Ponto de Vista

OECD publica os primeiros resultados do PIAAC: O PISA para adultos

Por Esther Carvalho

Recentemente, a OECD, Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, inaugurou uma nova série de publicações denominada OECD Skills Outlook (OECD Visão Geral de Competências), baseada no pressuposto de que o mercado de trabalho e as economias mudaram muito com as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) e que sociedades hiperconectadas e economias, cada vez mais, baseadas no conhecimento, demandam novas competências de seus cidadãos, de modo que sejam, plenamente, produtivos e participativos nesse novo contexto de rápidas mudanças.

Em 2013, foi publicada a primeira pesquisa de competências de adultos denominada PIAAC (Programa Internacional de Avaliação das Competências Adultos). O estudo tem, como público-alvo, pessoas de 16 a 65 anos, residentes no país na época da coleta dos dados, independentemente de nacionalidade, cidadania ou nível de linguagem. Mede as denominadas competências em processamento de dados, que envolvem o nível de proficiência em: letramento, ou seja, leitura e compreensão na língua materna, cálculo e resolução de problemas em contextos altamente tecnológicos. São mensuradas, também, competências genéricas como cooperação, comunicação, organização do próprio tempo e capacidade de aprender.

Participaram da primeira rodada cerca de 166.000 pessoas de 22 países da OECD, como: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Holanda, Noruega, Polônia, República Eslovaca, Espanha, Suécia, Reino Unido (Inglaterra e Irlanda do Norte) e Estados Unidos. Foram convidados dois países parceiros: Chipre e Rússia.

Esse estudo vem somar-se ao PISA, Program for International Student Assessment (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), já aplicado pela OECD há mais de uma década, em cerca de 70 países, subsidiando a formulação de políticas públicas visando ao aprimoramento da qualidade da educação. Esse indicador concentra-se nos conhecimentos e competências de jovens de 15 anos de idade. O Brasil é o único país sul-americano que participa, desde a primeira edição, do programa. Tornou-se, agora, em outubro, o primeiro país não membro da OECD a compor o Conselho Diretor do PISA.

Competências têm impacto nas chances de os indivíduos transformarem suas vidas, terem prosperidade e se sentirem parte da sociedade. Cidadãos com baixa proficiência em letramento e cálculo tendem a ser deixados para trás na sua participação econômica e social. Da mesma forma, países com cidadãos com baixa proficiência perdem competitividade num mundo cuja economia está baseada em competências.

Segundo Angel Curria, secretário geral da OECD, esses estudos permitem mostrar aos países onde estão, aonde precisam chegar e como chegar se pretendem desenvolver cidadãos plenamente engajados numa economia global.

Alguns pontos chaves são apresentados para o desenvolvimento de políticas: o primeiro deles é a combinação entre educação básica, de alta qualidade para todos e oportunidades e incentivos para que os cidadãos continuem a desenvolver proficiência em leitura e cálculo, seja no trabalho ou em outros ambientes. O segundo aspecto é garantir que as oportunidades de aprendizagem ao longo da vida seja acessível a todos, de maneira que cidadãos mais velhos, que não tenham se beneficiado de um sistema educacional de melhor qualidade, possam suprir o desenvolvimento de competências em qualquer tempo. O terceiro é garantir a todas as crianças uma consistente educação inicial, dando especial apoio às crianças de condição socioeconômica desfavorável. O PISA tem mostrado o impacto positivo da educação inicial de qualidade, possibilitando o desenvolvimento de competências necessárias para o século 21, em crianças oriundas de diferentes contextos nos diversos países.

A Finlândia, destaque em todas as versões do PISA, tem atraído a atenção do mundo quanto à qualidade de seu sistema educacional, caracterizado pela qualidade, equidade e eficiência. Agora, assume, também, destaque nos resultados do PIAAC.Em recente palestra proferida no II Seminário Educacional sobre a Finlândia, ocorrido no Colégio Rio Branco, a Ministra da Educação e Ciência, Krista Kiuru mostrou a importância de se atuar nas duas frentes: educar, com equidade e qualidade, todas as crianças e cuidar dos adultos para que continuem se desenvolvendo e retornando para a sociedade em crescimento econômico e social. Baseados nos resultados do PISA e, agora, do PIAAC, os finlandeses encontraram um caminho que promete ser bastante promissor: educar, especialmente, as mães, pois elas têm importância fundamental na qualidade da educação de seus filhos.

 

Ponto de Vista
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco