Saúde mental de nossas crianças e jovens: desafios e caminhos

by Colégio Rio Branco 23. outubro 2018 14:22

Saúde mental na adolescência é um tema complexo que desafia as famílias e as escolas. Nesse contexto, o Colégio Rio Branco convidou o Dr. Rodrigo Bressan, médico psiquiatra e especialista na área para conversar com pais e educadores, nos dia 02 e 04 de outubro, nas unidades Granja Vianna e Higienópolis.

O Dr. Rodrigo Bressan tem PhD pelo King’s College London, é professor livre docente da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e do King’s College London. Atualmente, é o presidente do Y-MIND – Instituto de Prevenção de Transtornos Mentais, onde coordena o programa ‘Cuca Legal’ em escolas; coordenador de pesquisa do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento e coordenador do Projeto Conexão – mentes do futuro, com mais de 300 publicações científicas internacionais na área.

Para entender a saúde mental

Fazem parte da saúde mental os momentos de estresse, tensão, medo e sofrimento, quando ocorrem de forma leve e com duração reduzida. Essas situações sessam quando o estímulo é interrompido, ou seja, com o fim do fator de sofrimento, a sensação de tristeza também se encerra.

Insônia, irritabilidade, tensão e medo, com sensação de sofrimento moderado, duração média e impacto moderado na vida, já se configuram como problemas de saúde mental.

Sintomas repetitivos e com incapacidade de superação, causando grande sofrimento, com duração prolongada e impacto significativo, são indicações de transtornos mentais.

Impactos das doenças na população

Antigamente, utilizava-se o índice de mortalidade para se mensurar as estatísticas sobre saúde mental. Atualmente, um importante indicador para mensurar a saúde da população é a perda de dias de produtividade, entendendo que os transtornos mentais podem afetar a capacidade de lidar com as rotinas do cotidiano.

Nesse sentido, depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade têm impactos na sociedade, por diminuírem a produtividade.

Destaque sobre os transtornos mentais:

 

  • São comuns: atingem uma em cada cinco pessoas;
  • São incapacitantes: incapacitam uma em cada 20 pessoas;
  • Têm início precoce: 50% dos transtornos começam antes dos 14 anos e 75% antes dos 24 anos;
  • Impactam nos índices de mortalidade: suicídios, homicídios e acidentes;
  • A depressão é a maior causa de incapacitação no mundo, na faixa etária entre 10 e 50 anos, sobretudo na idade escolar.

 

A importância do diagnóstico e do encaminhamento

Assim como o coração, o cérebro também é impactado com as experiências que cada pessoa vive ao longo de sua vida: complicação obstétrica, questões genéticas, traumas, entre outras situações. A grande diferença é que, na imensa maioria dos casos, o médico psiquiatra passa a atuar somente quando ocorre o primeiro episódio de crise.

Segundo o Dr. Rodrigo Bressan, as complicações podem ser mapeadas antes do episódio. O desafio está na complexidade do cérebro: 80 bilhões de neurônios, 100 trilhões de sinapses. Um transtorno psiquiátrico causa desregulamento funcional no padrão das redes de neurônios, e não em um local específico do cérebro.

Vale destacar que os educadores têm um olhar privilegiado na identificação dessas questões em crianças e jovens. Pelo convívio intenso com os alunos, os educadores têm condições de fazer uma comparação normativa entre crianças de mesma idade, ajudando a identificar possíveis transtornos. Além disso, a partir de um diagnóstico, os professores têm elementos para acolher essas questões, buscando criar condições adequadas e específicas para a sala de aula.

Desenhando um cenário, o Dr. Rodrigo Bressan, a partir de estudos, destacou que em uma sala de aula de 30 alunos, considerando crianças de 7 a 14 anos, pelo menos um aluno tem depressão, um ou dois alunos têm transtorno de ansiedade, um ou dois alunos têm transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.

O tratamento dos problemas de saúde mental passa pela identificação e encaminhamento para as diversas possibilidades de ação - psicoeducação, mudança de hábitos, psicoterapia e medicação.

Saúde mental de nossos adolescentes

Os problemas de saúde mental têm grande impacto na vida dos adolescentes: queda no desempenho escolar e na assiduidade, aumento da evasão escolar, da violência, do abuso e dependência de drogas. Além disso, se configuram como fatores de risco para a perda de tempo de vida produtiva e para o suicídio.

