A privacidade dos filhos e o cuidado dos pais

by Colégio Rio Branco 30. maio 2015 11:19

Devo mexer nas coisas do meu filho? Eu tenho o direito de abrir a mochila do meu filho?Meu filho pode mexer nas minhas coisas? Como lidar com os segredos? O que é privacidade no ambiente virtual?

Quando pensamos sobre privacidade – nossa e de nossos filhos e alunos – somos tomados por diversas dúvidas e angústias. Estivemos reunidos, nos dias 27 e 28 de maio de 2015, nas unidades Granja Vianna e Higienópolis, para trocar ideias e reflexões sobre o tema, que é complexo, desafiador e inesgotável.

A grande novidade deste post é a contribuição de dois pais, Marcos Salvucci e Lúcia Helena S. Onelli, por meio de um depoimento, que pode ser lido no final desse texto.

Privacidade no contexto atual

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Ao pensar sobre o contexto atual, é preciso entender que, com a tecnologia e nossa íntima relação com ela, somos invadidos o tempo todo, via telefone ou internet, e nossas ações são amplamente monitoradas e registradas. Além disso, tudo o que fazemos online pode alcançar um número grande de pessoas – muitas vezes por que queremos e outras sem que percebamos, assim vivemos com a sensação de que não estamos anônimos.

Quando éramos crianças, nossas fotos viviam em álbuns de família só vistos pelos mais próximos, hoje as crianças já nascem sendo expostas nas redes sociais pelos adultos que a cercam.

Hoje, fala-se de uma “Adultescência” para demonstrar como os adultos se comportam na Internet, ou de um “jeito Facebook de viver”, em que as pessoas mostram a imagem que querem sobre a sua realidade nas redes sociais.

Privacidade em nossas famílias

Para trabalhar as questões que envolvem privacidade, é preciso ter clareza dos valores e crenças praticadas em nossas famílias, para garantir a coerência interna e dar segurança para as crianças e jovens.

O acompanhamento dos adultos, fazendo o contra discurso e estabelecendo as regras, faz toda a diferença na formação das crianças e jovens, pois nossos filhos irão transgredir, como parte do processo de crescimento e amadurecimento.

Conversar e educar crianças e jovens é o melhor caminho, construindo diálogo e colocando regras e limites.

Mas o conflito se amplia quando precisamos tomar decisões, como: olhar ou não o diário, abrir ou não a mochila, permitir ou não que o filho tenha a chave do quarto. Todas essas dúvidas são permeadas pelo reconhecimento da importância de se preservar a intimidade dos filhos, ainda mais quando se tornam adolescentes.

O direito de mexer ou não nas coisas de nossos filhos, por exemplo, se estabelece pela responsabilidade dos pais de cuidar. Ou seja, se existe a necessidade de preservar e proteger seu filho, é importante agir, dentro da dinâmica de cada família. Não existe uma fórmula, mas existe a certeza de que devemos fazer o que é melhor para nossos filhos.

Depoimentos

Novamente, o Encontro com a Direção produziu resultados muito satisfatórios e úteis para todos os que tiveram presentes. O tema abordado foi a Privacidade dos filhos X As ações da família e os cuidados necessários.

A grande preocupação externada pela maioria dos presentes esteve relacionada com as mídias sociais e suas diversas utilizações, tanto as boas, como as que são prejudiciais. Ficou claro que esse recurso é extremamente útil para pesquisas, atualização de informações e inclusive integração social do adolescente. Por outro lado, a grande preocupação está relacionada ao número de horas em que se utilizam esses meios, que podem atingir períodos muito longos e prejudicar, inclusive, o desempenho escolar.

Além disso, todos se preocupam muito com a facilidade que se tem para obter informações pessoais dos adolescentes, sendo que eles não estão preparados para lidar com pessoas mal intencionadas. Um dos participantes, inclusive, alertou que os marginais, estão utilizando esses meios para organizar sequestros, roubos e prostituição, sempre se aproveitando da inexperiência dos pequenos internautas.

Foi bem discutido, também, a exposição dos adolescentes nas redes sociais, onde eles acabam incluindo fotos e outras informações, sem se preocuparem que, em algum momento, presente ou futuro, isso poderá ser alvo de pesquisas e macular sua imagem. É importante alertar que, uma vez postada, a informação fica para a eternidade nas redes, mesmo que se apague a publicação. Caso alguém tenha acessado e guardado a mesma, isso poderá ser replicado indefinidamente. Temos casos recentes que levaram jovens ao suicídio por não suportarem a pressão desta exposição. Exposição essa que tem levado os jovens a sofrerem uma grande pressão com a preocupação de serem alguém nas redes, baseando-se no número de seguidores que tem.

Após os presentes abordarem com profundidade o tema, chegamos a conclusão de que apesar de toda a tecnologia envolvida nas redes sociais, a boa e velha conversa é o melhor caminho para atingir um bom termo de utilização das redes. Ficou muito claro que somente definindo limites e regras de utilização e acesso, acordadas entre ambos, é possível gerar uma utilização segura e preservar a privacidade na vida dos adolescentes. Chegamos novamente ao ponto em que a grande responsabilidade de educar e formar as crianças está com os pais, que, em algum momento, é quem deve definir as regras de atuação dentro das suas residências.

Saio muito satisfeito desse encontro, exatamente como tenho saído dos anteriores, com a satisfação de termos produzido muita informação e caminhos que podem ajudar a escola e os presentes no dia a dia com os nossos filhos. Tenho um grande amigo que usa uma expressão que traduz os encontros: “Perdeu quem não esteve presente!”.

Marcos Salvucci

Além dos limites e "puxões de orelhas", nós, pais, devemos tentar nos aproximar dos filhos, mantendo espaço para um diálogo aberto, mostrando interesse em conhecer os gostos e anseios, aumentando sua autoestima e nosso vínculo, gerando confiança mútua.

Lúcia Helena S. Onelli

Saiba mais

Leia o artigo da revista Scientific American Brasil, que traz reflexões sobre privacidade.

Why do you put photos of your children on Facebook? - Artigo de Jeremy Goldkorn.

Por que eu apaguei fotos e vídeos dos meus filhos da internet - artigo de Ryan McLaughlin.