprio lugar em que os remédios são armazenados nas residências é um exemplo desse aspecto.

Os adultos devem fazer um controle da medicalização e não a apologia, sabendo diferenciar os momentos em que o remédio se torna necessário. Portanto, dar atenção para os filhos e alunos, apoia-los e oferecer uma vivência saudável são ações que podem contribuir para uma medicalização consciente.

Papel da escola

Acreditamos que a diversidade é a matriz do desenvolvimento das crianças. Então, queremos formar melhores pessoas para o mundo.

É essencial destacar que no Colégio Rio Branco, dentro da sala de aula, criamos estratégias para trabalhar com todos os tipos de criança, pois a diversidade é um valor para nós.

Vivemos situações delicadas, com a incidência significativa de transtornos diversos, mas a clareza da situação aliada a um trabalho consistente, apoiado por laudos de especialistas, podem oferecer qualidade ao trabalho educacional.

Existem situações em que a medicação é indicada e necessária. E sabemos, também que cabe aos educadores, na sala de aula, fazer com que as crianças e jovens tenham diversos tipos de oportunidades para concentrarem-se e participarem das aulas.

O Colégio Rio Branco sempre demanda dos alunos a superação, acreditando que as variáveis não podem funcionar como muletas para que a criança e o jovem não se acomodem em determinado estágio.

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