É de extrema importância não banalizar os sintomas. Tristeza, irritabilidade e perda de prazer nas atividades são fatores necessários, associados à fatores como pensamentos negativos recorrentes, dificuldade de raciocínio, pensamentos sobre morte e catastrofismo.

Para lidar com essas questões, o Dr. Rodrigo Bressan destacou condutas diante de cada situação:

 

  • Pensamentos negativos sobre si: é preciso valorizar as capacidades e estimular o acolhimento pelo grupo;
  • Dificuldade de raciocínio, concentração, indecisão: avaliar possíveis adaptações se houver um diagnóstico;
  • Pensamentos sobre morte: estabelecer uma hierarquia de contatos para possíveis situações de crise;
  • Ruminação de pensamentos ruins: oferecer questionamentos realistas, observando aspectos positivos.

 

Em relação ao suicídio, segundo dados apresentados pelo Dr. Rodrigo Bressan, houve um aumente dos casos, mas esse cenário não se configura em uma epidemia. Para refletirmos sobre o tema, o especialista levantou alguns pontos importantes: falar sobre o tema não dará a ideia ao adolescente; é possível impedir o ato mesmo quando a pessoa está decidida; a pessoa que fala sobre se matar ou que tenta se matar com meios menos agressivos está pedindo ajuda; a maneira como a mídia aborda o tema pode influenciar a população.

Para refletir

As questões de saúde mental devem ser tratadas para desmistificar o tema e diminuir o estigma, que atrapalha a procura por ajuda. A intervenção precoce é essencial para o encaminhamento adequado. É importante destacar que os problemas de saúde mental são as doenças crônicas dos jovens, com impactos na produtividade e qualidade de vida, podendo ser identificados e tratados.

Na escola

A palestra com o Dr. Rodrigo Bressan foi mais uma ação do Colégio Rio Branco para promover reflexões qualificadas sobre um tema tão importante como a saúde de nossas crianças e jovens.

No dia a dia da escola, toda a equipe de educadores e profissionais está envolvida no cuidado com os alunos e isso também passa pela atenção individual e a eventuais sinais de intervenções específicas.

Os educadores participam de encontros com especialistas – psicólogos e psiquiatras, que formam mesas de debate sobre o tema, com a condução de nossas orientadoras de apoio à aprendizagem, além das reuniões de formação que integram a rotina da escola.

As crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I participam do programa Com Vivência, que busca desenvolver desde cedo as competências socioemocionais e as habilidades para falarem de seus sentimentos nas diversas situações do dia a dia.

Os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental participam, de forma integrada ao currículo, do módulo interdisciplinar Jovem em Perspectiva, que aborda temas como cultura da vaidade e do consumo, autoimagem, bullying, redes sociais, drogas, sexualidade, projetos de vida e muitos outros, unindo as áreas de Redação, Artes e Espanhol.

A parceria com as famílias completa e qualifica esse trabalho, pois educadores e responsáveis podem, juntos, fortalecer a saúde mental de das crianças e jovens.

Confira o vídeo do Encontro com a Direção com o Dr. Rodrigo Bressan.

Fortalecimento de nossos filhos e alunos para lidar com a questão do uso de drogas lícitas e ilícitas

by Colégio Rio Branco 14. setembro 2017 15:24

Frente aos desafios da prevenção ao uso de drogas, o Colégio Rio Branco promove um ciclo de reflexões sobre o tema, envolvendo toda a comunidade escolar. A ação teve início no Encontro com a Direção realizado nos dias 12 e 14 de setembro, em uma conversa com os pais sobre as ações da escola e o papel dos educadores e das famílias diante do uso de drogas lícitas e ilícitas.

Confira o vídeo sobre o Encontro com a Direção.

Para dar continuidade às reflexões, o Colégio Rio Branco convidou uma referência na área de prevenção ao uso de drogas, o Dr. Anthony Wong, médico pediatra, professor de Toxicologia Clínica e de Farmacovigilância e Chefe do Centro de Assistência Toxicológica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Saiba mais sobre as palestras com o Dr. Anthony Wong.

Medicalização na Infância e na Adolescência

by Colégio Rio Branco 24. abril 2015 15:07

O Encontro com a Direção do mês de março apresentou aos pais o desafio de refletir sobre o tema “Medicalização na Infância e na Adolescência”. Os encontros ocorreram nos dias 25 e 26, nas unidades Granja Vianna e Higienópolis, reunindo pais de todos os segmentos.

