Ponto de Vista

Educar no e para o mundo digital

Por Esther Carvalho

Vivemos imersos num mundo de estímulos de diferentes naturezas ampliados pelas tecnologias da informação e da comunicação. Crianças e jovens, em especial, parecem realizar diversas coisas ao mesmo tempo e, certamente, estão se relacionando, aprendendo, conhecendo e construindo o mundo de formas distintas daquelas que adultos viveram em sua infância e adolescência.

O ambiente virtual possibilitou o surgimento do que o filósofo Pierre Levy denominou de cibercultura. Essa é interpretada como um movimento revolucionário da civilização, estabelece novas formas de interagir, de aprender, de ensinar, de criar. Demanda, portanto, novas competências para a formação de indivíduos e cidadãos éticos e produtivos no mundo contemporâneo. Identidade, integridade, produtividade e cidadania são construídas, em parte, pela forma das pessoas lidarem, individual e coletivamente, com esse complexo contexto.

Segundo Howard Rheingold, professor da Universidade de Stanford, em seu livro Net Smart: how to thrive online (Inteligente na rede: como ser bem sucedido online) "O futuro da cultura digital - sua, minha, nossa - depende de quão bem nós aprendamos a lidar com essas mídias que têm infiltrado, distraído, amplificado e complicado nossas vidas."

Nesse sentido Rheingold destaca cinco habilidades importantes para se ter um uso competente, inteligente, humano e consciente do ambiente virtual: atenção, participação, colaboração, consumo crítico da informação ( detecção de "lixo") e inteligência na rede ( network smarts).

Para ele, é necessário tomar nas mãos esses fluxos de conhecimento, atenção e mídia de maneira saudável, flexível e consistente, sejam elas pessoas mais velhas, que vivem um mundo de profundas mudanças ou mais jovens, que estão imersos num ambiente em que as regras estão sendo escritas.

Para as instituições de ensino e educadores surge a demanda de compreender e incorporar esses conceitos em seu cotidiano e proporcionar experiências que possibilitem que seus alunos se desenvolvam nessas habilidades. Dentre eles, destaca-se atenção no ambiente virtual ou "infoatenção".

Estudos da neurosciência vieram mudar a ideia de multitarefa. Diferentemente do que se acredita, não existe, na imensa maioria das pessoas, processamento paralelo do cérebro. Observa-se, em especial em crianças e jovens, o hábito da realização de varias atividades simultaneamente. Eles ouvem música, jogam video game, interagem com vários amigos nas comunidades virtuais e pretendem estudar. Embora sejam muito ágeis nesse conjunto de atividades, o que existe é a rápida troca entre uma tarefa e outra. O que cérebro faz, com rapidez, é reorientar a atenção. Essa rápida troca tem impacto mental importante, degradando a performance em cada uma das tarefas realizadas. Para tornar-se produtiva, a pessoa necessita estar vigilante sobre como sua atenção muda frente aos diferentes estímulos. Essa atenção pode ser treinada e aprendida.

Formar o cidadão digital é função de todos. Rheingold utiliza a metáfora de fumantes passivos para sinalizar que, embora os adultos não percebam, suas formas de utilizar as mídias sociais e a tecnologia também modelam o comportamento de crianças e jovens. Nesse sentido, os mais velhos devem aprender a utilizar as tecnologias de forma correta para ajudar as novas gerações a viver a cibercultura de maneira inteligente, humana e acima de tudo, consciente.

 

Ponto de Vista
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco