Perfil: Diretora completa 55 anos de amor ao Rio Branco
Uma trajetória de vida inteiramente dedicada a formação de crianças e jovens
“Quando cheguei ao Colégio Rio Branco, em Higienópolis, a escola ainda cheirava a cimento fresco”. Assim começava a história profissional de uma das pessoas mais queridas da instituição: Maria Olívia Valentini Montenegro.
Maria Olívia formou-se em magistério, por vocação, em 1960. No ano seguinte, aos 18 de idade, foi convidada a integrar a equipe de professores do já renomado Colégio Rio Branco, já que a instituição ganhava novo endereço, mudava-se da Rua Dr. Vila Nova para a Avenida Higienópolis, na capital paulista. Ainda sem experiência iniciou sua carreira como professora auxiliar em uma turma do primeiro ano do ensino primário, no período da tarde. Oportunidade que abraçou com total empenho.
Em pouco tempo, mesmo com a recente experiência adquirida em sala de aula, dona Maria Olívia ou professora Maria Olívia, como é carinhosamente chamada, ganhou confiança e mostrou toda a sua habilidade e seriedade para lidar com as mais diferentes questões pedagógicas e administrativas que envolvem o cotidiano de uma escola.
Desde o início, dedicou-se à assistência da então diretora à época, Soledade Santos, a quem se refere com enorme carinho e gratidão, trabalhando e aprendendo sobre questões de secretaria, gestão, famílias e alunos que passavam pela instituição, até o final da década de 1980.
A partir de 1989 e até os dias de hoje, aos 73 anos de idade, assume seu lugar à frente da direção da tradicional Unidade Higienópolis, ao lado da diretora-geral do Colégio Rio Branco, Esther Carvalho e da também diretora de unidade, Valquíria Rodrigues.
Memória viva da instituição, Maria Olívia acompanhou ao longo dessas mais de cinco décadas, as mudanças globais na educação, nas famílias e nos perfis dos estudantes. De dentro da escola vivenciou importantes períodos e transformações históricas, políticas e sociais que foram se refletindo no contexto educacional e na realidade da instituição e do país.
Ayrton Senna, Ruth Rocha, Dan Stulbach, e vários outros artistas, assim como a família Ermírio de Moraes e o empresário Benjamin Steinbruch são alguns dos nomes de ex-alunos que a diretora menciona ter passado pelo Colégio Rio Branco, com forte atuação na sociedade
“É uma alegria e um orgulho muito grande reencontrar nossos ex-alunos, já que a escola atua na formação pedagógica, moral e de caráter. Nós trabalhamos com o todo e quando vemos nossos alunos se destacarem é uma realização porque nos esforçamos para esse sucesso “, explica emocionada. “Temos médicos, advogados, e em todas as profissões temos ex-alunos com grande destaque”, completa.
Várias gerações de pais, filhos e agora netos estudam no Colégio Rio Branco, o que colore as lembranças e o dia a dia da diretora. O denso caldo cultural que constitui a cidade de São Paulo também faz com que ela se refira, com orgulho, a importantes aspectos como a forte presença e importância da comunidade judaica no colégio, ao longo das décadas, por meio de suas crianças; as comunidades asiáticas e alunos das mais diferentes nacionalidades, sempre em sinergia com a realidade e crescimento da cidade, fatores que foram dando corpo à pluralidade e a valorização da diversidade como principais vertentes educacionais da instituição.
O colégio também percebe as mudanças nos perfis das famílias, o que a faz aprender muito ainda hoje “isso aqui é uma escola de vida”, traduz. Do alto de sua larga experiência, a receita que dá para pais, famílias e educadores é bastante alinhada com os da instituição que ela mesma ajudou a consolidar: acolhimento e respeito.
“Em primeiro lugar, temos que acolher e respeitar. O respeito é a base de tudo, e é o que sempre falo para os alunos: quando há respeito nas relações, tudo caminha bem”, explica.
Humilde, mas firme, Maria Olívia se define como uma pessoa resiliente. “Tropeços eu tive muitos, mas aqui aprendi a viver a vida. Em uma escola aprende-se com os acertos, aprende-se com os erros, aprende-se com o outro…”, ensina.
Dentro da profissão, o que mais gosta é do contato com as crianças, de verificar e acompanhar o aprendizado, o progresso, o desenvolvimento e crescimento dos alunos. Diariamente ela gosta de observar o ir e vir dos estudantes, e é comum vê-la com sua habitual postura altiva e elegante, mas com o olhar contemplativo e de ternura para com as crianças, que a correspondem com sinceridade.
Sobre saudades, ela diz sentir muitas sobre muitas épocas e pessoas, como a professora Vilma Rocha, que atuou ao seu lado durante 48 anos, tendo sido, inclusive, ambas contratadas no mesmo dia. “Além de muito querida e minha amiga até hoje, a Vilma foi muito importante para o Colégio Rio Branco, já que também assumimos a diretoria ao mesmo tempo, ela cuidando da parte pedagógica, e, eu, da administrativa. Foi uma longa parceria que deu muito certo”, conta com admiração.
Também cita outros colegas, profissionais e os próprios alunos que a cada ano se formam e despedem-se da instituição rumo a novos caminhos de vida.
Como desejo de educadora e sobre o atual cenário da educação, Maria Olívia gostaria que as condições e formação global dos professores fossem melhores e que um maior anseio pela prática de ensino voltasse a ser despertado, como antes, naqueles que buscam por uma profissão. “Ainda existem pessoas idealistas que procuram lecionar, o que é muito importante, apesar das dificuldades. A base para um país é a educação”, afirma.
Viúva desde 1995 e mãe de três filhos formados, teve com a família a mesma dedicação e cuidado que teve com a profissão, já que para ela, ambas sempre se fundiram, se ajudaram e se completaram em harmonia.
No último dia 15 de fevereiro, para alegria daqueles que têm ou tiveram o privilégio de conhecê-la no convívio da prática e no aprendizado educacional, e como motivação para educadores de diferentes instituições, Maria Olívia Montenegro completou mais um ano de trabalho no Colégio Rio Branco, com a mesma energia, otimismo, sagacidade, boa memória e amor já demostrados em seu primeiro dia como professora, naquela tarde de uma quarta-feira, de 1961.