Sem tirar a importância e os benefícios que a Ciência trouxe para diagnosticar e tratar uma série de doenças ou distúrbios existentes, refletimos sobre como, no dia a dia, a escola e família podem atuar no sentido de colaborar para que as crianças e jovens tenham, cada vez mais, experiências produtivas e saudáveis.

Para provocar o debate, assistimos ao vídeo “Medicalização da vida escolar”, do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro. Embora seja uma mensagem angustiante, permite uma série de reflexões. Com certa dose de ironia, o vídeo fala da relação das pessoas com a doença e com o uso de medicamentos: “Ninguém sai de uma farmácia sem ter comprado, no mínimo, cinco medicamentos prescritos pelo médico, ou pelo vizinho, ou por ele mesmo. Ir à farmácia, hoje, substitui o saudoso hábito de ir ao cinema, ou ao Jardim Botânico”.  Assista.

Em grupos, discutimos o tema a partir das seguintes perspectivas: contexto em que vivemos, modelo do adulto, dinâmica familiar e papel da escola.

Confira os resultados das discussões.

Contexto em que vivemos

Nosso desafio é resistir à medicalização excessiva e buscar resolver de diferentes formas os problemas que surgem.

Vivemos hoje diversas situações estressantes, há muitas pressões para que sejamos bem sucedidos e dedicamos muita energia em ‘fazer mais e fazer certo’. Na Grande São Paulo existe, ainda, o estresse de grandes deslocamentos em nossa rotina. Esse contexto é potencializado pelo momento econômico atual.

Acabamos não tendo paciência com nós mesmos e nem com quem deveríamos ter, e buscamos soluções imediatas para os problemas, como nos remédios, mesmo tendo consciência de que é uma armadilha.

Outro aspecto que merece destaque é que os próprios médicos acabam adotando essa postura. Vemos pediatras que oferecem medicamentos mesmo em questões simples. Sabemos que há uma indústria envolvendo a questão da medicalização e já saímos do médico com as amostras ou com o cartão do laboratório.

As farmácias brasileiras passam a adotar, cada vez mais, um padrão norte americano, tornando-se um centro de compras.

Perdemos a tradição de buscar ações alternativas antes do uso de medicamentos, como um chá, um banho, e coisas desse tipo.

Nesse contexto, as próprias crianças aprendem a pedir medicamentos, ao invés de, as vezes, entender melhor seus sintomas físicos ou emocionais.

Modelo de adulto e contexto familiar

Pais e adultos devem ter um olhar atento às indicações de reclamação dos filhos, buscando informações do que está por trás das queixas antes de medicar.

Nós, adultos, sofremos com essa pressão e ficamos, muitas vezes, sujeitos a ela. Mas sabemos que temos o papel de passar mensagens e dar exemplos aos filhos.

A questão da medicalização é complicada, pois temos a preocupação de não deixar nossos filhos sofrerem. Assim, muitas vezes, damos um remédio diante de qualquer dor para aliviar o sintoma e não buscamos outras alternativas.

Vale destacar que, muitas vezes, a angústia da dor é mais dos adultos do que das próprias crianças.

Assim, a rotina das famílias diante da medicalização e dos adultos diante da intolerância ao desconforto têm reflexos nas crianças e jovens. O próprio lugar em que os remédios são armazenados nas residências é um exemplo desse aspecto.

Os adultos devem fazer um controle da medicalização e não a apologia, sabendo diferenciar os momentos em que o remédio se torna necessário. Portanto, dar atenção para os filhos e alunos, apoia-los e oferecer uma vivência saudável são ações que podem contribuir para uma medicalização consciente.

Papel da escola

Acreditamos que a diversidade é a matriz do desenvolvimento das crianças. Então, queremos formar melhores pessoas para o mundo.

É essencial destacar que no Colégio Rio Branco, dentro da sala de aula, criamos estratégias para trabalhar com todos os tipos de criança, pois a diversidade é um valor para nós.

Vivemos situações delicadas, com a incidência significativa de transtornos diversos, mas a clareza da situação aliada a um trabalho consistente, apoiado por laudos de especialistas, podem oferecer qualidade ao trabalho educacional.

Existem situações em que a medicação é indicada e necessária. E sabemos, também que cabe aos educadores, na sala de aula, fazer com que as crianças e jovens tenham diversos tipos de oportunidades para concentrarem-se e participarem das aulas.

O Colégio Rio Branco sempre demanda dos alunos a superação, acreditando que as variáveis não podem funcionar como muletas para que a criança e o jovem não se acomodem em determinado estágio.